UM GÊNIO DA HISTÓRIA


Biografia bem escrita é prato especial nos meus momentos diários de leitura. Principalmente as que não são feitas por encomenda, tipo aquelas elaboradas para satisfazer o ego de quem ainda não se findou.

Dou uma atenção especial às biografias que retratam personalidades que fizeram história. Que são postas em destaque, lidas com sofreguidão, algumas delas me fazendo testemunhar as primeiras luzes de um novo dia, sem qualquer cansaço.

A última biografia por mim lida foi editada pela L&PM, Porto Alegre. Da série biografias, Albert Einstein é da lavra de Laurent Seksik. Página que me encheram de esperanças num futuro planetário menos hediondo e mais solidário, onde se reinvente o caminhar humano sobre um meio ambiente nunca degradável.

Aos três anos de idade, Eisntein preocupou a família: de seus lábios não saía palavra alguma. Apenas, vez por outra, um acesso de raiva, quando começava a berrar, achando a mãe que era herança do avô. Sua cabeça bem avantajada contribuiu para a ampliação das apreensões. Médico consultado, temores dissipados, embora seu temperamento taciturno gerasse angústias várias, a ponto de sua babá chamá-lo de Pater Langwell (Pai Urso).

Nos seus primeiros anos de escolaridade, a educação era desprovida de qualquer sedução. Uma atmosfera marcial imperava nos corredores e salas de aula. Dizia-se à época que um feitor se escondia por detrás de cada porta. A frieza dos professores era grotesca. E o menino Einstein se sentia enjaulado, sem vontade alguma de “entrar no clima”.

Único judeu da escola, onde o catecismo era disciplina obrigatória, nunca sofreu o menor constrangimento, mesmo quando um padre reacionário proclamava ser deicida o povo judaico, muito embora em sala de aula jamais tenha sido acusado de ter assassinado Jesus, pois os demais docentes reconheciam as idiotices do sacerdote. Conservará para sempre uma simpatia pela figura do Nazareno, da mesma maneira que aos seus olhos Spinoza e Marx tornaram-se figuras exponenciais de sua gente.

Com o passar do tempo, entretanto, Einstein se revestirá de uma estupenda desconfiança por toda forma de ortodoxia, tornando-se entusiasta radical do livre pensamento. E descobre uma outra devoção: a geometria euclidiana. Que lhe extasiou tanto quanto a admiração que, anos antes, tinha demonstrado por uma bússola presenteada pelo seu pai.

Nas suas memórias, uma observação que até hoje persiste em muitos estabelecimentos educacionais: “os professores tiveram para mim na escola primária o papel de sargentos, e no ginásio o de tenentes”. Exceção proporcionada pelo professor Ruess, de Cultura Moderna, com suas aulas sedutoras sobre Goethe, Schiller, Shakespeare. Aulas que rapidamente se passavam, para agonia do rapazinho Albert.

A biografia de Einstein ressalta bem o despertar da sua genialidade. Em outubro de 1895 é reprovado num exame de admissão da Escola Politécnica Federal, embora suas notas em Matemática e Tecnologia tenham impressionado os analistas. Recomendaram-lhe matrícular-se numa escola regional situada no meio das montanhas. No que ele concordou.

Recebido como um filho querido na casa que o hospedou, na cidade da escola nova, logo revelará sua paixão pela política. Na escola, uma biblioteca de excepcional qualidade, prendendo por horas seguida um leitor voraz, que descobre Aristóteles, o inventor da Física. E que o estimula ir aos textos de Copérnico, Galileu, Leibnize Max, Planck. Einstein tinha 16 anos à época. Um ano depois, é aprovado na Escola Politécnica Federal, para realizar em quatro anos um curso de Física e Matemática. Sem muito controle de si, gradua-se sob franca hostilidade de seus mestres. Ironia histórica: 1900, Einstein desempregado, apátrida e sem um tostão; 1999, 31 de dezembro, a revista Time faz sua última cobertura anual, com o retrato de Einstein na capa, designando-o como “O Homem do Século”.

O escrito acima serve de aperitivo para aqueles que desejam conhecer a trajetória existencial de Albert Einstein entre 1900 e 1999. Como ele obteve o doutorado na Universidade de Zurique, em 1906, como alcançou o Prêmio Nobel de Física, em 1921. E como foi eleito presidente da Liga dos Direitos do Homem, em 1928. As ciumadas e perseguições sofridas por parte dos invejosos, dos complexados e dos totalitários. E como era viciado em “molhar o biscoito”, com seus juvenis arrebatamentos amorosos.

Lendo a vida de Einstein, lamento quando contemplo jovens idiotas se multiplicando nos tempos de agora, sob a complascência de pais e mães contempladores dos próprios umbigos, à quase unanimidade deles menosprezando até os atos e fatos políticos que influenciarão as suas existências futuras.

Albert Einstein, uma vida que engrandeceu a História. Vale a pena ler sua biografia, até para bem assimilar o seu espírito pacifista. Um talento judaico genial que reinventou a concepção humana sobre o Universo.

PS. Para os novos feras universitários 2011, Albert Einstein é leitura oportuna para uma caminhada acadêmica cidadã. Sem boçalidades nem pieguismos, pés no chão e nariz empinado, olhares sempre voltados para os amanhãs.

(Publicada em 24/01/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves