SINAL DE ALERTA


Vez por outra, o Thomaz Wood Jr, revista Carta Capital, manifesta preocupações com o Curso de Administração oferecido pela área de ensino superior. Segundo ele, “do Oiapoque ao Chuí, são milhares de programas de graduação, dezenas de programas de mestrado e doutorado e incontáveis programas de especialização”. Além dos MBA’s e outras indigestas denominações. Segundo ele, em 1998, o curso de graduação em Administração possuía 260 mil inscritos, somente sendo superado pelo de Direito, que registrava 300 mil. Em 2008, os que frequentavam Administração totalizavam além de 860 mil, suplantando Direito em mais de 200 mil vagas. Em 2000 havia no Brasil 989 cursos de Gerenciamento e Administração, saltando para 1809 em 2008.

Norte-americanos costumam dizer que não acreditam na possibilidade de ensinar gestão para menores de 25 anos, no que concordo plenamente. Aliás, creio ser chegado o tempo de alguns cursos superiores serem ministrados aos já possuidores de uma graduação. Um graduado em Engenharia poderia aperfeiçoar-se numa pós-graduação em Administração da Produção. Ou um médico poderia se aperfeiçoar em Administração Hospitalar. Exemplos que poderiam ter múltiplos desdobramentos, aqui não inseridos para não sair da área de Administração.

Uma pergunta do Wood: como se ensina Administração? E ele mesmo revela que a maneira como se aprende e se ensina administração vem sofrendo mutações várias nas últimas décadas. Sem falar nas pirotecnias pedagógicas utilizadas nos “embromation systems” que estão campeando neste oaís, com as exceções que nos envaidecem.

Segundo um colega de magistério, talento técnico acima da média nacional, o “estudo centrado no aluno” foi substituído por um “estudo sentado no aluno”, onde um metido a docente divide a sala em “grupos de discussão”, o tempo passa, ao final cada “coordenador de grupo” apresenta a síntese do “discutido”, ao “docente” cabendo fazer a chamada e dizer até logo para alunos que continuarão não percebendo a diferença entre teoria fundamentada e uma simples receita que estará superada em muito pouco tempo.

Diante de uma realidade que nos atordoa – o Brasil ainda é detentor de uma das piores distribuições de renda do planeta -, nos deparamos com uma rede nacional de televisão que amplia a acriticidade, abilolando ainda mais sociedade debilmente cidadanizada, para não se falar, aqui, nas receitas mirabolantes de auto-ajuda.

Na outra ponta do enredo, os gestores que buscam os caminhos do ganho fácil e sem qualquer compostura, inclusive na área pública, não se devendo excluir, aqui, os que vendem milagres imediatos de nível celestial, fiapos do pente que desassanhou Jesus quando da sua primeira ida ao tabernáculo, restos ensacados e congelados em pedacinhos da última ceia, e as intoxicantes correntes, que ameaçam com o calor do inferno quem não remeter, pelo menos, vinte cópias para amigos, parentes e aproximados.

Envolvidos nas duas faces de uma mesma moeda – a da alienação social – identificamos com facilidade os Ali Babás, com seus babões, que garimpam fortunas sob as mais grotescas formas exploratórias: disque-isso, disque-aquilo, tarôs, piadas, transas telefônicas, telequadras, telequinas e raspadinhas. Além da competitividade vigarística e pegadinhas mentirosas e artimanhas várias capazes de deixar o Corcunda de Notre Dame com corpinho de Gisele Bündchen.

A era pós-industrial aumentou lazeres e liberdades, enormes abismos se abrindo, no entanto, entre os que possuem quase tudo e os que não possuem quase nada, nem sequer esperança sadia. Onde ações levianas e devassas são cometidas pelos que se dizem cidadãos.

Num país, onde quase um quarto dos eleitores já não sabe mais em quem voltou para o Congresso Nacional nas eleições de outubro último, a conclusão de Thomaz Wood Jr vale a pena ser registrada: “Por este e outros motivos, as universidades corporativas, sediadas nas empresas, estão investindo pesadamente para desenvolver ou reciclar profissionais pouco qualificados”.

Jornal do Commercio, 05.01.2011
Fernando Antônio Gonçalves