UM CONVITE À DIFERENÇA
Nos últimos tempos, um autor moçambicano, nascido em 1955, vem despertando meu entusiasmo de leitor. Seus livros por mim lidos – Antes de nascer o mundo (sexta reimpressão, 2014), Venenos de Deus, remédios do Diabo (terceira reimpressão, 2011), Terra sonâmbula (sétima reimpressão, 2012), Estórias abensonhadas (2012), Cada homem é uma raça (2013), O outro pé da sereia (sexta reimpressão, 2011) e Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (décima terceira reimpressão, 2013), todos editados pela Companhia Das Letras – me proporcionaram primorosos momentos lúdicos, fazendo-me sempre “acordar longe da véspera”, segundo vocabulário miacoutoano.
Logo depois da Semana Santa 2015, deparei-me com um trabalho analítico de fôlego sobre a trajetória das iniciativas do Mia Couto, editado pela Humanitas, SP, 2013. Intitulado Mia Couto Um Convite à Diferença, foi organizado por três talentos aplaudidos: Fernanda Cavaca, Doutora em Estudos Portugueses pela Universidade Nova de Lisboa; Rita Chaves, Doutora em Letras Clássicas e pós-doutora pela Universidade Eduardo Mondlane; e Tania Macêdo, professora e diretora do Centro de Estudos Africanos da USP.
O livro resulta de um conjunto de iniciativas que tem vinculado a disciplina Literaturas Africanas de Língua Portuguesa com o Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa, com o Centro de Estudos Africanos e com o Centro de Estudos das Literaturas e Culturas dos Países de Língua Portuguesa. Instâncias da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humana da USP, comprometidas com a divulgação da produção literária africana.
Mia Couto nasceu na Beira, Moçambique, estudando medicina antes de se graduar em biologia, atualmente se dedicando a estudos de impacto ambiental. Em 1999, recebeu o prêmio Vergílio Ferreira, sendo laureado, em 2007, com o prêmio União Latina de Literaturas Românticas, seu romance Terra Sonâmbula sido considerado um dos dez livros africanos do século XX.
Numa nota introdutória do Mia Couto um Convite à Diferença, se encontra uma explicação do Couto sobre a natureza do seu trabalho: “Estas estórias desadormeceram em mim sempre a partir de qualquer coisa acontecida de verdade mas que me foi contada como se tivesse ocorrido na outra margem do mundo. Na travessia dessa fronteira de sombras escutei vozes que vazaram o sol. Outras foram asas no meu voo de escrever. A umas e outras dedico este desejo de contar e inventar”.
Na relação de teses sobre Mia Couto, duas Dissertações de Mestrado defendidas na Universidade Federal de Pernambuco: A imagem mítica da terra em O último voo do flamingo, de Polyanna Angelote Camêlo, defendida em 2002, sob a orientação do Prof. Dr. Sébasien Joachim; e A viagem infinita, um estudo de Terra Sonâmbula, de Peron Pereira Santos Machados Rios, defendida em 2005, sob orientação da Profa. Dra. Francisca Zuleide Duarte de Souza.
Vale a pena navegar pelos escritos desse moçambicano muito arretado!
(Publicado em 11.07.2015, no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves