UNIVERSIDADE PARA PERNAMBUCO 21
Em 2022, certamente com programação festiva e sem subfaturamento, comemoraremos duzentos anos da independência do Brasil. De país com “complexo de vira-latas”, como proclamava o pernambucano Nelson Rodrigues, e repleto de sabidos e sabidões, cínicos dilapidadores do erário público, alcançamos certo reconhecimento no cenário mundial, muito embora inúmeros problemas ainda nos atormentem, inclusive o da melhoria substancial da qualidade do nosso ensino superior. Cujas carências e desafios não devem ser ofuscados por imediatismos irresponsáveis ou omissões dos poderes públicos, desatentos aos desencantos crescentes de uma juventude que anseia por melhores amanhãs acadêmicos, com níveis de desenvolvimento técnico-científico que não maculem a dignidade nacional.
Em nossa região, com a fase economicamente claudicante em que se encontra o Estado de Pernambuco, o terceiro grau ainda se encontra em estágio muito aquém do ideal. Por iniciativa dos dirigentes universitários, como alerta estratégico, deveria ser obrigatória a entrega, para os aprovados nos vestibulares, de um panfleto similar ao Mapa do Fracasso, de Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia. Onde estariam ressaltados os balizamentos que precipitaram o mercado mundial num despenhadeiro em 2008 e 2010, principalmente o norte-americano. Parâmetros fatídicos que alertariam os novos acadêmicos para descaminhos letais que conduzirão os desatentos para percursos profissionais e acadêmicos nulificantes, causando desesperos existenciais, desumanizações e despolitizações. Ei-los: 1. Pensar em curto prazo – Não projetar, nem raciocinar para além de cinco anos; 2. Ser obsessivo – Ter como objetivo ganhar sempre, sem considerar os limites para os ganhos financeiros; 3. Acreditar que existe sempre alguém mais tolo do que você – Desprezar os outros, porque “sempre haverá alguém, inclusive ele um dia, suficientemente estúpido para só perceber o que está acontecendo quando for tarde demais”; 4. Acompanhar a manada – Não ouvir as vozes discordantes, que precisam ser ridicularizadas e silenciadas; 5. Generalizar sem limites – Criar preconceitos e condenar ou louvar instituições e pessoas por critérios difusos e subjetivos, sempre bajulatórios; 6. Seguir a tendência – Procurar ver o que está dando certo, copiando acriticamente e esperar que os resultados se repitam; 7. Jogar com o dinheiro dos outros – Arriscar progredir com o capital alheio.
A dinamicidade universitária por que passa Pernambuco provocará certamente, com a distribuição do panfleto, um viés positivo, favorecendo a emersão de iniciativas estruturadoras: ampliação da criticidade cidadã, contemporaneidade dos conhecimentos técnicos e humanísticos, ampliação da democracia universitária sem populismos eleitoreiros, fortalecimento cognitivo complementar dos ingressos através das cotas étnicas e sociais, construção de bibliotecas e ampliação sistemática dos seus acervos com a contratação de profissionais qualificados, consolidação de uma política pública de ensino a distância de qualidade, seleção pública de quadros docentes e administrativos com níveis salariais adequados, agressividade editorial, erradicação das temporalidades docentes e administrativas pela efetivação de concursos públicos, e a consolidação dos centros universitários regionais, respeitadas as vocações de cada uma das áreas geográficas.
Em época de generalizada passividade comunitária como a que estamos vivenciando, urge um planejamento estratégico que não seja vago nem fantasioso, tampouco meramente carimbológico, que não obstaculize decisões sementeiras, nem favoreça a diluição demagógica dos objetivos estabelecidos. Em toda universidade ou instituição de ensino superior do Estado de Pernambuco, o como começar não deverá ser viabilizado de uma única maneira. Cada uma deverá preservar suas peculiaridades, que exigirão procedimentos específicos, capazes de proporcionar um aproveitamento ideal entre talento e experiências locais.
Na construção de horizontes universitários promissores para Pernambuco, todo cuidado é pouco com os medíocres. Na definição de José Ingenieros, médico psiquiatra argentino já eternizado, autor de O Homem Medíocre, no Brasil editado pela Juruá, “o homem medíocre é uma sombra projetada pela sociedade; é por essência imitativo e está perfeitamente adaptado para viver em rebanho, refletindo as rotinas, preconceitos e dogmatismos reconhecidamente úteis para a domesticidade. Assim como os seres inferiores herdam a ‘alma da espécie’, o medíocre adquire a ‘alma da sociedade’. Sua característica é a de imitar a quantos o rodeiam, pensar com a cabeça alheia e ser incapaz de formar ideais próprios”.
Necessitamos, através das múltiplas maneiras de debater e deliberar, bem equacionar as diretrizes alavancadoras para o ensino superior pernambucano: Qual é a missão do ensino superior estadual?; Como bem diferenciar erro de negligência?; Que iniciativas poderão a curto e médio prazos serem tomadas diante das mudanças velozes que estão se processando na década atual?; Como implementar nosso planejamento estratégico com maturidade, sem as fobias advindas da idiótica dicotomia direita-esquerda? Como ser dirigentes conscientes, sem bajulações e subserviências?; Como reconhecer o desconhecido, sempre se vendo como um eterno aprendiz, sabendo bem diferenciar aprender e apreender? Que razões mais substantivas exigem ações sem procrastinações?; Como explicitar nossas inquietações propositivas, nunca nos comportando tal e qual aquele cego num quarto escuro procurando um gato preto que lá não mais se encontrava?; e até quando poderemos conservar, em nosso sistema universitário público, o título de Ensino Superior, diante de iniciativas outras que evoluem com mais rapidez e efetividade?
É dever de todos combater a “cegueira do progresso”, expressão feliz de Adorno, evitando a transformação da vida universitária brasileira em espetáculo e consumo circenses, favorecendo a conscientização de uma sociedade que ainda não questionou porque, no ranking mundial da educação, o Brasil se encontra numa muito vexatória colocação.
Não teria chegada a hora de se estruturar, no Poder Executivo de Pernambuco, uma Secretaria de Educação Superior, com seu Conselho de Educação Superior, desafogando a Secretaria de Ciência e Tecnologia, possibilitando que ela siga adiante com seus dinamismos próprios em prol de um Ensino Técnico e de uma C&T voltada para os amanhãs que necessitamos em todos os nossos setores econômicos? Tal como fez o Estado de São Paulo, numa iniciativa eminentemente catapultadora?
PS. No Dia dos Namorados, nesta segunda 12, confesso publicamente os meus dois amores institucionais: a Fundação Joaquim Nabuco e a FCAP-Universidade de Pernambuco.
(Publicado em 12.06.2017 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br.)