UM NOVO NOME PARA DEUS


Diante das últimas observações feitas acerca da radiação cósmica, calcula-se que o universo tenha começado há mais de 13 bilhões de anos, precisamente 13,7 bilhões de anos, na Singularidade Cosmológica que Stephen Hawkings matematicamente provou transcender ao espaço e tempo. Significando dizer que Singularidade Cosmológica é um infinito realizado, ratificando o que um sem-número de teólogos cristãos afirmam há mais de mil anos: que há um e apenas um infinito realizado, efetivamente existente.

Outro dia, conversando com um irmão evangélico de muito bom caráter, ensino superior cursado, Engenharia numa instituição de nula densidade humanística, ele me dizia que havia ouvido falar da tal Singularidade Cosmológica, não sendo esta a ideia que ele fazia de Deus desde menino, sendo ela abstrata demais para a sua cabeça. Para ele, o retrato de Deus, para quem ele se voltava eventualmente várias vezes ao dia e sempre ao levantar-se e ao deitar-se, explicitava-se através da figura de um velhinho de cabelos alvos, expressão bondosa por derradeira, amoroso ao extremo, dotado de um poder “cachorro da moléstia”, a expressão usada por ele querendo significar um Poder Criador Infinitamente Grandioso. E ele concluía sua argumentação proclamando, com toda a sua honestidade intelectual, que a Singularidade Cosmológica deveria seria “alguma ideia maluca que algum físico poderia sonhar, definitivamente não sendo o Deus do judaísmo, tampouco do cristianismo”.

Amizade ratificada, ao irmão engenheiro propus a efetivação de algumas leituras conjuntas, cabendo de início cada um fazer uma indicação. Numa escolha cara-e-coroa, coube-me fazer a primeira indicação de uma leitura a dois. O que eu fiz, depois de concretizar, por telefone, alguns contactos com especialistas do ISER – Instituto de Estudos da Religião, no Rio de Janeiro. Indiquei , o livro A Física do Cristianismo, de Frank J. Tipler, um graduado em Física pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), com doutorado em Relatividade Geral. A edição é da Cultrix, 2010, e o que se lê na quarta capa comprova os elogios recebidos: “Uma viagem emocionante até as distantes fronteiras da física moderna” … “Um deslumbrante exercício de especulação científica, tão rigorosamente argumentado quanto corajosamente concebido” … “Um livro que prova a existência do Todo-Poderoso e, inevitavelmente, da Ressurreição, sem recorrer a nenhum discurso espiritual” … “Embora escrito do ponto de vista de um PhD, qualquer pessoa poderá se empolgar com as ideias big-bang do professor”.

Acredito que há uma incapacidade das atuais Igrejas de entender a pós-modernidade, lamentando permanentemente a perda de poder, com um discurso abobadamente fundamentalista. Segundo um especialista, “o Concílio Vaticano II jamais foi assumido pelos bispos” … “A Igreja oficial nunca se afastou de um discurso simples e limitado – moral sexual, defesa de direitos adquiridos, postura defensiva diante do crescimento do laicismo… -, não se conectando com a camada social cristã que combate a distribuição desigual da riqueza, as injustiças, os problemas ambientais, etc.” E mais: “as tomadas de decisão devem ser democráticas, a paridade de gêneros é imprescindível, os cargos não podem ser vitalícios, deve existir o direito à dissensão e é imprescindível uma divisão de poderes. Também se deveria implantar imediatamente o acesso da mulher ao sacerdócio, a eliminação do celibato obrigatório, a participação decisória dos fiéis nos conselhos paroquiais e ainda na eleição de bispos, além da limitação da idade do papa a 75 anos, como entre os bispos.”

A dirigente da espenhola organização Somos Iglesia, Raquel Mallavibarrena, afirma que “a liturgia deveria ser uma expressão viva dessa Igreja de iguais na qual não há estamentos e na qual se vive a fraternidade.” E e acrescenta: “Nós católicos devemos ser os primeiros a favorecer a separação entre Igreja e Estado, por fidelidade e coerência com a mensagem evangélica. O dinamismo de um cristianismo profético e independente a favor dos pobres e dos que sofrem fica muito condicionado se a Igreja como instituição se mantém nessa confluência de interesses políticos e sociais sob a ideia, cada vez mais uma miragem, de que a Espanha é um país católico”.

Entre meu irmão engenheiro e eu, numa primeira conversa foi estabelecido um aplauso à presidenta Dilma, que retirou todos os símbolos religiosos do seu gabinete de trabalho, convalidando assim a separação entre Igreja e Estado. Posto que a Senhora Presidenta deseja ser plenamente de todos, independentemente da crença ou descrença de cada um.

(Publicada em 21/04/2011, no Portal da Globo Nordeste, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves