SUGESTÃO PARA O GOVERNADOR


Uma intenção vem martelando, há semanas, meu quengo de pernambucanizado diplomado pela Assembléia e recifensizado pela Câmara Municipal: a de sugerir ao governador Eduardo Campos, através da Secretaria de Educação, um programa de pesquisa educacional especial para identificar os superdotados das nossas escolas públicas, independentemente das demais atividades programáticas da Secretaria.

A ideia da instituição de um Programa Estadual Identificador de Portadores de Altas Habilidades emergiu quando tomei conhecimento da menina de uma comunidade carente que já emocionou inúmeras plateias tocando piano clássico com desempenho de virtuose.

Para quem ainda não se sensibilizou com a questão, em nossas escolas públicas há milhares de jovens PAH – Portadores de Altas Habilidades, que se situam acima da média comum das pessoas, possuindo alguns traços característicos básicos: rapidez e facilidade para aprender, abstrair ou fazer associações; criatividade; independência de pensamento; habilidade excepcional para esportes, ciências, música, arte, dança, informática; curiosidade e senso crítico elevados; senso de humor; investimento nas atividades de interesse, com certo descuido nas demais; bom relacionamento social e liderança; aborrecimento com a rotina; hipersensibilidade; vontade férrea de conquistar lugar de destaque no mercado de trabalho.

Lamentavelmente, o que poucas pessoas sabem é que tais crianças e adolescentes superqualificados nem sempre são bem sucedidos por falta de orientação especializada, que redundará num freio no desenvolvimento psicológico deles, criando barreiras para uma futura inserção social. Muitas vezes, a própria superqualificação acarreta desconforto entre familiares, colegas e professores, acarretando complexos, invejas e ciúmes mórbidos, gerando apatias e desmotivações. E as consequências são perniciosas para os PAH’s e para a própria região, que desperdiça um potencial intelectual multiplicador, se bem orientado em apropriado ambiente educacional. Ou em unidades profissionalizantes específicas.

De acordo como Ministério da Educação, os Portadores de Altas Habilidades são classificados em diferenciados segmentos: intelectual (flexível, independente e mostra fluente de pensamento, produção intelectual, julgamento crítico e habilidade para resolver problemas); social (capacidade de liderança, sensibilidade interpessoal, atitude cooperativa, sociabilidade expressiva, poder de persuasão); acadêmico (capacidade de produção, atenção, concentração, memória, interesse e motivação pelas tarefas docentes); criativo (facilidade para encontrar soluções diferentes, alternativas e inovadoras, exprimindo-se bem, com fluência original); psicomotricinestésico (habilidade e interesse por atividades físicas, agilidade, força e resistência, controle e coordenação motoras); artístico (destaque nas artes plásticas, musicais, literárias e cênicas).

Esclarece o educador especialista Jorge Bispo: “Quando alguém ouve o termo ‘superdotado’, a primeira imagem que vem à cabeça é a do gênio, que sabe tudo sobre todas as coisas, como Albert Einstein ou Leonardo da Vinci. Mas não é bem assim. Hoje, já é consenso que o superdotado não precisa ser bom em tudo”. A diferença é explicada pela professora de Educação da UERJ Marsyl Mettrau: “O gênio muda a concepção do mundo de sua época, com propostas inusitadas, antecipatórias. Já o superdotado faz propostas criativas, reformula soluções. Por isso, todo gênio é superdotado, mas nem todo superdotado é gênio”.

Creio que é chegada a hora da Educação Pernambucana ampliar paulofreireanamente o bom combate, intensificando nas escolas públicas a identicação dos alunos altamente dotados, para acelerar o regional historicamente viável. O momento estadual está a exigir ousadias e gestos concretos. E ao governador Eduardo Campos não falta discernimento para iniciativas que alavanquem ainda mais o nosso desenvolvimento, aliando às estruturas físicas o que possuímos de mentalmente privilegiado advindo das escolas públicas.

O notável biólogo Charles Darwin costumava dizer: “sempre afirmei que, fora os tolos, os homens não diferem muito em intelecto, só em entusiasmo e dedicação”. Recentemente, uma pergunta feita a um renomado neurologista – por que paixão e persistência são ingredientes essenciais do talento? – mereceu a seguinte resposta: porque recobrir de mielina um grande circuito neural requer muito tempo e energia. Se não amamos a atividade, nunca daremos duro o suficiente para sermos formidáveis.

Somente através da aglomeração dos PAH’s em ambientes emulatórios para o emersão de iniciativas talentosas, poderemos fazer emergir um sem-número de profissionais altamente qualificados, favorecendo um amanhã pernambucano promissivo por derradeiro.

PS. De parabéns as escolas da rede pública de Pernambuco que alcançaram percentual altamente significativo das metas estabelecidas. E os professores da rede pública estadual pelo Plano de Cargos e Carreira que será estruturado por um grupo de trabalho, ontem autorizado pelo Governador Eduardo Campos.

(Portal da Globo Nordeste, 20.05.2010, Blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves