SABEDORIA DE BARBEIRO
Se me solicitassem leitura para um bom começo de ano, recomendaria um texto de muto bom nível técnico e estético. Uma leitura sem eruditismos cavernosos, própria para quem deseja enfrentar um 2011 de jeito inovador, repensando antigas premissas e buscando novas alternativas para um mundo em processo acelerado de parto. Onde uma nova ciência, a noética, que trata da economia das ideias numa época de rutura como a contemporânea, concentrando-se no estudo e desenvolvimento das formas emergentes de conhecimento e criação que geram e alimentam a noosfera, aquela parte da biosfera mais influenciada pela atividade mental consciente, segundo conceito teórico-científico estruturado por Teilhard de Chardin, teólogo, filósofo e paleontólogo jesuíta francês.
O livro que recomendaria intitula-se Crise e Comunicação Corporativa, do Heródoto Barbeiro, editado recentemente pela editora Globo. Os quatorze textos e sua Apresentação, desenvolvidos num estilo sedutor, trazem lições que deveriam sobreviver na mente de todos aqueles que buscam horizontes e ares empreendedores nunca insípidos, públicos e empresariais. E elas carregam um paradigma significativo: as sociedades possuem hoje cada vez mais poderosos instrumentos de fiscalização, não dando mais para evitar a transparência e a conduta ética.
O Barbeiro repete, com propriedade ímpar, que “nunca mais tudo será como antes no quartel do Abrantes”. Imaginemos se seria possível, anos passados, divulgar notícias sobre peraltices de dois ministros da República, um flagrado promovendo uma festinha de amigos num motel alugado, não se sabendo se todos usavam os maranhões de todos ou se cada um se contentava no usufruto do seu. Nem se no motel havia “assistentes” turísticos orais e manuais. O outro ministro, hóspede de hotel pago pela Mãe Pátria, por fora recebendo auxílio-hospedagem dos cofres públicos. Não se sabendo ao certo se com ou sem varas de pescar, para devaneios no Lago Paranoá, com minhocas de vários tamanhos e performances à disposição.
O disse-me-disse da comunicação encontra-se sob novos procedimentos, onde tudo pode ser transmitido sob as mais diferenciadas maneiras: sons, imagens, textos, arquivos, fotos e filmes. Onde todos podem reproduzir fatos e feitos, sem a necessidade de diploma de curso superior. E o questionamento do Barbeiro é de primeira ordem: “Não é mais barato ser transparente e responder na rede pelos acertos e erros?”
No seu livro, Barbeiro revela que os usuários brasileiros de internet crescem a olhos vistos. Em 2005, 32,1 milhões; em 2009, 63,0 milhões, uma quase duplicação acontecida em apenas quatro anos!! Muitos jovens já perguntando aos seus pais como era possível existir vida inteligente antes da internet…
A distribuição etária dos internautas patrícios atualmente é a seguinte: 21% de 10 a 15 anos, 34% de 16 a 24 anos, 24% de 25 a 34 anos, 13% de 35 a 44 anos, 7% de 45 a 59 anos, e apenas 1% acima de 60 anos. Além disso, 80% dos usuários acessam as redes sociais como Orkut, Facebook, mais da metade lendo diariamente os blogs mais diferenciados, alguns educatvos outros cáusticos. Em quase todos eles não leva em consideração os códigos jornalísticos, o interesse comunitário, a inclusão social, o direito de resposta e a presunção de honestidade.
Algumas recomendações do Barbeiro não devem ser desconsideradas: “Ninguém melhora a exposição de um veículo com mau humor e ameaças veladas”; “Atenções redobradas às mudanças que estão acontecendo na sociedade contemporânea, após a emersão de vários segmentos sociais”; “No passado acreditava-se que um bom relacionamento com a mídia passava pelo envio de uma boa garrafa de vinho”; “Uma vez iniciado o jogo, não se pode confundir bom relacionamento profissional com amizades, indiscrições, confidências e intrigas”.
As orientações restantes do Barbeiro, todas excepcionais, eu as deixo para leitura 2011 dos que desejam ampliar mercados e lideranças.
(Publicada em 03.02.2011, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves é professor universitário e pesquisador social