ZÉ DE CAZUZA
No Portal de Gravatá, acompanhado da Melba, comemorando meu setentenário, fui apresentado pelo Eduardo e Fernando a um paraibano repentista pra lá de arretado, 84 anos, de memória extraordinária, de nascimento José Nunes Filho, de consagração nacional Zé de Cazuza.
Para os mais jovens ainda não devidamente antenados no universo do Repentismo Nordestino, apresento Zé de Cazuza, baseado na apresentação feita por José Rabelo de Vasconcelos em seu livro Poetas Encantadores, editado pela Gráfica Marcone, Campina Grande, já em 3ª. edição revista e ampliada. Nascido em 13 de dezembro de 1929 na Fazenda Boa Vista, Monteiro, Paraíba, estudou Zé de Cazuza apenas um ano numa escola rudimentar, assistindo pela vez primeira, aos seis anos, uma cantoria realizada por Severino Lourenço Pinto, um seu conterrâneo, que se fazia acompanhar de Antônio Marinho do Nascimento, de São José do Egito.
Segundo Rabelo, Zé de Cazuza tem “estatura mediana, cabeça meio achatada, testa larga, olhos castanhos, ombros um pouco derreados, braços longos, mãos delizadas e nervosas, fala e voz firmes claras, sorriso simples e espontâneo, passos largos e seguros”. E diz mais: “Mentalmente, é uma pessoa superdotada. Sua inteligência, sua vontade e sua sensibilidade estão acima da média. Tem plena consciência disto. É nobre e digno. Sabe, sem arrogância, de seu valor e de sua importância na cultura de seu povo e de sua região”. E nele ainda se manifestam três características: uma memória fenomenal, acurada capacidade crítica e gigantesca sensibilidade poética. Graças à sua prodigiosa memória, tem o dom de decorar o melhor da produção dos seus colegas, desde os tempos onde ainda não existiam os recursos tecnológicos hoje imperantes.
Sempre apoiado pelos filhos e pela esposa Duca Moura, mais de 50 anos de vida conjugal, aos primeiros Zé de Cazuza faz apresentação versejada: “Tem Antônio Tadeu que é o primeiro / Tem a Neide Maria que venero / E depois vi nascer José Romero / Desvelando outro amor tão verdadeiro / Tem Luiz, o maior como troveiro, / Felizardo, poeta, e Antenor / Tem Marcondes um bom compositor/ No baião e no xote se projeta / Se de fato eu gerei tanto poeta / Agradeço ao Divino Criador”.
Certa feita, no Recife, foi apresentado a um casal francês, cuja mulher se chamava Bucê. E logo a saudou com toda sabedoria: “Eu vou convidar Bucê / Uma distinta pessoa. / Perdoe do pobre poeta / Meu repente, minha loa, / Mas seu nome tira um fino /Numa coisa muito boa”.
Guardarei com apreço o livro do Zé de Cazuza, uma enciclopédia de motes e repentes. A sua dedicatória – Ao ilustre Fernando Gonçalves, professor e jornalista de vôos condoreiros, com meu abraço –, datada de 16 de março de 2013, jamais a esquecerei. Foi bênção de um nordestino poeta muito do arretado!! E sempre recordarei para meus amigos todos a definição contida numa das páginas do livro: “O poeta é quem mergulha / Num mundo mais diferente / Como a rolinha que arrulha / Sobre o cipreste pendente / Diz lendas dos luminares / Dos verdejantes palmares / Das sombras do arrebol / Das aragens congeladas /Que soluçavam prostradas / Na sepultura do sol”.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 05.04.2013)
Fernando Antônio Gonçalves