SABEDORIA DE NAPOLEÃO


Dizem os historiadores que Napoleão Bonaparte, um dos maiores mitos de todos os tempos, imperador dos franceses de 1804 a 1814, possuía talento de estrategista, facilidade de empolgar comandados e memorável espítiro de liderança. E costumava classificar seus soldados em quatro grandes categorias: 1. Os inteligentes com iniciativa; 2. Os inteligentes sem iniciativa; 3. Os ignorantes sem iniciativa; e 4. Os ignorantes com iniciativa.

Aos inteligentes com iniciativa, Napoleão delegava funções de comandantes estrategistas, posto que eram capazes de desenvolver criatividades empreendedoras. Aos inteligentes sem iniciativa, Bonaparte os tornava oficiais para receberem ordens superiores, que eram cumpridas ovelhisticamente. Para os ignorantes sem iniciativa, o imperador francês os colocava nas frentes de batalha, como buchas de canhão. Finalmente, Napoleão odiava os ignorantes com iniciativa, desejando vê-los bem longe dos seus exércitos. Segundo ele, um ignorante com iniciativa é capaz de fazer besteiras gigantescas e depois, dissimuladamente, tentar ocultá-las, além de falar o que não deve, fazer o que não pode e envolver-se com quem não poderia, causando prejuízos incalculáveis para os empreendimentos estratégicos. Além de fazer besteiras, produz sem uma mínima qualidade, tornando-se um grande risco para qualquer iniciativa.

Certa feita, alguém escreveu: “vivemos na era das pulhas as mais diferenciadas. Que independem de sistemas econômicos, escolaridade e renda, raça e religião, gênero e ideologia. Ilude-se hoje abertamente, utilizando os mais diferenciados meios e métodos de enganação, da praça pública à televisão a cabo, passando pela Internet, universidades e organizações não-governamentais, algumas delas descaradamente neo-governamentais. Para não falar dos famigerados guias eleitorais, que deslumbram os abestados de sempre, os assaltados pelos que buscam levar vantagem em tudo. Todos tornados filhos da pulha, eternos enganados, posto que distanciados de ambientes criativos e críticos”.

Na lista das pulhas século 21 ainda se destacam as futurologias mais desvairadas, os histerismos das ideologias que de há muito já se descoloriram, as religiões televisivas que oferecem mundos e fundos através de coletas faraônicas, as homeopatias e alopatias que prometem levantar até o que amoleceu ad perpetuam rei memoriam. E mais: as ciências humanas cada vez mais tecnicistas; um ensino recheado de embromações cênicas, a novelação televisiva, choramingadora umas vezes, noutros momentos mostrando todo mundo se esfregando em todo mundo, asfixiando uma sadia sexualidade mediante grotescos entra-e-sai sem arte nem inspiração; o cinismo da caridade dita solidária; o democratismo insípido e bolorento dos que não sabem conjugar com eficácia o binômio democracia x disciplina; as direitas carpideiras, sempre buscando a aplicação da lei de oferta e procura com amplos subsídios governamentais. Além dos viciados em drogas várias, tomados como exemplos televisivos, que estão a merecer análises sem hipocrisia dos especialistas.

A hora da sociedade civil brasileira se manifestar é mais que chegada. Para salvaguardar nosso amanhã nacional, um futuro a ser construído sob duas advertências basilares: “As coisas em si mesmas não são nem boas nem más, é o pensamento que as torna desse ou daquele jeito”. (Hamlet, Ato II, Cena 2); e “Para nós, jovens, é duas vezes mais difícil manter nossas opiniões numa época em que os ideais são estilhaçados e destruídos, quando o pior da natureza humana predomina, quando todo mundo duvida da verdade, da justiça e de Deus”. (Anne Frank).

Se o Bonaparte estivesse por aqui, iria certamente ter um trabalho dos diabos para diferenciar seus comandados. Principalmente no segundo turno, com gente desdizendo o que disse e gente dizendo o que nunca disse, tudo sob as “bênçãos eleitoreiras” de Deus….

Jornal do Commercio, 10.11.2010
Fernando Antônio Gonçalves