SOBRE O HOMÃO DA GALILEIA


Recebo dos pampas, onde curto amizades densamente fraternais, uma inusitada solicitação. Admirador-irmão de Dom Luiz Prado como eu e jovem engenheiro me solicita indicar neste canto da ALGOMAIS leituras desabestalhantes sobre o maior revolucionário de todos os tempos, Jesus de Nazaré. Aquele que veio para todos e muitos não o entenderam. E que por subversão foi pro madeiro como reles marginal, assassinado pelo poder imperial romano da época.

A justificativa que veio em anexo, eu assino sem piscar os olhos: a quantidade imensa de impressos anestésicos sobre o Galileu que não fortalecem a fé, que alienam, que violentam a sua missão histórica e que amesquinham sua vocação libertadora. E que o transformam num coitadinho indefeso, desconhecendo suas recomendações capitais, que terminam por afugentar uma juventude século 21, pós-moderna, cientificamente antenada, situada e datada a la Paulo Freire. Muitos quilômetros distanciada dos abiscoitados(as) ovelhosos(as) sempre de olhinhos revirados, braços para o alto e sovacos à mostra, para quem “pensar dói e pode ofender o Senhor”.

Dentre os livros que mais me fizeram próximo do Homão da Galileia e de olhar mais critico sobre as denominações religiosas vigentes e as em emersão – algumas instituídas apenas para acumulações pecuniárias de “ispertos” padres, pastores, bispos e apóstolos(as) travestidos(as) de donos(as) da verdade – identifiquei alguns textos que seguramente favorecerão uma “enxergância” historicamente relevante sobre os ontens, a época e os depois do fenômeno Jesus, filho de Maria e José, filialmente energizado pelo Criador, primo e discípulo de João Batista, amigão de Madalena, para ciumadas mil dos machistas de então e os de agora.

O propósito aqui é o de apenas oferecer um ponta-pé inicial na caminhada para a maturidade, embasado no que foi escrito, um dia, por Dietrich Bonhoefer, uma dos milhões de vitimados pela sanha assassina nazista: “Nossa maturidade nos conduz a um verdadeiro reconhecimento de nossa situação diante de Deus. Deus quer que saibamos que devemos viver como quem administra sua vida sem ele. O Deus que está conosco é aquele que deserta de nós. O Deus que nos permite viver no mundo sem a hipótese funcional de Deus é aquele diante do qual permanecemos continuamente. Diante de Deus e com Deus, vivemos sem ele.” Eis algumas indicações:

– Jesus, uma biografia, Armand Puig, Paulus, 2006. Um registro que combina muito bem investigação histórica, análise exegética e reflexão espiritual. O livro não pressupõe nem exclui convicções religiosas, utilizando sempre o método da crítica histórica.

– O Julgamento de Jesus, Gordon Thomas, Thomas Nelson Brasil, 2007. Um relato jornalístico sobre a vida e a inevitável crucificação do Galileu. Um texto de ritmo rápido, estimulante, intensamente provocador, segundo o jornal Washington Times.

– Quem é quem na época de Jesus, Geza Vermes, Record, 2008. Capítulos que descrevem com nitidez histórica os integrantes do Novo Testamento. De família judaica, Vermes é considerado o maior conhecedor de Jesus Cristo da atualidade.

– As várias faces de Jesus, Geza Vermes, Record, 2006. Um estudo de notável clarividência, que ressalta o Novo Testamento sob o prisma da civilização judaica, nunca como uma composição independente e autônoma, separada do mundo judeu. Excelente leitura para uma bem progamada viagem de descobertas.

– Os manuscritos de Jesus, Michael Baigent, Nova Fronteira, 2006. O que pensar diante de um documento jurídico romano de 45 d.C., onde um Jesus ben Josef faz declarações surpreendentes? O autor efetua uma série de revelações surpreendentes sobre o Nazareno que marcou definitivamente a história do Ocidente, sem nada mitificar. Inclusive explicando porque Maria Madalena era capaz de “ver a luz” com intensidade além dos demais discípulos.

– A Bíblia sem mitos, uma introdução crítica, Eduardo Arens, Paulus, 2007. O autor ressalta valores que se encontram situados além das dimensões comunicativas, onde a estruturação humana da Escritura não elimina a sua sacralidade. Abjurando as respostas tradicionais sem fundamento, o autor sublinha que, muitas vezes, o que se crê ou carece de fundamento ou se trata de simples espelhismo. Um trabalho que auxilia a aprofundar nossa fé no Senhor, sem as cavilosidades fundamentalistas dos “sócios” e “sósias” de Deus. Um exemplo? Favor dar uma “espiadinha” em 1Crônicas 4,9-10 e testemunhar o merchandising feito para Jabez.

– A Bíblia, Karen Armstrong, Zahar, 2007. Uma leitura que ampliará o conhecimento sobre o livro que alterou a caminhada planetária, afastando-o dos dogmatismos bororós, balizando-o na direção de um pluralismo ajustado aos desafios do século XXI.

Finalmante, numa conjuntura encharcada de imensa mediocridade pontífical, episcopal, presbiteral, pastoral sacerdotal e outros “aus”, indicaria um livro chamado Jesus – Uma Abordagem Histórica, do espanhol José António Pagola, editado pela Gráfica de Coimbra, Portugal. Não o li ainda, mas, segundo o teólogo Faustino Teixeira, com a sua leitura, “pode-se sentir renovado no amor pelo Nazareno, esse maravilhoso buscador de Deus”. Os capítulos do livro apontam para as diversas características de Jesus: o judeu da Galileia, o vizinho de Nazaré, o homem que buscava Deus, o profeta do Reino de Deus, o poeta da compaixão, o curador da vida, o defensor dos últimos, o amigo da mulher, o mestre da vida, o fundador de um movimento renovador, o crente fiel, o conflituoso perigoso, o mártir do Reino de Deus e o Ressuscitado por Deus. Capítulos que encantam, seduzem, fortalecem e convertem. Nos aproximando amorosamente do Homão, nosso Irmão Libertador, por quem sou radicalmente fascinado, sempre a mercê da infinita misericórdia de Deus, o Pai de todos nós.

Lembremo-nos sempre: estar em comunhão com Deus exige um esforço muito além do orar mecanicamente. Ele requer um superar-se diário, sentindo-se cada vez mais Filho Amado da Criação.
PS. Para Dom Renato Raatz, da Diocese Anglicana de Pelotas, merecedor de elogios no e-mail que recebi dos pampas, sobre seu extraordinário trabalho pastoral restaurador.

Portal da Revista ALGOMAIS, 22/03/2010, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves