UM ARCO-ÍRIS PARA DEUS


Nestes tempos de pós-modernidade, com amplíssimos setores ainda na mais abjeta exclusão social, as áreas do conhecimento deveriam estar intensamente responsáveis com o desenvolvimento integral do Ser Humano, ensejando discussões e análises que propiciassem estratégias planetárias favoráveis a uma vida dignificante para todos. Entre as mais significativas se encontram ética, política, espiritualidade, filosofia, ecologia, organização social, ciência, tecnologia, educação, família, sexualidade, cultura, lazer, comunicações, relações internacionais, corrida armamentista, violência e paz.
Cientistas, religiosos, humanistas e lideranças políticas das mais variadas tendências, cônscios das suas metas sociais e nunca menospezando os recursos de suas inteligências inquisitivas, exigem norteamentos que balizem uma convivialidade mundial capaz de superar os conflitos diversos através de alternativas nunca belicistas, sempre negociadas. E continuam exercitando seus pensares fundamentais, questionando seus próprios fundamentos, construídos a partir de entornos radicalmente diversos dos vivenciados nestes primórdios de novo século.
Um dos pacifistas mais notáveis do século passado, o filósofo e matemático Bertrand Russell, eternizado em 1970, proclamava que “uma especialização cada vez mais extensa e exagerada está fazendo os homens esquecerem as suas dívidas intelectuais para com os seus antepassados”. Tal especialização, necessária sem dúvida, se não minimamente inserida numa cosmovisão, seguramente redundará numa babelização planetária capaz de gerar mundinhos especializados amplamente desconectados da realidade mundial.
Entre as áreas mais conflitantes, a da Religião deve ser vista como uma das mais turbulentas. Haveria uma religião querida por Deus, entidade nunca antropomórfica? Será possível falar de ecumenismo em situações onde o diálogo intra-religioso é visto como radicalmente descartado, embaralhando as mentes dos fiéis mais desatentos? Por que será que não favorecemos a celebração da essência, deixando as circunstâncias para amadurecimentos posteriores? Ou será que estamos mais preocupados com as sacolinhas do que com uma transcendentalidade salvífica, sejam quais forem as denominações ou religiões celebradas? Será que estamos percebendo o afastamento dos jovens mais criticamente talentosos, que precisam de uma vivência religiosa ajustada a condições existenciais diferenciadas? Ou será que nos acovardamos evangelicamente, por conveniência ou conivência, diante de um problema mundial que é mais cultural e religioso que econômico? Ou será que não nos impressiona a estatística que aponta os EEUU como o país que possui mais cidadãos muçulmanos que episcopalianos, e que Los Angeles é a cidade mais budista do mundo?
A reconciliação com o mundo moderno passa necessariamente por um respeito aos que estudam e proclamam o pluralismo religioso como o sinal mais promissor para este ainda incipiente século XXI. Possuidor de um princípio básico: “toda doutrina, teologia ou espiritualidade que no passado produziram efeitos deletérios de opressão, domínio, desprezo, dor ou destruição contra outros grupos, povos ou religião, precisam ser colocadas sob suspeita e, no mínimo, reavaliadas”. Ou será que continuamos a desrespeitar a máxima crística que proclama “Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” (Mt 7,14)
Enxergar novos paradigmas já é bom começo. Perceber-se uma metamorfose ambulante, a la Raul Seixas, é desejar ultrapassar umbrais. Sem temor, nem tremor, das esquizofrenias existentes em todas as religiões, que buscam contagiar homens e mulheres que sabem pensar como protagonistas segundos da Criação.
PS. Viva a Bispa Katharine Jefferts Schori, eleita e já empossada Primaz da Igreja Anglicana dos Estados Unidos! Grandioso és TU!!!