REFLEXÃO SEMANAL:

SOBRE OS AMANHÃS DO MUNDO

Com a instantaneidade comunicacional dos atuais fatos e feitos acontecidos nos quatro cantos do planeta, evolucionários alguns e catastróficos outros, discute-se bastante, nos meios analíticos, sobre o atual NA – Nível Abismológico do planeta. E com o recente apagão cibernético, quando um comando errôneo de um sistema gigantesco provocou um FRT – Foderoso Rebuliço Terrestre, seguramente superado em curtíssimo tempo, e também a desistência de reeleição de Joe Biden, serão efetivadas mil e tantas análises sobre as futuras eras, com novos fatos e feitos prováveis, parecendo até reproduzir parte do preconizado por George Orwell no seu notável 1984, recentemente reeditado pela Editora LeYa do Brasil.

Sábado passado, no Dia da Amizade, fui dar um abraço fraterno nos meus amigos Helen, César e Igor, na Editora Vozes, localizada bem junto da Universidade Católica de Pernambuco, na rua do Príncipe, no Recife. Lá me deparei com um livro que possuía na contracapa um parágrafo inicial que logo me chamou a atenção, por resumir o assunto tratado no volume. Ei-lo:

Um dos povos mais nômades da Terra, que sempre se considerou vítima das atrocidades, massacres, genocídios, parece ter deixado de lado sua generosa contribuição à cultura e à ética universalista e passou a se identificar com a linguagem da força, da dominação, do supremacismo étnico.” E o último parágrafo da contracapa explicitava o objetivo da análise feita: “Escrito em meio à turbulência do presente, talvez se encontre aqui uma brecha para pensar os dilemas que extrapolem em muito o destino singular do povo judeu.”

Logo no primeiro parágrafo da Introdução, o livro me deixou com uma vontade imensa de não largá-o: “O massacre perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro contra civis israelenses e a Hecatombe que Israel lançou em seguida contra a população palestina de Gaza escancararam as vísceras desse conflito que já dura mais de cem anos. Além das bombas, explodiram os corações, os consensos, as acomodações coloniais vigentes até recentemente.”

O livro comprado: O JUDEU PÓS-JUDEU: JUDAICIDADE E ETNOCRACIA, Bentzi Laor e Peter Pál Pelbart, São Paulo, n-1 edições, 2024, 224 p.

Um dos autores se declara israelense, ativista, cético e pessimista (Bentzi Laor), enquanto o outro pretende ser um judeu pós-judeu (Peter Pál Pelbart). Um mora em Israel e o outro reside no Brasil, e aproveitaram uma amizade de décadas, consolidada através de longas conversas remotas, para comentar os desmoronamentos das suas esperanças de amanhãs orientais sem rupturas regionais.

As duas questões centrais das suas conversas: a. Era inevitável que a autovitimização virasse um componente central da subjetividade judaica? b. Quais fatores internos e externos ao que Hannah Arendt chamou de judaicidade (Jewishness) produziram uma tal reviravolta?

Os autores explicam suas conversas/análises: “Precisávamos entender como o povo mais desterritorializado da história viu seu rosto inteiramente reconfigurado a partir da reterritorialização na chamada Terra Santa, e seguir as implicações dessa reviravolta.”

Páginas que, lidas, entendidas e bem debatidas, vacinam contra as antipatias dos que militam e aplaudem nas partes envolvidas.

PS. Com Biden renunciando, viva a Inteligência Feminina norte-americana!! Trumpalhadas, jamais!!!


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social