SOBRE CHICO E OUTROS FATOS


1. Costumo dividir minhas leituras cotidianas em algumas categorias: as que me fazem minimamente permanecer atualizado na profissionalidade, as que proporcionam momentos de lazer, as que são culturalmente indispensáveis, as que tentam me atualizar numa espiritualidade adquirida ao longo da caminhada terrestre e as que relatam vivências e ocorrências com personagens que elegemos como inesquecíveis.

Dentre as últimas acima classificadas, uma me prendeu até altas madrugadas por quase uma semana: Chico, Diálogos e Recordações, Carlos Alberto Costa, SP, Editora O Clarim, 2017, 368 p. Segundo a contracapa, “fatos e documentos foram inseridos nessa edição tornando, assim, imperdível a leitura dessa valiosa obra, que chega para contribuir, ainda mais, com a rica História do Movimento Espírita na Pátria do Evangelho.” Uma edição que comemora os 10 anos do lançamento da edição primeira, com o acréscimo de algumas novidades entre Arnaldo Rocha e Francisco Cândido Xavier, carinhosamente chamados de Amigos para Sempre.

Os momentos inúmeros de convivência entre Arnaldo Rocha (1922-2012), com Chico Xavier foram devidamente catalogados por Carlos Alberto Braga Costa, um mineiro nascido em 1966, iniciado no Movimento Espírita em 1987, havendo sua mediunidade aflorado após anos de intensivos estudos, de onde partiu para difundir a Doutrina Espírita pelos quatro cantos do Brasil, cada vez mais atento às palavras de Divaldo Franco: “Não se pode pregar a Doutrina Espírita na sua pureza e transparência inigualáveis, sem referências à fidelidade do médium Francisco Cândido Xavier para com a mesma, assim como à sua extraordinária contribuição oriunda do Mundo Espiritual Superior de que ele se faz dócil e lídimo instrumento.”

2. No universo jornalístico brasileiro, diferenciado cada vez mais os repórteres investigativos e os ditos fuxicosos, um dos principais homens de imprensa é conhecido por Saulo Gomes, nascido em 1928, responsável por grandes momentos da rádio e tv brasileiras, gerador de notáveis furos jornalísticos, de intensa repercussão nos quatro cantos do mundo civilizado. Possuidor de um título reconhecido internacionalmente, o Gomes foi o primeiro jornalista cassado pelo golpe militar de 1964, tornando-se réu em mais de 100 processos instaurados contra ele, sendo absolvido em todos eles, graças à sua lisura e fidelidade à verdade. Com tais qualidades, conquistou a confiança e a amizade do notável Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, tornando-se “o repórter do Chico” no programa Pinga-Fogo da TV Tupi, a maior audiência histórica de uma produção nacional. Tornou-se Saulo Gomes responsável pela presença de Chico Xavier no Programa Pinga-Fogo, consolidando uma convivência de mais de 30 anos.

Em outubro passado, a Intervidas lançou o mais recente trabalho investigativo do Saulo Ramos sobre Chico Xavier: Nosso Chico, São Paulo, 2018, 296 p. Nele está contida na íntegra a matéria “Chico, detetive do além”, publicada pela famosa revista O Cruzeiro, de autoria de David Nasser, com fotos de Jean Manzon, onde é perceptível o sensacionalismo de em diversos trechos da matéria e legendas das fotografias, onde se chega a escrever que “a catarata em um olho de Chico foi causada pela leitura intensa!” O contato foi efetivado no Centro Luiz Gonzaga, o dois repórteres se apresentando como repórteres norte-americanos, o Manzon servindo de intérprete, dada a total “incapacidade” do companheiro. Uma reportagem agressiva, que causaria arrependimentos posteriores ao Nasser: “Na matéria eu cometi uma injustiça contra um mineiro muito simples, honesto, de bom caráter. Eu acabei com ele no texto, ridicularizei, escrachei. Demorei para perceber quem ele realmente era. Causei sofrimento a ele, e isso espelhou-se em mim. Até hoje o arrependimento me corrói.”

3. Seja qual for o seu culto religioso, qualquer pessoa é um espiritualista, concebendo a existência e a sobrevivência do Espírito, que anima os seres humanos. Morre o ser humano, mas hiberna o Espírito. Até ser reencarnado em outro corpo material. Os exemplos são inúmeros, inclusive bíblicos. Segundo Richard Simonetti, em seu notavelmente didático Conheça o espiritismo, Brasília, FEB, 2018, 185 p., eis cinco exemplos lá citados:

a. Livro de Tobias, Velho Testamento, quando um Anjo, Espírito Protetor, sob forma humana convive com Tobias, então cego, e seu filho, sem que eles soubessem a sua real natureza;

b. O “aviso” recebido pelo rei Saul do Profeta Samuel, da Morada dos Mortos, através da pitonisa de Endor, de que morreria com seus filhos no dia seguinte, em batalha travada contra os filisteus;

c. O encontro de Paulo na Estrada de Damasco, quando marchava para prender Ananias;

d. Santo Antônio atuando simultaneamente em duas localidades, indo defender seu pai num tribunal, a quinhentos quilômetros de distância de onde se encontrava celebrando;

e. O resplandecência de Jesus no Monte Tabor para Pedro, João e Tiago.

E é o poeta Castro Alves, psicografado por Francisco Cândido Xavier, no poema Marchemos!, no livro Parnaso de além-túmulo, quem proclama numa das estrofes:

“Tudo evolui, tudo sonha

Na imortal ânsia risonha

De mais subir, mais galgar;

A vida é luz, esplendor,

Deus somente é o seu amor,

O Universo é seu altar”.

Saibamos evoluir sob a mensagem do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador, ampliando nossas “enxergâncias” sempre embasadas no Amor Solidário para com todos os seres humanos, sem farolagens nem pieguices amacacadas !!!

POR QUÊ? O QUE NOS TORNA CURIOSOS
Mario Livio, Rio de Janeiro, Record, 2018, 252 p.

E buscaram responder algumas perguntas existentes no livro, esclarecendo as razões pelas quais a curiosidade é o ingrediente principal da criatividade em todos os ramos de vida, além de principal agente motivacional:
– As crianças são mais curiosas que os adultos?
– A curiosidade é um produto direto da seleção natural?
– Por que algumas questões aparentemente triviais nos deixam curiosos?
– Por que nos esforçamos tanto para decifrar os sussurros de uma conversa na mesa ao lado de um restaurante?
– Como a nossa mente escolhe os objetos de nossa curiosidade?

A leitura deste livro irresistível e muito divertido, muito poderá ampliar os hábitos de leitura e pesquisa de jovens e adultos que tremem diante de qualquer obstáculo cognitivo encontrado, acovardando-se e pondo tudo nas mãos do Criador, ampliando ignorâncias e complexos, provocando ingenuidades dos mais diferentes níveis, imaginando-se ainda os últimos da espécie.

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Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social