UMA LUZ NO CAMINHO


No seu livro Concepção Dialética da História, o italiano Antônio Gramsci escreveu: “Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas originais: significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, socializá-las por assim dizer, transformá-las portanto em base de ações vitais, em elementos de coordenação e de ordem intelectual e moral. O fato de que uma multidão de pessoas seja levada a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato ‘filosófico’ bem mais importante e original do que a descoberta, por parte de algum ‘gênio’, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais”. E o professor Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas da Universidade Paris VIII, percebeu a necessidade de historiadores, administradores, gestores de empresas, cientistas sociais e educadores ampliarem seus caminhares profissionais, apreendendo as aceleradas mudanças acontecidas nos mais diferenciados campos do saber humano. Particularmente, as geradas pelo fortalecimento das democracias e pela revolução tecnológica.

Através de debates com seus alunos universitários, Boniface elaborou o livro Compreender o Mundo, agora editado no Brasil pela Editora Senac-SP. Uma excelente leitura, sem jargões complicados nem definições reducionistas, para todos aqueles que envolvidos estão nas discussões sobre os amanhãs brasileiros, particularmente dirigentes, parlamentares e homens públicos ansiosos por uma “enxergância técnico-cultural-científica mais taluda”, que reduza as fragilidades dos seus entendimentos, ruminantes em algumas personalidades.

Na Nota da edição brasileira, o Senac ressalta que o trabalho do professor Pascal não pretende ter a ambição de um compêndio erudito, daqueles que servem apenas para ostentações em estantes dos fingidamente contemporâneos.O objetivo do livro é ser um facilitador do conhecimento acerca dos evolucionais cenários mundiais, favorecendo uma compreensão integrada das atuais forças envolvidas.

No prefácio, o autor afirma que as questões internacionais não são apenas assunto para especialistas que se julgam os únicos capazes de assimilar suas interfaces. Segundo ele, uma das maiores emoções sentidas aconteceu por ocasião de uma participação sua num auditório de populares, quando um deles declarou: – Com o senhor é fácil, nós compreendemos!” E ele tinha simplesmente decodificado para a platéia algumas questões que sobrepairam sobre o cotidiano do mundo: Em que mundo vivemos?; Quais são as relações de força internacionais que estão sendo moldadas sob nossos olhos? Quais os grandes desafios globais contemporâneos e quais as ameaças que devemos enfrentar nos próximos anos e décadas? Quais são os atuais debates ideológicos que estão emergindo nos cenários internacionais?

De parabéns o Senac-SP, por favorecer um sem-número de pessoas, inclusive estudantes universitários, que buscam respostas para suas perplexidades, holofotando seus caminhares, tornando-se mais “situados e datados” como dizia Paulo Freire, pernambucano que se tornou Cidadão do Mundo, para orgulho dos seus irmãos nordestinos, radicalmente brasileiros, todos latinos, universais acima de tudo.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 16.11.2011
Fernando Antônio Gonçalves