SUCATEAMENTO PERIGOSO
Numa coletânea de discursos do Senador Jarbas Vasconcelos, surpreendeu-me alguns dados por ele registrados num pronunciamento feito em 12 de março de 2014, sob título O Triste Sucateamento da Polícia Federal, onde algumas estatísticas são por demais preocupantes. Pesquisa feita por especialistas: 89% dos policiais entrevistados acreditam que existe controle político das investigações; cerca de 75% deles já presenciaram ou já ouviram relatos sobre esse tipo de interferência no trabalho policial; 94% dos entrevistados acreditam que a falta de investimento do Governo Dilma é um castigo pelas investigações sobre corrupção; 97% afirmam que é proposital o tratamento desigual e o congelamento salarial dos profissionais da Polícia Federal nos últimos anos.
O Senador Jarbas Vasconcelos faz outras denúncias: cerca de 250 policiais estão abandonando a instituição a cada ano. E que nos últimos anos, a cada mês, 10 policiais dos cargos de agente, escrivão e papiloscopistas abandonaram a instituição à procura de melhores condições de trabalho. E ressalta que apenas 13% dos entrevistados se declaram felizes na Polícia Federal, enquanto 90% acreditam que poderiam fazer muito mais do que fazem, se condições salariais e de trabalho estivessem presentes. E uma revelação dolorosa: há 10 anos, um agente da Polícia Federal recebia uma remuneração equivalente a de um auditor ou fiscal da União, hoje recebendo apenas 50% daquele valor.
No seu pronunciamento, o senador Vasconcelos cita o Presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, que assim se expressou num artigo publicado na Folha de São Paulo: “A Polícia Federal, patrimônio do Brasil, está ameaçada. Um patrimônio que precisa ser valorizado e reconhecido pelos governantes e pelo Estado brasileiro, para manter o padrão de qualidade duramente conquistado e continuar promovendo a prevenção e a repressão qualificada ao crime organizado e à corrupção”.
Um destaque do senador pernambucano: “A Polícia Federal – é importante que se registre isto nos Anais da Casa – não é de um governo A ou de um governo B, não é de um partido específico, conforme está definido no art. nº 144 da Constituição Federal. Ela deve ser sempre, hoje e no futuro, uma polícia de Estado e não de governos”.
Lamentou o parlamentar o agravamento da situação: “O crime do ‘colarinho branco’ agora passou a ser coisa de pobre, não mais da elite, de partidos políticos, de pessoas ricas. Ele passa a ser um crime daqueles despossuídos, daqueles que não têm dinheiro, que estão desempregados”.
A Nação e a Democracia devem dispor de uma PF tecnologicamente preparada, humanamente capacitada e financeiramente bem remunerada, para garantir, aos seus integrantes, as condições necessárias para um efetivo desempenho das suas funções.
Para meio entendedor, meia palavra basta: “Em primeiro lugar, acho o seguinte: quando não se quer mudar nada a gente faz uma reforma da educação, aí a gente tem a certeza de que nada mudará e que tudo vai continuar”. Reflexão de Maurício Tragtenberg, professor, sociólogo, historiador e agitador político-cultural, eternizado em 1998 e ainda muito pouco conhecido dos leitores brasileiros das Ciências Sociais. Que sempre dizia que “no Brasil, não há cidadãos, mas súditos contribuintes”. Um talento que era cientista social, sem jamais ter concluído os estudos básicos, sempre se orgulhando de ser um “autodidata”, só conseguindo se graduar e se doutorar por conta da legislação da época. Um pensador que soube com maestria desvendar as ideologias que se enfronhavam por trás da burocracia e do dia-a-dia das organizações, defensor de uma universidade democrática autogerida, criadora por excelência, jamais mimética, nem tuberculosamente sectarizada. E que foi expulso do PCB, após alguns meses, por ter cometido o delito de dialogar com outras vertentes. E que deixou uma lição inesquecível, pouco ou quase nada assimilada pelos “esquerdopatas” da atualidade: “realizar uma Sociologia desapegada de compromissos partidários, porém politizada, pois voltada para o bem comum e para a árdua luta em favor da justiça social e contra toda forma de tirania”.
A Nação pede, relendo Tragtenberg, um basta imediato nas desgastantes corrupções burocratizadas públicas “padrão Fifa”, 7 x 1 sendo o caso mais recente, por demais humilhante.
PS. Um país tido como sério jamais permitiria que um mandatário seu fizesse o pronunciamento que a presidente Dilma fez na Organização das Nações Unidos, praticamente “abençoando” os últimos atos terroristas praticados no mundo. Nossas Relações Exteriores continuam sendo relegadas por uma mandatária que se traveste de vestal iluminada, quando não passa de uma arroteira surrupiadora da ética pátria.
(Publicada em 29.09.2014, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves