TESÃO DOCENTE
Um livro presenteado pelo fraternal amigo José Amaro Barbosa, secretário de educação de São Lourenço da Mata, Pernambuco, me cativou de sopetão pelo título: A Coragem de Ensinar. Da editora Da Boa Prosa, 2012, seu autor, Parker J. Palmer, escritor, professor e ativista, tem merecido aplausos nos quatro cantos do mundo. Algumas reflexões: “Se ensinar é apenas uma obrigação e você está satisfeito em ‘cumprir obrigações’, este livro não é para você”; “Este livro proporciona muitos insights e novas ideias sobre a boa prática docente, que não pode ser reduzida a técnicas porque vem da identidade e da integração dos professores”; “O ensino tem a ver com compromisso e conexões. Tem a ver com as relações entre alunos e as matérias e o mundo que os conecta. E tem a ver com o tipo de comunidade necessária na sala de aula para que uma Educação autêntica aconteça. E a chave para esse tipo de educação é a essência humana”. Pensares que me induziram a uma leitura do livro por quase cinco dias seguidos, fortalecendo minha experiência de consultor de gestão que carrego há um bocado de tempo.
Parker Palmer inicia o seu livro com uma confissão que deveria ser o abre-alas de todos aqueles que fazem da atividade docente uma missão existencial: “Eu sou professor de coração, e há momentos na sala de aula em que mal consigo conter a alegria. … Mas em outros momentos, a sala de aula é algo tão sem vida, doloroso ou confuso – e me sinto tão importante para mudar – que minha certeza sobre ser professor fica completamente abalada. … Se você nunca teve dias ruins, ou se não se importou com eles, este livro não é para você. … É para professores que se recusam a endurecer seus corações porque amam os aprendizes, o aprendizado e a vida na área da Educação”.
Traduzindo em miúdos a importância da missão docente: os indicadores estatísticos da Unesco anunciam o surgimento de uma nova etapa civilizatória da história da humanidade, onde a Família, as Igrejas, a Democracia, a Cidadania, a Sexualidade, o Papel da Mulher e uma Trabalhabilidade Multifocal emergem sob novos perfis e novas dinâmicas, buscando atender às exigências de uma sociedade civil desejosa de ultrapassar obscurantismos diversos, um “já fui bom nisso” que não mais impulsiona qualquer desenvolvimento. Também rejeitando palavras vazias e discursos flauteadores, buscando reduzir drasticamente uma cultura de fingimento que não pressente, porque desbinoculizada, as mutações emergidas de obsolescências várias, inclusive as educacionais. Tempos novos onde até um novo papa, simples embora não simplório, sem os penduricalhos exibicionistas dos anteriores, assume para novamente tentar colocar o Nazareno bem acima dos escândalos vaticanos nada dignificantes.
Os educadores que se sentem responsáveis pela emersão de uma geração capaz de catapultar uma trabalhabilidade crítico-libertadora estão convencidos de que o pior subdesenvolvimento é aquele que agride o plano mental, produzindo uma alienação que leva, inevitavel e progressivamente, a impossibilitações profissionais, todas elas ampliadas pela ausência de oxigenações enxergantes de porvires mercadológicos eivados de criatividades e iniciativas empreendedoras, públicas e empresariais.
Em seu livro, Parker não contemporiza: “Criticar os professores se tornou esporte popular. Apavorados com as exigências de hoje em dia, precisamos de bodes expiatórios para os problemas que não conseguimos resolver e para os pecados com os quais não conseguimos arcar…. Os professores devem ser melhor remunerados, libertados do assédio burocrático, ter um papel na governança acadêmica e ter à sua disposição os melhores métodos e materiais. A essência humana deve ser a fonte da boa prática docente”.
Parker revela, na apresentação, a pergunta essencial que embasa o seu livro A Coragem de Ensinar: “Quem é o eu que ensina?” E não teme em dizer que “a técnica é o que os professores usam até o verdadeiro professor chegar!” E ainda chicoteia, com muita propriedade: “Professores de jardim de infância entendem melhor o ofício do que os que fizeram doutorado. E não deveríamos falar de forma tão superficial sobre qual nível deveríamos chamar de ‘superior’”.
Ponho fé, num futuro próximo, na instalação e desenvovimento permanente de um Programa Estratégico-Operacional para um Novo Modelo Educacional para Pernambuco, acelerando a alavancagem estadual/municipal de áreas educacionais públicas. Pois, como Parker Palmer, acredito que gestão educacional somente prosperará com transparentes debates entre as partes envolvidas, onde todos os esforços não passam de investimentos destinados à felicidade maior de todos, posto que o desenvolvimento de um estado se encontra na dependência direta da maturidade educacional evolucionária de jovens e adultos.
Recomendo, com entusiasmo docente nunca debilitado, o livro A Coragem de Ensinar. E chamo atenção para o capítulo 6 – Aprender em comunidade, o diálogo com os colegas. Para professores “que se recusam a endurecer seus corações porque amam os aprendizes, o aprendizado e a vida na área da Educação”. Um excelente livro-orientador para os que buscam estruturar um planejamento educacional alavancador para um Pernambuco que anseia continuar cada vez mais Leão do Norte.
(Publicada em 25.03.2013, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves