RESPONSABILIDADE CIDADÃ


Estamos numa conjuntura mundial que pode ser classificada como uma das mais gigantescas encruzilhadas da História, envolvendo segmentos religiosos, econômicos, sociais, políticos e familiares, entre outros, alterando relacionamentos pessoais e internacionais. A expressão “tempo axial”, do psiquiatra e filósofo alemão Karl Jaspers, é mais que feliz. Dá a noção de um tempo onde as ideias celeremente alteram, qualitativa e quantitativamente, os modos de ser, de agir, de criar, de prognosticar e de empreender, fazendo emergir uma sociedade de continuadas inovações, onde os destinos planetários se encontram sob a responsabilidade dos humanos, dado o colapso das religiões e das ideologias, que perderam suas credibilidades, embora permanecendo cada vez mais ampliados os desejos por liberdada e democracia, bem como os interesses por novas formas de espiritualidade, desdogmatizadoras por excelência.

Diante da conjuntura e das mutabilidades multisetoriais, entendemos que os responsáveis por crianças e adolescentes estão atônitos, dada suas impossibilidades de maiores reflexões sobre as evoluções presentes, face às indisponibilidades de tempo para leituras e análises contemporâneas. Que, segundo o idiótico pensar da maioria, os desviariam das suas “especialidades técnico-científicas” que deles muito já exigem. Entretanto, os pais e mães responsáveis pela cidadania futura de suas crianças e adolescentes poderiam se deter nas recomendações de um psiquiatra muito conceituado, Dr. Içami Tiba, algumas delas reproduzidas abaixo para favorecer uma reflexão a dois:

1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.
2. É preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.
3. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança.
4. Em casa que tem comida, criança não morre de fome . Se ela quiser comer, saberá a hora. E é o adulto quem tem que dizer qual é a hora de se comer e o que comer.
5. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.
6. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para fazer uso da droga . A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da ideia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto.
7. A mãe é incompetente para ‘abandonar’ o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, ele não a respeita.
8. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.
9. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se for mal na faculdade.
10. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.
11. Se a mãe engolir sapos do filho, ele pensará que a sociedade terá que engolir também.
12. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.
13. O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.
14. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.
15. Cair na conversa do filho é criar um marginal.

Recomendações que devem ser assimiladas após amplamente debatidas a dois, face às circunstância históricas de uma pós-modernidade enigmática por derradeiro. Assimilações adotadas sob a bandeira do “risco por amor”, a procurar a melhor das alternativas, sabendo dar um passo atrás para adiantar-se, dando dois passos para a frente. Sempre reconhecendo que águas passadas não movem moinho e que os ontens jamais retornarão, os amanhãs sendo bem mais promissores que as eras pretéritas.

PS. Depois do segundo turno das eleições, os principais partidos envolvidos deverão voltar-se para análise consistente dos erros estratégicos cometidos por arrogâncias, triunfalismos de bosta, messianismos idióticos, rapinagens descaradas e babelismos paranóicos. O Povo Brasileiro já começa a saber dar troco. Que diga a estupenda votação do apaulistado palhaço Tiririca. De vida bem menos suja que a de muitos ladravazes de colarinho branco que zombam das grades.

(Publicada em 11/10/2010, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves