REFRESCANDO MEMÓRIAS
Vez por outra revejo o que arquivo eletronicamente, alguns posicionamentos de parlamentares brasileiros. Para compará-los com as futuras mutabilidades cínicas dos seus autores. Balizamentos de um tipo de gente que necessita ser varrido, sem dó nem piedade, pelos eleitorados abestados de todas as classes sociais, antes que a vaca autoritária tussa, iniciando um novo ciclo de perversões, assassinatos e torturas, Brasil, ame-o ou deixe-o. Vejamos algumas pérolas:
1. “O partido confundiu-se com o governo, tornou-se aparelho do Estado e acreditou que os fins justificavam os meios. Agora, só há salvação se os responsáveis por tudo isso forem punidos.” (Deputado federal José Eduardo Cardozo, PT-SP)
2. “O PT foi atingido de forma irremediável. Do ponto de vista do patrimônio da lisura e da ética, acabou jogado na vala comum. E essa situação é irrecuperável. (Deputado federal Antônio Carlos Biscaia, PT-RJ)
3. “O PT errou: afastou a militância, pôs burocratas no governo e se entregou às vontades de Lula. E que vontades eram essas? Apenas a do poder pelo poder. Agora acabou. O castelo de areia ruiu.”
(Economista e ex-militante petista Paulo de Tarso Venceslau, expulso do PT em 1997)
4. “O PT cometeu o pecado original. Comemos a maçã proibida, o fruto da ambição. Foram muitas mentiras. E o pior é que o PT só está querendo achar culpados individuais. Não quer assumir o grande equívoco que cometeu com a nação.” (Deputado federal Paulo Delgado PT-MG)
Em compensação, há personalidades brasileiras que muito honram a dignidade pátria, agindo com destemor e semeando patriotismo por todas as regiões, do Oiapoque ao Chuí. Uma delas chama-se Hélio Bicudo, militante dos Direitos Humanos, bravíssimo combatente do Esquadrão da Morte no final dos anos 60. Um petista octogenário de carteirinha, desassombrado ao extremo. Eis suas opiniões, publicadas pela imprensa brasileira:
– “Não posso admitir que dentro da história que venho construindo, muitas vezes penosamente, eu possa ser considerado partícipe do que está acontecendo”.
– “É impossível que Lula não soubesse como os fundos (do mensalão) estavam sendo angariados e gastos”
– “Lula é um homem centralizador. Sempre foi presidente de fato do partido. É impossível que ele não soubesse como os fundos estavam sendo angariados e gastos e quem era o responsável. Não é porque o sujeito é candidato a presidente que não precisa saber de dinheiro. Pelo contrário. É aí que começa a corrupção”
– Dando um exemplo: “Em 1997, presidi uma comissão de sindicância do PT para apurar denúncias contra o empresário Roberto Teixeira, que estava usando o nome de Lula para obter contratos de prefeituras em São Paulo. A responsabilidade dele ficou claríssima. Foi pedida a instalação de uma comissão de ética, e isso foi deixado de lado por determinação de Lula, porque o Roberto Teixeira é compadre dele. O único punido foi o Paulo de Tarso Venceslau, autor da denúncia. Ainda que não existisse necessariamente um crime, havia um problema sério, ético, político, que tinha de ter sido discutido e não foi. Essas coisas todas vão se acumulando e, no final, acontece o que se vê hoje”.
– Começo do errado: “Quando a direção passou a tomar a frente das campanhas políticas. No início a militância era a grande força eleitoral. Isso foi mudando na medida em que o partido começou a abandonar os princípios éticos. A partir da campanha eleitoral de 1998, instalou-se definitivamente a política de atingir o poder a qualquer preço”.
– Sobre ânsia de poder de Lula: “Sim. Mas ele quer a representatividade, sem o ônus do poder. Ele dividiu o governo como se estivéssemos num sistema parlamentarista. É o chefe do Estado, mas não do governo. Nisso há, aliás, uma clara violação da Constituição, que é presidencialista. A consequência foi o aparelhamento do Estado, um governo sem projeto e essa tática de alcançar resultados pela corrupção do Congresso Nacional”.
– Sobre José Dirceu: “Dirceu é um trator. Ele é um homem que luta, sem restrição a meios, pelo poder. Está impregnado desse objetivo. Ele é o melhor representante de um grupo que aspirava ao poder pelo poder, não para fazer as reformas que sempre defendemos. O PT chegou ao governo sem projeto. Se Lula quisesse transformar o sonho petista em realidade, poderia ter se cercado de gente que o ajudaria nisso. Pessoas como Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares, Fábio Konder Comparato, Maria Victoria Benevides, Paulo Nogueira Batista Junior trabalharam no programa e foram depois pura e simplesmente deixadas de lado. Foi uma escolha”. Sobre José Dirceu, hoje respeitável gerente de um hotel de São Pedro, em Brasília, o jornalista Cid Benjamin, fundador e ex-dirigente do PT, assim reproduziu o escrito por Ricardo Noblat no seu recente livro Gracias a la vida – memórias de um militante, José Olympio, 2013, p. 274: “O contrato de seis meses (entre a Delta e Dirceu) foi assinado no fim de 2008. Nessa época os contratos da empresa com o governo federal mais que dobraram. Passaram de R$ 393 milhões para R$ 788 milhões em 2009. Atualmente, a Delta é a empresa que mais recebe dinheiro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – R$ 885 milhões em 2012”.
– Sobre o futuro do PT: “Depende muito de como esse processo vai prosseguir. Se continuarmos com uma direção chapa-branca, não vamos chegar a lugar algum – a não ser no “desfazimento” de um partido que poderia ter chegado ao poder para realizar as reformas necessárias, mas só conseguiu promover um grande isolamento do Lula”.
Que os leitores da Besta Fubana ampliem a cidadanização, sempre relembrando o dito por frei Betto: “Nada mais parecido a um esquerdista fanático, desses que descobrem a nefasta presença do pensamento neoliberal até em mulheres que o repudiam, do que um direitista visceral, que identifica presença comunista inclusive em Chapeuzinho Vermelho”.
(Publicado no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco, 02.12.2013
Fernando Antônio Gonçalves