UM PROJETO PARA O BRASIL


Em conversa com alunos de um Curso de Economia, o assunto era o Trabalho de Conclusão de Curso de um deles. Curioso, me inteirei do seu título: Os Donos do Brasil – Alianças e Conexões na Economia Brasileira. E o orientador me esclareceu: “O aluno JMCR tem uma bagagem diferenciada. Seu projeto versa sobre o capitalismo de laços no Brasil e foi estruturado com base em dois textos. O mais antigo, de Raymundo Faoro, chama-se Os Donos do poder: Formação do patronato político brasileiro. O segundo foi lançado este ano pela Campus. Intitula-se Capitalismo de laços – Os donos do Brasil e suas conexões, de autoria de Sérgio Lazzarini, PhD em Administração pela Washington University, prefaciado por Claudio Haddad”.

Ao adquirir o livro do Lazzarini, uma primeira alegria: ele é “o mais divertido e sistemático raio-x do capitalismo brasileiro na virada do século XXI. … Ajuda a entender as redes de laços entre empresas brasileiras, estrangeiras e públicas no Brasil. … É leitura fundamental para os interessados em entender o capitalismo no ‘B’ dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China)”. E uma outra: “Além de oferece contribuições teóricas, conselhos práticos, material empírico original e persuasivo, também possibilita leitura prazerosa, é um page turner”, na visão de Bem Ross Schneider, professor do MIT – Massachusetts Institute os Technology.

Logo na primeira orelha do livro, um balizamento norteador sobre o desenrolar dos capítulos: “Desde os anos 50, o Brasil urbanizou-se e uma grande estrutura capitalista desenvolveu-se no país, hoje incluído entre as dez maiores economias do mundo. Mas as fronteiras entre o público e o privado permanecem – para dizer o mínimo – porosas, quando não totalmente borradas pela combinação de interesses políticos e econômicos”. E as tais “fronteiras borradas” é analisada pelo Sérgio Lazzarini com bastante argúcia, o estudo sendo do interesse de economistas, empresários, políticos e analistas sociais. O primeiro capítulo já esclarecendo “como evoluiu o grau de entrelaçamento societário desde 1996, quando se iniciou a principal fase das privatizações no governo Fernando Henrique”.
As partes do livro possuem “manchetes” sedutoras: Mudar tudo para não mudar nada, Ligações perigosas capital público e capital privado no Brasil, Os grupos empresariais e suas interdependências, Imperialistas ou inocentes em terra desconhecida, Os novos na Bolsa, É assim porque sempre foi?. E com dois apêndices, um com a base dos dados analisados e outro com uma análise de redes e suas ferramentas de cálculo.
O pensar do ex-governador Miguel Arraes de Alencar não deve ser relegado, após leitura do livro: “No Brasil de hoje, como em qualquer outro país em atraso, as lutas sectárias têm de ser cortadas; no processo de revolução brasileira devem participar todos aqueles realmente interessados na superação da miséria e do atraso. Temos condições para formar ampla frente, que inclua a maioria dos brasileiros, cortando as divisões em torno de falsas posições teóricas”.

As conexões entre empresários, altos funcionários públicos e políticos apontam para algo muito diferenciado de capitalismo de mercado e capitalismo de Estado. E devem ser bem entendidas por todos aqueles que não desejam bandear-se para proselitismos extremistas situados fora dos eixos da soberania.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 04.05.2011)
Fernando Antônio Gonçalves