REFLEXÕES DE GURU
Conhecidos meus não entendem xongas quando ouvem dizer que alguém disse “um homem sábio é como um barco vazio, não há ninguém dentro”. Arraigadamente tecnicistas, nunca se interessaram pelas suas origens espirituais, sempre distanciados das histórias do místico chinês Chuang Tzu, que fala da ausência do ego, sobre a espontaneidade do viver, enfrentando com ampla serenidade o caminhar do alfa ao ômega, sem anseios nem obsessões ilusórias, postas de lado as ambições pelo poder e pelas gordas contas bancárias, aqui e nos paraísos fiscais.
Li vagarosamente O barco vazio: reflexões sobre as histórias de Chuang Tzu, de Osho, SP, Cultrix, 2012, o autor sendo considerado pelo Sunday Times de Londres como “uma das mil personalidades mais influentes do século XX”, tendo o romancista Tom Robbins o considerado “o homem mais perigoso desde Jesus Cristo”. Um místico que faz emergir uma nova vida existencial, contento textos acessíveis que nos faz entender o Tao e suas origens espirituais.
Pela televisão observo pessoas lindas, embora muitas delas com uma pitada ausente de entusiasmo interior. E imaginei as pressas paranoicas do mundo atual, onde milhões esqueceram a existência de posturas que não podem ser efetivadas com velocidade, carecendo de muita paciência e belezas vindas do âmago do ser que deveria se postar em harmonia com a natureza.
O livro de Osho contém reflexões que são radicalmente pertinentes para os instantes de agora, quando o planeta está sob o império do individualismo e da concentração de riquezas, até os EEUU principiando a se preocupar com tanta riqueza nas mãos de uns bem poucos de lá. Transcrevo abaixo, um dos fatos narrados no livro, com a finalidade de despertar um “quero-ler-mais” nos prováveis leitores:
Certa feita, Confúcio encontrou Lao Tsé, mestre de Chuang Tzu. E lhe perguntou: – Como deve se comportar um homem religioso? E Lao respondeu com a serenidade de sempre: – “Quando o como vem à baila, não existe nenhuma religião. O como não é uma pergunta feita para um homem religioso. O como mostra que você não é religioso, mas que pretende se comportar como um homem religioso – é por isso que você pergunta como. Será que um amante pergunta como deve amar? Ele ama! Na verdade, só mais tarde ele se torna consciente de que se apaixonou. É um acontecimento, não um fazer.”
O sânscrito tem uma palavra sem equivalência em português: nimitta. Significa que você não é o realizador, você não é a causa, nem mesmo uma das causas, você apenas é o nimitta, pois a causa está nas mãos do divino. O divino é o realizador, você apenas um veículo. Apenas um carteiro.
O livro ensina: “quando você está brincando, não está querendo provar que é alguém, tampouco preocupado com o que os outros pensam de você!”. Exista sempre!!
(Publicado em 08.08.2015, no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves