SÓCRATES E BÓSTACRES


Na quarta-feira passada, quando me preparava para dar um abração de parabéns na Valéria Jordão de Andrade, uma competente profissional que está realizando um trabalho gerencial admirável na Conta Estilo, Banco do Brasil Casa Amarela, eis que reencontro o Arnaldo, amigão fraternal de longa data, sempre atual, que logo me faz ciência de uma descoberta por ele feita quando da sua última viagem à Europa.
Numa das famosas bibliotecas do Velho Continente, aqui resguardada para evitar chafúrdios dos precipitados, um documento antigo, datado do século III a.C., aponta o verdadeiro motivo da tomada de cicuta pelo filósofo Sócrates, aquele cuja frase “não há mal em não saber, há em nada querer aprender” ajusta-se como uma luva em alguns gestores públicos brasileiros. A causa da morte do filósofo foi a sua impaciência levada ao extremo pelas imbecilidades cometidas por Bóstacres, um contemporâneo intensamente apatetado, que mesclava em seu dia-a-dia momentos de insanidade intelectual real e de ignorância sabidamente fingida para agradar os paturebas do seu derredor.
Para cada pensar do Sócrates, Bóstacres tinha uma argumentação em sentido contrário. Segundo levantamentos precários feitos à época, na Grécia existiam mil e cinquenta entusiastas de Bóstacres para cada admirador socrático. Uma relação que, grosso modo, permanece até hoje em algumas áreas tropicais, onde uma imensa maioria ainda não percebeu a essência de uma das reflexões socráticas mais adequadas para os atuais tempos brasileiros, aquela que diz “não há mal em não saber, há em nada querer aprender”. Que exprime com muita propriedade inúmeros contemplados com o Bolsa Família, que preferem ganhar mensalmente uns trocados sem exercer um trabalho remunerado.
Enquanto o admirável Sócrates utilizava a sã filosofia para induzir inspirações e ações concretas nos poucos que o ouviam em praça pública ou acompanhavam suas portentosas argumentações, a turma dos velhacos, aquela que tinha por meta única levar vantagem em tudo, principalmente no dinheiro público, não se desgrudava de Bóstacres, que proclamava que se deve lançar mão de fraudes piedosas com a massa, baseado no faquir Bambabef, que assegurava “que o povo tem necessidade de ser enganado”, ainda que para isso sempre se lance mão do jargão anestésico “nunca ninguém antes neste país …”.
Atualmente, socráticos e bostacráticos são de imediato reconhecidos nestes rincões cabralinos. Os primeiros, percebem-se em dívida com a educação das massas, sempre dispostos a aprenderem com os menos favorecidos, fazendo o bem sem atentarem para vantagens pessoais. Sabem sustentar suas convicções e sonhos, sempre estimando o ato de saber viver bem. Rejeitam as banalizações e as reflexões mal digeridas, aquelas travestidas “da monotonia repetitiva ou da robotização das vivências”.
Já os bostacráticos, inúmeros deles atualmente abrigados no PMDB – Programa de Mobilização dos Defensores de Bóscrates, se reinventam para trás, buscando acalentar apenas interesses pessoais e espúrios, solapando a dignidade nacional em detrimento de posturas canalhas de manutenção de poder. De inteligência velhaca especializada em manobras ardilosas, criatividade perniciosa ao bem coletivo, possuem um discurso ensaboado, de cores mutantes a depender da conjuntura. De saber aplicado de forma sempre escabrosa, possuem o cinismo como porta-estandarte das estratégias capciosas interessadas apenas em ganhos pessoais e outros penduricalhos.
A tarefa maior dos socráticos é a de evitar a expansão do outro agrupamento. Ainda poucos, não perderam a coragem nem a esperança de verem, um dia, o território nacional respeitado no mundo inteiro, os fins jamais justificando os meios. Sempre continuando dispostos a não alimentarem com pérolas os porcos que persistem na degeneração do todo pátrio. Suínos que estão em todos os agrupamentos sociais.