REFLEXÃO SEMANAL:

UMA PAPO SEMPRE ARRETADO

Outra vez aceito um amável convite de um João Silvino da Conceição cada vez mais Catedrático de Coisas da Vida, para uma conversa encervejada com muito milho e forró. O papo, sereno e sincero como sempre, girou sobre o atual todo nacional. Revigora-me sempre o excelente tirocínio desse “menino” de quase setenta e tantos anos, a entender mais de vida comunitária que muito gênio metido a pesquisador do cotidiano brasileiro. Suas argutas análises, menosprezados os linguajares herméticos e internéticos, revelam um acentuado grau de maturidade, um nível de conscientização muito acima da média, uma disposição incomum para permanecer ao lado das transformações, muito embora não venha perdoando, ultimamente, os comportamentos idióticos de alguns parlamentares da ala tida e havida como não-conservadora.

Com cautela e não menos entusiasmo, anotei algumas das suas ponderações, eivadas todas de muito humor e uma exemplar fascinação pelo futuro, para ele bem melhor que o passado, a revelar postura de quem adquiriu sólida maturidade cidadã ao longo de uma bem saudável existência. Vale a pena aqui reproduzi-las:

– “Quando eu era rapazola eu me sentia sabedor de tudo. Ao ficar mais velho, fui percebendo que não sabia de quase nada. E aí, sim, descobri que a Vida também educa, encurtando o nosso desconhecimento”;

– “Nestes tempos brabos, nunca é demais lembrar que sempre houve tempo brabos como estes”;

– “Não sei respeitar as pessoas que não sabem reconhecer seus erros. São covardes, porta-estandartes de uma frouxura que não é nordestina nem brasileira. Aliás, nem é digna da raça humana”;

– “Enxergar a necessidade de mudar os rumos do desenvolvimento nacional não é da exclusividade de nenhum doutor especialista. Basta a gente prestar mais atenção e começar a fazer as coisas que estão erradas de uma maneira correta, sempre testando e assuntando”;

– “Se você estudar direitinho o passado, deixará de repeti-lo mais adiante”;

– “À beira do abismo, só há um modo de continuar seguindo adiante: é dando um passo para trás para continuar pelejando”;

– “O dinheiro é muito parecido com estrume. Se ele não ficar bem espalhado, fede muito.”

Não adianta choramingar, tal e qual bode embarcado, continuando a explorar a miséria de milhões, fingindo-se de bonzinho e caridoso, só para aparecer nos programas radiofônicos e televisivos. Ou pertencer a algumas das organizações registradas em cartórios, governamentais ou não-governamentais, que se interessam bastante em manter vivamente acesa a chama da miséria nacional, posto que a perpetuidade da indigência brasileira beneficia seus associados, alguns deles até sinceros portadores de autenticadas carteirinhas militantes.”

– “Mister se faz silenciar pela conscientização diuturna dos mais lúcidos os que apregoam como verdadeira a tese de que qualquer pessoa, ainda que coberta de razão, tem o direito de fazer tudo o que lhe vier na telha, depois cobrando apoio e solidariedade dos demais, igualmente vítimas.”

– “É fundamental, inadiável mesmo, proclamar alto e bom som que há armadilhas postas e bem postas nos quatro cantos do país, para que os politicamente míopes se estatelem, lambuzados ficando de cabo a rabo, principalmente o rabo, posto que de “mel manobrista” não entendem patavina.”

O professor Pedro Demo, um dos mais brilhantes pensadores educacionais deste país, é quem matou a cobra e mostrou o pau, que matou a venenosa: “O técnico também é mestre de sua própria justificação. Justifica com a mesma sabedoria por que fez e por que não fez; por que não disse o que teria dito, e por que teria dito o que não disse; por que fez o possível e por que precisa ganhar mais para ser eficiente.”

E o Betinho, irmão do Henfil, tinha razão plena: “Somos cidadãos de um único mundo e num único tempo e país. É fundamental apoiar tudo o que nos leva à democracia e resistir por todos os meios a tudo o que nos impeça de chegar lá pelo caminho da inteligência, do diálogo e da luta firme por construí-la com a participação ativa do conjunto da sociedade e formas mais conscientes e inovadoras de mobilização popular.”

No mais, segundo o João já na despedida, é querer enfiar o IOF no fiofó de toda gente brasileira.