SETE VEZES RUBEM


Passadas as eleições 2012, alegrias para uns e muitas lamúrias para os demais, recomendo a leitura de um livro que faz o pensar da gente se tornar mais humano, menos hedonista, mais solidário e menos abobado. O título da crônica é o do livro editado pela Papirus Editora, reunindo sete livros do Rubem Alves, este notável pensador brasileiro, que “está sempre a nos mostrar a beleza do detalhe, o divertido do cotidiano, o absurdo da sociedade, a possibilidade da magia”.

A leitura dos sete livros do Alves num só é imprescindível para os que buscam ampliar suas cidadanias, pugnando por futuros menos traumáticos para todos. Lamentavelmente, vivemos uma era onde pululam os pulhas mais diferenciados, que independem de sistemas econômicos, escolaridades e rendas, raças e religiões, gêneros e ideologias, iludindo os desatentos através de métodos e malabarismos de enganação. Utilizando as redes sociais, universidades, igrejas e organizações não-governamentais, sempre buscando levar vantagem em tudo, vitimando inclusive aqueles que se imaginam promovidos aos andares superiores.

Alguns dos pensares do Rubem Alves, explicitados nas mais de quinhentas páginas do seu novo livro-baú de sete livros, merecem reflexões que fortalecem um caminhar pessol-profissional continuadamente desabestalhador, numa construção-desconstrução-reconstrução existencial que favorece espantos curiosos e soluções criativas. Ressalto algumas, a ordem não revelando as importâncias delas:

1. ”Todos os suicidas que conheci eram pessoas inteligentes, sensíveis, íntegras, e nas suas vidas aparecia a beleza. Não sei de nenhum vagabundo desclassificado que tenha se matado”.
2. “Um Deus que tenha uma câmara de torturas não merece o meu respeito e muito menos o meu amor”.
3. ”Pensam alguns que o problema da educação no Brasil é a falta de recursos. É verdade que há falta de recursos. Mas é mentira que se vierem os recursos a escola vai ficar inteligente. Computadores, satélites, parabólicas e televisores não substituem o cérebro…. É perigoso dar meios eficazes a quem falta inteligência”.
4. “O conhecimento se soma com a passagem do tempo. Sabemos infinitamente mais que Sócrates, Leonardo da Vinci ou Newton. Mas não somos mais sábios que Buda, Jesus Cristo…”
5. “Somos prisioneiros da ansiedade. Pois ansiedade é isto: sofrer fora de hora, por um golpe que, por enquanto, só existe no futuro que imaginamos.”
6. “Horroriza-me a nossa impotência, diante do poder destruidor das empresas, que arrasam a natureza por amor ao dinheiro. Mas fico mais horrorizado ainda ao sentir que as pessoas não se horrorizam. Elas não amam a natureza”.
7. “A vida, com todas as suas limitações e frustrações, merece ser vivida. Às margens do caminho esburacado há morangos que podem ser colhidos e comidos. Trate de viver. Trate de comer os morangos. Esforce-se por ser feliz”.
8. “A inveja não mata. Ela só faz destruir a felicidade. O invejoso é incapaz de olhar com alegria para as coisas boas que os outros possuem”.

Lendo Rubem Alves, fico mais consciente de que sou um brasileiro nordestinado. Para continuar a batalhar por um Povo sabedor do que seja ser brasileiro, enraizado e engajado num contexto que o transforme de agente passivo em autor de um desenvolvimento nacional imune aos instrumentos que coisificam.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 30.11.2012)
Fernando Antônio Gonçalves