SEM COMPLICAÇÕES


Outro dia, ex-aluno me perguntou se eu sabia que o budismo era uma das religiões mais populares do mundo. Segundo ele, milhões de pessoas, num sem-número de países, inspiram-se nos ensinamentos do jovem príncipe Sidhartha Gautama, tornado Buda quando abandonou sua vida de luxo e riqueza, saindo em busca de dominar o sofrimento humano, passando por uma experiência religiosa transcendental, que o tornou Iluminado, induzindo-o a ensinar e guiar os outros.

Quando ainda era criança, um brahmin (sábio) lhe disse que ele viria a ser um sábio que ajudaria a dominar os sofrimentos dos seus semelhantes, tornando-se andarilho. Tornado rapaz, apesar das resistências paternas, Siddhartha testemunhou o sofrimento alheio. Sentando-se sob uma árvore, no nordeste da Índia, para meditar, lá alcançou um estado transcendente conhecido como iluminação. E se libertou do medo do sofrimento humano, passando a dissertar sobre suas percepções, até se encantar em 483 a.C.

Atualmente, há duas vertentes do budismo: a tradição tetravada, mais antiga, e o budismo maaiana, que possui muitas formas diferentes. O budismo tetravada, por exemplo, não tem nenhuma concepção de um deus todo-poderoso, presente em alguns tipos de budismo maaiana. Entretanto, todos os budistas veem sua fé como uma religião ativa que afeta diretamente a maneira de viver das pessoas. Todos tentam viver bem, reduzir o sofrimento humano e respeitar o meio-ambiente. E consideram acumular um bom carma para gozar de um renascimento favorável na próxima vida.

Papo vai e papo, perguntei a ele sobre como poderia ler algo sobre como relaxar no meio ao estresse cotidiano, onde patifarias mil, escabrosidades de montão, cinismos, demagogias e pasadenas parecem sufocar a dignidade da gente brasileira, que muito pacificamente toma conhecimento das manobras mais espúrias, ora violentando o erário público, ora ludibriando a justiça, ora fazendo uso de mil e uma fisiologias políticas, engabelando eleitores mais ingênuos com promessas messiânicas mirabolantes.

O Felício me presenteou com um livro de título aparentemente desconcertante: Budismo na Mesa do Bar – Um Guia para Relaxar em Meio ao Estresse do Dia a Dia, de Lodro Rinzler, praticante de meditação e professor da Shambhala budista, hoje residindo em Nova York, fundador do Institute for Compassionate Leadership.

Na orelha do livro, uma advertência: “É necessário mudar a sua vida para viver as verdades deste livro? Claro que não. Este livro destina-se a qualquer um que pelo menos uma vez tenha dito ‘E sou espiritualizado’. Vou tentar levar o meu dia com um pouco mais de compaixão. Vou relaxar um pouco e aproveitar a minha vida”. Resumindo: não é preciso mudar você mesmo. Você é ótimo. Só precisa viver a sua vida ao máximo.

Bom seria se todos lessem, meditando, as Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo, para um viver bem mais dignificante.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 04.04.2014