SEMINÁRIO DESPERTADOR


Na semana passada, aconteceu o Seminário Educação em Direitos Humanos em Pernambuco, efetivado pelo NEPEDH – Núcleo de Estudos e Pesquisas de Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Cidadania, criado em junho passado no Centro de Educação da UFPE e atualmente coordenado pela professora Aída Monteiro. Que tem por objetivo básico promover articulação entre entidades e pessoas que militam na área da Educação em Direitos Humanos, fortalecendo a capacitação, o ensino e a pesquisa num campo que necessita de maior abrangência comunicacional regional. Compartilhei uma das mesas redondas com o atuante deputado estadual Luciano Siqueira, amigo de longa data, e mais dois funcionários do MEC, da área específica.

Na explanação feita, afirmei que, em 2012, com uma crise financeira se espraiando pelos quatro cantos do planeta por ainda uns bons anos, uma constatação continuará sendo observada: a extinção gradativa da euforia sobre instituições e ideais democráticos, esmaecendo os entusiasmos reinantes tanto após a derrota do nazifascismo na Segunda Guerra Mundial quanto aos momentos seguintes à Queda do Muro de Berlim. Que robustece a necessidade de instituições como o NEPEDH, que busca fortalecer a área de EDH em nosso estado. E ressaltei também que, no Brasil, alguns sinais de uma desesperança democrática já são palpáveis: queda veloz dos entusiasmos por partidos e políticos em processo de consolidação fóssil; descaso gigantesco para com a Filosofia; crescentes insatisfações por atitudes aéticas de instituições públicas; perplexidades diante das incompetências gestatórias de sistemas educacionais; nacionalismos xenófobos ressurgentes; confusão generalizada sobre o que pode ser feito para efetivação de uma ruptura integral com o conservadorismo oligárquico nacional; ampliação do individualismo hedonista, cada um desejando tirar o seu da reta, danando-se todo o resto; amoralidades em estratégias publicitárias para ampliação do consumismo; sentimento alienatório crescente de que ‘só Jesus salva’; gigantismo prostitucional das ONGs, com 25 bilhões de setembro de 2008 a junho de 2011 não cadastrados no Siconv; ampliação da raivosidade comunitária para com governos e legislativos ineptos, pusilânimes e corruptos; hipocrisia dos pronunciamentos evasivos que buscam encontrar soluções para os problemas estruturais do país; críticas ferozes ao presidente do STM por colocar panos mornos em juízes e desembarcadores comprovadamente ladrões e corruptos, igualmente bandidos de colarinho branco; correlação altíssima entre impacto negativo dos professores dos Ensinos Fundamental e Médio e os seus rendimentos salariais; multiplicação das posturas antissemíticas e homofóbicas; cooptações despudoradas através do uso de cargos, contratos e favores descabidos; gastos per capita com presos bem maiores do que os com universitários; colapso na efetividade dos protestos públicos, intimidados ultimamente por forças repressivas; e, para um não muito prolongar, acusações convincentes contra a cristandade, já definida como ‘uma mulher com véu, contas de um rosário e um missal na mão, coberta por uma capa de lã de carneiro, mas com as pernas e os pés de um lobo, oferecendo com relutância dinheiro a um pedinte em praça pública’.

Recentemente, o presidente Barack Obama se mostrou preocupado com alguns indicadores internacionais, que apontavam os jovens norteamericanos em 21º lugar em Ciências e em 25º em Matemática. E proclamava ser chegada a hora dos EEUU assumirem a responsabilidade pelo futuro do país, lamentando interesses partidários e desavenças ridículas. Tais e quais os que preponderam em parlamentos latinoamericanos, inclusive brasileiros, onde um Plano Nacional de Educação continua sendo “ruminado” por um Congresso Nacional que nada tem de progressista, muito pelo contrário, além de cinicamente fisiológico, com as mínimas exceções que ratificam a regra.

A reflexão é da Lya Luft, autora de A Riqueza do Mundo: “E quando tudo me aborrecer de verdade, quando eu ficar cansada das minhas neuroses e manias, quando as pessoas estiverem demais distraídas, a paisagem perder a graça, a mediocridade instalar seu reinado e anunciarem o coroamento da burrice, vou expiar o letreiro que fala de uma riqueza disponível para qualquer um, e que botei como descanso de tela no meu eternamente ligado computador: Escute a canção da vida”. Uma canção da vida vivenciada com dignidade e muito respeito pelos Direitos Humanos!

Assistamos novamente O Ovo da Serpente, de Ingmar Bergman. Para ampliar nossas enxergâncias em 2012, defenestrando eleitoralmente oportunistas, incompetentes e gatunos. Para compreender melhor o significado de “rupturas inconclusas”, expressão didaticamente bem exposta pelo deputado Luciano Siqueira no seminário que comparecemos.

PS. Parabéns efusivos ao advogado Antônio Campos, presidente do Instituto Miguel Arraes, pela entrevista concedida à revista Carta Capital. Que a Comissão da Verdade identifique os responsáveis pelas ações criminosas praticadas pela Operação Condor, uma ignomínia latinoamericana acontecida com anuência de brasileiros civis e militares.

(Publicada em 05/12/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves