ROTEIROS PARA ESTUDOS


Quase diariamente, deparo-me com textos escritos por universitários que poderiam ser jogados na lata do lixo sem qualquer justificativa piedosa. Sem qualquer mínima lógica possível, tais escritos revelam um aprender desqualificado, sem objetividade alguma, vomitador por derradeiro, merdálico por excelência, com todos os odores possíveis e de largo alcance.

Um exemplo aconteceu comigo, tempos não distantes ainda. Levando páginas reescritas para um determinado cidadão de bom trânsito nas colunas sociais, terminei um parágrafo ensejando “um lugar de destaque de Pernambuco no concerto dos estados brasileiros”, eis que sou surpreendido, dia seguinte, com um convite para recebimento do que tinha sido combinado. Fui recepcionado com alegria e parabéns pelo distinto, apenas uma pequena correção sendo feita por ele: seria “conserto”, não “concerto”, a palavra que lá estava por mim escrita. Defendendo meu texto, informei que o correto, ali, seria “concerto”, nunca “conserto”. Imediatamente, a secretária foi chamada, a ela sendo solicitado um dicionário. Aurélio na mesa, o cidadão foi direto à palavra “conserto”, olhando-me com imensa satisfação. Pedi licença, folheei o dicionário, remetendo-me à palavra “concerto”, situada páginas anteriores. Quando mostrei a palavra que tinha sido por mim usada, uma justificativa me foi apresentada de supetão: – São palavras de dupla grafia, Fernando amigo. Como o cheque do trabalho ainda não tinha sido depositado, preferi o silêncio não obsequioso, rindo-me por dentro, sem interesse algum de ser notado, para não despertar raivas e anulações de pagamento.

Atualmente, muita criatividade não pode emergir de cérebros juvenis do ensino médio, por absoluta ausência de um correto modo de utilizar uma ferramenta de muita valia para a consecução de um aprendizado consistente e duradouro. Aprender, desaprender e reaprender exige uma metodologia apropriada, assimilada através de uma prática continuada de prazerosas “aprendências”, cujos resultados ampliam as “enxergâncias” de estudantes empreendedores, multiplicadores de talentos a eles subordinados.

Como estudar atualmente, quando atos e fatos, verdadeiros uns, falaciosos outros, invadem os meios acadêmicos da juventude, para não se falar de fotos e feitos de apenas cinco minutos de fama, “rabolátricos” uns, meros pantins outros, todos eles mais “sedutores” que as páginas de um livro didático de boa feição? Como manter a concentração, administrando seu tempo de estudo? Como aprender de forma consistente e duradoura, sendo capaz de relembrar os assuntos posteriormente, por ocasião de algum teste?

Outro dia, um profissional de Ciências Humanas me dizia detestar ler, pois quando chegava nas páginas seguintes de um capítulo, já não se lembrava mais das descrições feitas nas primeiras linhas dele, embaralhando-se tudo em sua cabeça quase oca, pouco “habitada”. Ele era um profissional com menos de cinco anos de graduação, embora ainda na sobrevivência porque tinha um pai de bom faro comercial, talentoso, de apenas ensino médio bem concluído outrora.

Recomendei-lhe um livro muito oportuno para todas as idades: Você sabe estudar? Quem sabe, estuda menos e aprende mais, de Cláudio de Moura Castro, Porto Alegre, RS, Editora Penso, 2015, 173 p.
O autor é economista, mestre pela Yale University e doutor pela Vanderbilt University, tendo sido professor de pós graduação em várias universidades, entre elas a PUC – Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas, a Universidade de Brasília, a University of Chicago (USA) e a Université de Genêve (Suíça). Atualmente sendo assessor especial da presidência do Grupo Positivo. Tive muito orgulho de ter sido seu aluno no Mestrado em Educação da PUC – RJ, na área de Planejamento Educacional.

Edição primorosa, exposições sem fricotes nem emocionalismos piegas. Um livro que ensina como obter melhores resultados em testes, provas e trabalhos. E mais: como entender melhor assuntos difíceis, como não esquecer o conteúdo estudado, como fazer anotações, resumos e mapas mentais e como ler um livro efetivamente.

Moura Castro tem explicitações notáveis, típicas de sua inteligência prodigiosa, uma estupenda bagagem cultural. Exemplo: segundo ele, pode-se dizer que o princípio mais óbvio da teoria da aprendizagem é A = F (B / C / H). Traduzindo: Aprendizagem é função de Bunda, Cadeira e Hora. Outro: Descobriu-se que dormir pouco é uma grande besteira. Não é uma boa estratégia para render mais, seja no trabalho, seja nos estudos. Mais uma: Na biblioteca ou na internet, aprender a buscar é também aprender a proteger-se das informações erradas e das desinformações. E, para não esticar muito, uma última do Moura Castro: “A crença no sucesso é um estado de espírito. A persistência é um hábito”.

Uma recomendação notável do Moura Castro é basilar para os vestibulandos brasileiros: “Afobação atrapalha, e muito!! Mesmo que não fiquemos paralisados pela ansiedade, ela consome energia e ocupa uma boa parte da nossa mente, deixando menos capacidade de raciocínio para resolver a questão”.

Como diz Luiz Berto, jornalista consagrado, coordenador do aplaudido nacionalmente site do Jornal da Besta Fubana: “Uma recomendação da porra!!!”

PS. Confesso que me sensibilizei bastante com a entrevista dada pelo senador Cristovam Buarque nas páginas amarelas da revista Veja, edição 2461, intitulada Desaprenderam de Pensar, declarando, como ex-ministro da Educação do governo Lula, que “a universidade desconectou-se da realidade brasileira. Está subordinada aos sindicatos, fragilizada pelo corporativismo e pelo despreparo dos acadêmicos”. Uma entrevista que está a merecer uma ampla reflexão sobre os destinos futuros da nossa Educação, hoje mais burocrática e carimbológica e diminuta de pensação evolucionária.

(Publicado em 18.01.2016, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com/sempreamatutar)
Fernando Antônio Gonçalves