SOLUÇÕES ESQUECIDAS
Diante de uma crise mundial avassaladora, prenúncio de mais violências e desestruturações de todos os tipos, as elites dos países desenvolvidos e menos desenvolvidos persistem em se imaginar livres dos “tsunamis” sociais que não discriminam classe alguma, arrastando tudo e todos para uma desgraceira geral.
Recentemente, em Londres, falando sobre conflitos de gerações num colégio de mensalidades altas, o médico inglês Ronald Gibson começou uma conferência citando quatro frases: 1-“A nossa juventude adora o luxo, é mal-educada, despreza a autoridade e não tem o menor respeito pelos mais velhos. Os nossos filhos hoje são verdadeiros tiranos. Eles não se levantam quando uma pessoa idosa entra, respondem aos pais e são simplesmente maus.”; 2- “Não tenho mais nenhuma esperança no futuro do nossos país se a juventude de hoje tomar o poder amanhã, porque esta juventude é insuportável, desenfreada, simplesmente horrível.”; 3- “O nosso mundo atingiu o seu ponto crítico. Os filhos não ouvem mais os pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.”; 4- “Esta juventude esta estragada até o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Eles nunca serão como antigamente… A juventude de hoje não será capaz de manter a nossa cultura.”
Após ter lido as quatro citações, ficou muito satisfeito com aprovação geral que os espectadores presente tinham dado às frases. E, então, revelou a origem delas: a primeira é de Sócrates (470-399 a.C), a segunda é de Hesíodo(720 a.C.), a terceira é de um sacerdote do ano 2000 a.C, a quarta estava escrita em um vaso de argila descoberto nas ruínas da Babilônia e tem mais de 4000 anos de existência.
Passada os aplausos entusiásticos com as citações e a estupefação coletiva com as fontes reveladas, o médico Ronald Gibson contou um outro fato. Certa feita, Joseph Campbell (1904-1987), uma das maiores autoridades no campo da mitologia do século XX, notável contador de histórias, estava no Japão, num congresso internacional sobre religião, quando ouviu um diálogo entre um delegado norte-americano, metido a cientista social em Nova Iorque, e um monge xintoísta. O norte-americano disse: – Assisti já um bom número de suas cerimônias e vimos alguns dos seus santuários. Mas não chego a perceber a sua ideologia. Não chego a perceber a sua teologia. O japonês fez uma pausa, mergulhando em profundo pensamento, e então balançou lentamente a cabeça e disse: – Penso que não temos ideologia. Não temos teologia. Nós dançamos. E o gringo botou o rabo entre as pernas e saiu de mansinho, quase obrado.
As reflexões de tal diálogo podem ser as seguintes: 1. Não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos mais interessados nas notícias do dia e nos problemas do momento; 2. Estamos aprendendo tecnologias e acumulando informações. Mas não estamos transmitindo sabedoria de vida, diante da forte tendência por especializações. O generalista é um termo depreciativo no mundo acadêmico, a cada dia sabendo mais sobre cada vez menos.
Um novo mundo surge sob o signo da dromologia (ciência da velocidade). E o tempo é global, um tempo único. Mundialização veloz. Cenário de novo parto civilizatório, onde Karl Popper já dizia que “não temos a verdade, só podemos dar pitacos”. E Hellen Keller, uma das minhas maiores admirações, complementava com maestria: “A ciência pode ter encontrado a cura para a maioria dos males, no entanto ainda não encontrou o remédio para o pior de todos – a apatia dos seres humanos”.
Em todas as áreas da Educação Brasileira, alguns complicadores estão ferozmente inoculando uma apatia demoníaca. São eles: ausência de uma fascinação pelo futuro, arrogância e autoritarismo de executivos e dirigentes públicos, empresários e parlamentares, adeptos de uma cultura de fingimento diante uma sociedade ainda descidadanizadas, incapaz de destruir as barreiras da mediocridade, favorecendo convivialidades e conflitividades sadias, exercitadas através de princípios, jamais medos, receios e imitações acríticas.
Um livro recente, editado pela Difel, apresenta assuntos para os mais duros desafios contemporâneos. Intitulado O 100 Pensadores Essenciais da Filosofia, de Philip Stokes, ex-tutor do Departamento de Educação Continuada da Universidade de Reading, sua leitura ratifica alguns esquecimentos provocados pelos tecnocratas e bur(r)ocratas deste Brasilzão que necessita mentalmente amadurecer-se, tornando-se primeiromundista sem humilhações sociais: “Nenhuma instituição ensina sucesso, posto que a chave para o sucesso está na sua maneira particular de pensar; “Não se pode ensinar nada a um homem; só é possível ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si”; “As oportunidades se encontram, no mais das vezes, no meio das dificuldades”; “Sozinho, não se chega a lugar algum”; “Quem se acha o tal termina valendo menos que o esperado”; “Jamais alimente porcos com pérolas”; “O que se tira da Vida é o que se coloca na Vida”; “Saber sempre que o sucesso é maior quanto se sabe enxergar”.
No mais, permitam-me os leitores desse site cada vez mais lido, apresentar o pensar de um padre muito arretado, Daniel Lima, recentemente tornado eternidade: “Antes, vivia na certeza, / como uma águia aprisionada na gaiola./ A dúvida me libertou / deixando-me voar no espaço livre, / não mais certo de nada / senão da importância do voo.” E mais: “A esperança é o horizonte. / O desespero é o muro. / E a vida é o horizonte além do muro. / Eu vivo de horizontes. / Não chego, mas caminho./ Não encontro, mas busco./ Ainda não sou, vou sendo”.
Na minha concepção, o mundo pode ser um ambiente pra lá de muito humano. Só depende de nós….
PS. Recomendo 1929, de Ivan Sant’Anna, Objetiva, sobre a quebra da bolsa de Nova York. Comprovando o que disse Warren Buffet, um megainvestidor americano: “Três grandes forças regem o mundo: estupidez, ganância e medo”.
(Publicada em 07.04.2014, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves