SADIA PROVOCAÇÃO


Aproveitando o acalmar dos debates sobre os avanços imobiliários e parabenizando o prefeito João da Costa pela preservação da Tamarineira, iniciativa que mereceu aplausos da população recifense, envio-lhe uma sadia provocação, aproveitando o embalo das muitas sugestões a ele enviadas pelos seus munícipes.

Trata-se de proposta que certamente acarretaria a ampliação do seu ibope perante as comunidades recifenses: transformar o ainda monstrengoso Parque Dona Lindu numa Biblioteca-Parque Dona Lindu, similar à Biblioteca-Parque Manguinhos, inaugurada no Rio de Janeiro em abril passado, a um custo de R$ 8,7 milhões, bancados pelo PAC do presidente Lula. Uma iniciativa inspirada num projeto da Colômbia, hoje consagrado internacionalmente por ter drasticamente reduzido, lá, os índices deliquenciais.

Para que o prefeito João da Costa sinta a grandiosidade da Biblioteca-Parque Manguinhos, antigo Depósito de Suprimento do Exército, ouso apresentar-lhe alguns dados: 3,3 mil metros quadrados, 40 computadores, 3 milhões de músicas, 25 mil livros, 900 DVD’s, 5 televisões de LCD, estúdios de dança, de leitura e de multimídia, atendendo 16 comunidades da Zona Norte do Rio de Janeiro, totalizando 100 mil habitantes. Além do mais, todos os 28 funcionários da Biblioteca-Parque Manguinhos são moradores da região devidamente capacitados, além da parte técnica especializada.

Certa feita, visitando Curitiba para a efetivação de um trabalho acadêmico na Universidade Federal do Paraná, fui convidado para conhecer o Farol do Saber Miguel de Cervantes, situado na Praça Espanha daquela capital. Parte de uma rede de pequenas bibliotecas espalhadas pelos bairros curitibanos, cada uma dispondo de um acervo médio de seis mil livros, além de acessos gratuitos à Internet, integrando o projeto Digitando o Futuro. O bloco arquitetônico é caracterizado por uma torre de farol de dez metros de altura e uma área construída de 88 metros quadrados. A torre reverencia o Farol de Alexandria, sendo o primeiro deles o Farol Machado de Assis, inaugurado em novembro de 1994. Atualmente, mais de 50 “faróis” estão funcionando nos bairros de Curitiba, com uma média mensal de 200 mil leitores, totalizando mais de 400 mil livros emprestados por ano.

Segundo informações técnicas, percebe-se que toda região que anseia pela elevação das suas taxas de desenvolvimento social não deve prescindir de bibliotecas públicas promotoras de aproximações efetivas entre comunidades e conhecimentos. As bibliotecas públicas propiciam informações que ampliam, através de “aprendências não-onerosas”, as “enxergâncias” capazes de binoculizações que ensejam coletivamente a preparação para o exercício de profissões técnicas, a iniciação científica, a ampliação cultural e o aprofundamento dos estudos. Infelizmente, em nosso país, as bibliotecas comunitárias geralmente situam-se em áreas pouco atraentes, recebendo poucos ou mínimos apoios governamentais, sem pessoal qualificado.

A Biblioteca-Parque Dona Lindu bem que poderia servir de farol maior do saber, cabeça mater de um sistema de outros “faróis”, distribuídos pelas periferias recifenses, disseminando informações e conhecimentos técnico-científicos e culturais, também idealizando atividades dinamizadores interligadas que fortalecessem a imagem do Bibliotecário para além das suas meras atribuições emprestativas.

Seguramente, a Biblioteca-Parque Dona Lindu, com as novas atribuições exigidas pelos amanhãs que nos batem à porta, suscitaria novos ares pensantes para uma capital líder, a do Leão do Norte, que deve capitanear regionalmente a consolidação de uma realidade sócio-educativa capaz de erigir futuros mais contemporâneos para todas as comunidades nordestinas.

Ao prefeito João da Costa, encarecendo o deferimento, agradeço em nome de todos os beneficados pelas implementações necessárias.

(Jornal do Commercio, Recife – PE, 28.07.2010)
Fernando Antônio Gonçalves