REFLEXÕES DO EDGAR


O ex-secretário de educação Edgar Mattos, também ex-presidente do Conselho Estadual de Educação de Pernambuco, presenteou o plenário do CEE-PE com exemplares da sua produção intelectual recente, Dever de Casa – Experiências de Frases para se Fazer Pensar a Educação, edição da olindense Telegráfica Editorial.

Muito embora a pena jamais tenha tido mais poder que a espada, principalmente nestes atuais tempos fraturados, expressão feliz de Eric Hobsbawn – erudito recentemente falecido, um dos últimos intelectuais protestativos dos instantes puxasaquísticos de hoje, um dos Quixotes que punha fé na ação política para aperfeiçoar o mundo -, o Edgar Mattos continua sonhando com os pés no chão, favorecendo com suas reflexões a ampliação da enxergância de pais e mestres que necessitam se apetrechar para travar o bom combate diante das ameaças tecno-bur(r)ocráticas dos que nunca apreenderam a lição do economista Celso Furtado, um paraibano-nordestino-brasileiro-do-mundo: “O quadrado da hipotenusa é a soma dos quadrados dos catetos. Mas será que o triângulo é retângulo?”.

As frases do Edgar Mattos deveriam ser motes para debates educacionais, hoje a esperar que um fétido Congresso aprove um PNE que parece nascer recheado de emendas que violentam um mundo dinâmico, onde a infografia (gênero jornalístico que utiliza recursos gráfico-visuais para apresentação sucinta e atraente de determinadas informações), nos países subdesenvolvidos, buscam hipnotizar empreendimentos públicos metidos a alavancadores de uma geração Y, aquele grupo de pessoas de 18 a 35 anos que usa a tecnologia com destreza, preza por flexibilidade criativa, tem espírito prognóstico nunca-reativo e que principia a exigir ter oportunidade de envolvimento com temas de efetivo interesse social, fora das quatro paredes jaulísticas (de jaula) das que rapidamente tornam-se obsoletas universidades.

Observemos algumas reflexões do Edgar Mattos, que deveriam alertar dirigentes educacionais tartarugais, mais carimbos que criatividade, mais auditoria moralista que evoluções cativantes, dessas que favorecem a libertação mental e social de crianças e jovens que necessitam profissionalizar-se sem perder a ternura jamais, nunca esquecendo uma regionalidade que agiganta alegrias e esperanças em amanhãs nunca miméticos: “As insuportáveis tensões geradas pelas frustradas tentativas de adaptação às frequentes e profundas transformações desse mundo mutante, provocam a desestabilização psicológica do homem a explodir sob as formas da violência do vandalismo, da toxiconomia e do fanatismo.”; “É possível transformar os Conselhos de Educação no grande fórum de discussão dos problemas do ensino, libertando-o dos mesquinhos encargos cartoriais de aprovar, homologar, reconhecer e convalidar.”; “Organizações de grande porte e de extrema complexidade, as secretarias de Educação exigem do seu titular muito mais capacidade gerencial do que saber pedagógico.”; “Entre os bons propósitos dos mais criativos planos educacionais e a sua perfeita execução há um longo caminho que só pode ser percorrido por uma Administração competente.”

Para os que sonham com uma educação pública de qualidade, como Edgar e tantos outros, nada melhor que continuar honrando a memória do Quixote de Cervantes. Pois, como Martinho da Vila, Edgar e eu não nascemos para coronel.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 29.06.2013)
Fernando Antônio Gonçalves