UM SANTO FILHO DE DEUS


Quando me defronto com um fenômeno mórbido anunciado pela mídia – pedofilia, por exemplo, que é um dos mais terrificantes, a exigir punições exemplares para seus praticantes -, busco encontrar o reverso da medalha, um fato dignificante no mundo contemporâneo. E um feito histórico, por mim ainda não conhecido, me foi enviado interneticamente pelo Arão Parnes, um amigo-irmão hebraico, fortalecedo minha confiança nos destinos de uma humanidade que se encontra em crise numa pós-modernidade ainda distanciada de uma ética efetiva.

E o fato deve ser contado para todos aqueles que ainda imaginam que santidade somente pode ser atribuída por instituição religiosa, após tramitação de longo percurso, inúmeras vezes procrastinada por interesses múltiplos, nem sempre dignos de aplausos. E para os que ainda se encontram esquecidos de uma solidariedade para com todos os seres humanos, independente de etnia, classe social, gênero, opção sexual e religiosa, ideologia, escolaridade e fixação geográfica.

Que os leitores de ALGOMAIS leiam com atenção o texto abaixo, compilado do Google, com as reduções necessárias:

No outono de 1938, muitos europeus estavam embalados em complacência pelo primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, que imaginava ter pacificado Adolf Hitler, entregando-lhe um grande pedaço da Tchecoslováquia, em Munique, final de setembro. Winston Churchill, que iria suceder Chamberlain, em 1940, acreditava no contrário. Assim também ocorreu com Nicholas Winton, 29 anos, um corretor de Londres.

Tendo feito muitas viagens de negócios para a Alemanha nos anos anteriores, Winton estava bem ciente sobre judeus presos, perseguidos e espancados. Em 9 de novembro de 1938, criminosos nazistas tinham destruídos sinagogas, residências e empresas, assassinando dezenas de judeus em toda a Alemanha, ratificando intenções criminosas.

Nicholas Winton tinha planejado uma viagem de esqui no final do ano para a Suíça com um amigo, mas foi convencido por ele no último momento para ir até Praga, porque o amigo tinha algo urgente para lhe mostrar: o problema dos refugiados. Lá, Winton visitou os campos de congelamento. E o que ele viu despertou profunda compaixão: familiares de órfãos e de crianças de pais já encarcerados ou mortos, tentando por seus filhos fora do perigo. Todos já tinham percebido a sanha assassina do nazismo.

Nicholas Winton poderia ter ignorado a situação, prosseguido suas férias na Suíça, voltando para a vida confortável que ele deixou para trás. Mas ele sabia que havia urgência. E ele conseguiu salvar quase 700 crianças da morte nos campos de concentração nazista.

Durante os primeiros nove meses de 1939, organizou o transporte de crianças para a Grã-Bretanha, beneficiando 664 jovens, dos quais 90% eram judeus. Um novo grupo, com quase 200 crianças e adolescentes, deveria partir no dia 3 de setembro, mas a guerra eclodiu. E todo o grupo, logo depois, foi enviado para os campos de concentração, sendo barbaramente assassinado.

Apesar de todo o seu empenho, Nicholas Winton permaneceu no anonimato por quase meio século. Nem as crianças por ele salvas sabiam a quem agradecer. O fato só veio a ser conhecido em 1987, quando Winton, manuseando papéis velhos, encontrou a listagem do nome de todas as crianças que ele havia salvo em 1939. Não sabendo o que fazer com a lista, foi aconselhado por um amigo a entregá-la à Dra. Elizabeth Maxwell, especialista em estudos sobre o Holocausto, esposa de um jornalista judeu, o magnata Robert Maxwell. E a sua história foi publicada no Sunday Mirror, um dos tablóides da família Maxwell, com grande repercussão.

A apresentadora de televisão londrina Esther Rantzen, tomando conhecimento da história, interessou-se em trazer Winton ao seu programa That’s life. Sob o pretexto de que ele assistiria ao show para prestigiá-la, a apresentadora colocou Winton estrategicamente na primeira fileira. Iniciado o programa, Esther Rantzen anunciou: – Senhor Winton, tenho uma surpresa para lhe contar. Sentados ao seu lado estão duas das pessoas que o senhor salvou da Checoslováquia, em 1939”.

Vera Gissing, que estava ao lado de Nicholas Winton relembra que seus olhos se arregalaram ao fitá-la e começaram a lacrimejar. E ela confessa: – Para mim, após tantos anos, ter finalmente conhecido o homem que salvou minha vida foi um momento muito especial. Fiquei apenas preocupada com ele, pois pensei que, aos 80 anos, o choque seria muito forte. Apesar da grande alegria em nos conhecer, ele não gostou da maneira como a apresentação foi feita, pois achava ter feito apenas a sua obrigação”.

Atualmente, Winton vive em Maidenhead, perto de Londres, com sua esposa, com a qual é casado desde 1948. Tem dois filhos, um terceiro faleceu na infância. Desde 1988, no entanto, sua família cresceu rapidamente. “Ele é nosso pai e avô honorário, porque nossa família foi exterminada durante a guerra”, afirma Vera Gissing. Que ainda disse: “Mais uma vez, a história mostrou que, às vezes, uma pessoa sozinha faz a diferença e consegue até mudar o rumo da história e da vida de inúmeras outras”.

Assim foi com Nicholas Winton, um inglês que, com sua iniciativa e empenho pessoal, salvou a vida de centenas de crianças, em sua maioria judias, ajudando-as a escapar do Holocausto.
Um santo filho de Deus. Abençoado pelo Altíssimo, tenha Ele o nome que nele colocarem.
PS. Quando o presidente do PT se desloca até o Maranhão para “enquadrar” o partido, exigindo apoio partidário para Roseana Sarney, fica a certeza de que bem mais podre algo está no Reino da Dinamarca…

(Portal da Revista ALGOMAIS, 03/05/2010, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves