SUPER PROTEÇÃO, GERAÇÃO BANANA


Numa época de crises acontecidas sob os mais diversos matizes – político, moral, econômico-financeiro, ideológico e religioso -, inúmeros pais e mães ainda não perceberam que uma educação superprotetora dos filhotes é o caminho mais seguro para a banananização deles. Segundo reflexão da psicoterapeuta inglesa Andrea Nair, “o custo da superproteção é que a criança não desenvolve as habilidades para reagir, falar mais alto ou sair da frente. Se a criança aprende, com os pais, que um adulto sempre aparecerá para lutar em seu nome ou resolver qualquer situação desafiadora, ela continuará esperando que isso aconteça e não buscará soluções sozinha Da mesma maneira, também não aprenderá habilidades comunicativas valiosas necessárias no processo emocional de uma discussão acalorada”.

Outro dia, ouvi de terceiros o testemunho de uma professora de Ensino Básico de uma escola muito conhecida: “- Se eu receber uma proposta para dirigir uma escola de órfãos, aceitarei sem piscar os olhos, pois já não aguento mais lidar com pais e mães superprotetores, pois eles estão me matando”. Pais e mães que desejam que a escola transforme seus filhotes em crianças perfeitas, dotadas de uma cognição de gente adulta, sem enfrentar os obstáculos naturais, plenamente superáveis, de todo crescimento infantil, jamais admitindo que elas lidem com as inevitáveis frustrações da vida. Tal e qual aquele gerentão metido a macho que, sem compreender que seu filho adolescente passava por uma transição corporal menino-rapaz, levou o garoto de 14 anos para uma casa de tolerância para que ele iniciasse sua vida de homem, lá contratando a “mulher-instrutora”, pagando-lhe adiantado os serviços que seriam prestados e ficando à espera do jovem no salão de espera do cabaré, sob os olhares sutilmente irônicos das demais “ofertantes”. O resultado foi quase previsível: o jovem não se saiu bem, emocionou-se precipitadamente, afobando-se por sentir que o pai o aguardava para ouvir dele a narrativa sobre as vitoriosas “entrâncias” acontecidas.

Um livro, recém editado pela HarperCollins Brasil, intitulado Pais super protetores, filhos bananas: o que podemos fazer para não criar uma geração insegura, de Jessica Lahey, educadora, escritora e colunista do The New York Times, pode orientar bem aqueles pais, educadores e psicólogos na compreensão das falhas de crianças e adolescentes de um mundo amplamente ridicularizado por uma tecnologia que apenas individualiza as pessoas, desfavorecendo uma convivialidade prazerosa, onde todos sejam apenas o que são, sem boçalidades oriundas dos anseios não realizados dos genitores.

Um dos capítulos do livro, o 7º, me fez recordar o acontecido numa competição aquática estudantil num colégio religioso feminino à época. Numa determinada hora, as crianças disputando na piscina, umas mais na frente outras mais distantes, já perdendo fôlego, ouvi os berros de uma mãe desesperada, bem pertinho de onde eu estava: – Fulana, se você perder, vai ficar sem mesada!!! Não me controlando, disse para a distinta: – A senhora é idiota de nascença ou imbecilizada pelas circunstâncias desta competição? A resposta foi muito choro e pedidos de perdão, a filha chegando em penúltimo lugar.

No capítulo acima citado, uma declaração de Hannah Kearney, vencedora de duas medalhas olímpicas bem que poderia ser memorizado pelos pais e mães imbecilizados pelas ânsias patológicas por conquistas dos filhotes: “Os pais perfeitos de atleta nunca devem ser ouvidos nas arquibancadas. Eles devem estar presentes após o jogo, para oferecer apoio quando saímos com o coração partido. Crianças são cortadas dos times, eles se lesionam. Essas coitadas acontecem nos esportes, mas o pai ideal estará por perto para ajudar a criança a encontrar algo positivo nas más notícias. Eu devo admitir que meus pais me subornaram, quando eu tinha dez anos, e me ofereceram um short de futebol para que eu me dedicasse na primeira semana de treinamento, e me lembro da adrenalina do meu primeiro gol. … Eles me apoiavam, mas nunca me pressionaram. Quando as crianças encontram um esporte que gostam, cabe à própria criança seguir em frente, ou será um desastre para todos”. E Kearney ainda oferece um Guia para o êxito dos pais nas arquibancadas: 1. Seja pai(mãe), não treinador(a); 2. Nunca, jamais, bata boca com o técnico na frente do(a) filho(a); 3. Não peça ao filho (à filha) que viva seus sonhos atléticos; 4. Cultive uma mentalidade em crescimento com muito espaço para fracassos; 5. Entenda a diferença entre desistir e fracassar.

Na Universidade Northwestern, um pequeno cartaz é entregue aos pais e mães que não se portam como “donos” dos seu rebentos recém-acadêmicos. Ele possui apenas quatro lembretes: 1. Eles precisam que vocês os deixem em paz; 2. Eles precisam ser capazes de cometer erros; 3. Ele precisam saber que vocês acreditam neles; 4. Eles precisam saber que vocês estão interessados, mas não vão se intrometer.

De leitura agradável, o livro mostra como ajudar crianças e adolescentes a ter sucesso, permitindo que elas falhem. E ressalta como expectativas excessivas podem acarretar consequências terríveis nas crianças e adolescentes. Pais controladores impossibilitam crianças e adolescentes de tomarem suas próprias decisões, enquanto a estratégia mais correta é a de guiá-las em direção às soluções que fortaleçam as posturas que valorizam tanto os erros quanto os êxitos, sempre oferecendo as viabilidades mais exequíveis para a obtenção de uma mentalidade de crescimento existencial.

(Publicado em 28.12.2015, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com/sempreamatutar)
Fernando Antônio Gonçalves