REENCARNAÇÃO, UMA LEI BIOLÓGICA?
No recente SIMESPE – Simpósio de Estudos e Práticas Espíritas em Pernambuco, acontecido no Centro de Convenções com estupendas palestras e frequência que sobrepujou as mais promissoras estimativas, tive a oportunidade de conhecer o Dr. Décio Iandoli Jr, médico especialista em cirurgia geral, PhD em Medicina, professor universitário, atualmente presidente da Associação Médico-Espírita de Mato Grosso do Sul (AME-MS), apresentador de um programa de televisão de ampla audiência denominado Ciência e Espiritualidade, também autor de vários livros, entre os quais Da Alma ao Corpo Físico e A Reencarnação como Lei Biológica. Sua palestra no SIMESPE, O Laboratório do Mundo Invisível: a Importância das Obras Ditadas pelo Espírito André Luiz, causou uma extraordinária repercussão, ensejando posteriores contatos com os mais interessados, minha mulher e eu inclusive.
Do Dr. Iandoli recebi uma indicação valiosa: a de ser possuidor do dicionário O Espiritismo de A a Z, um compêndio coordenado por Geraldo Campetti Sobrinho, Basília, FEB, 2013, 964 p., já em sua quarta edição, esta em sua quarta impressão com três mil exemplares. Um excelente guia para quem deseja se orientar diante das análises, estudos, teorias, ideias, pensamentos e psicografias publicadas no Brasil, onde somente a Federação Espírita Brasileira detém em seu acervo editorial mais de 400 títulos. O dicionário certamente em auxiliará inúmeros na coleta de informações relacionadas à Doutrina Espírita, esclarecendo adeptos, propagadores, trabalhadores e pesquisadores interessados na área. Cada conceito inclui em seu final as fontes, o dicionário ainda contendo as referências e um índice dos vocábulos apresentados.
Após o curto bate-papo mantido com o Dr. Iandoli Jr, ouvi de um dos seus admiradores, menção elogiosa a um livro dele que deveria servir de leitura reflexiva para todos aqueles que buscam entender melhor a palingenesia (doutrina da transmigração das almas) como lei universal. O estudo do Dr. Iandoli, médico e médium, intitula-se A Reencarnação como Lei Biológica, e foi editada em 2004, em São Paulo, pela FE Editora Jornalística. Baseado nas ideias e pesquisas efetuadas pelo brasileiro Dr. Hernani Guimarães Andrade, Iandoli apresenta uma série de argumentos científicos que apontam a reencarnação como uma lei biológica, atualmente uma hipótese ainda um tanto obstaculizada pelos preconceitos estabelecidos contra as religiões reencarnacionistas existentes, ratificando uma reflexão de Arthur Schopenhauer contida num dos seus estudos: “Toda verdade passa por três etapas: primeiro é ridicularizada. Depois, é violentamente antagonizada. Por último, ela é aceita universalmente como auto-evidente.”
O termo palingenesia tem uma explicação mais abrangente no livro Filosofia Espírita da Educação e suas Consequências Pedagógicas e Administrativas, Ney Lobo, Rio de Janeiro, FEB, 1993, 5v. : “Os escritores espíritas costumam aplicar o termo palingenesia exclusivamente à doutrina da pluralidade das existências, ou reencarnação dos Espíritos em corpos físicos novos e sucessivos. Podemos considerar esse emprego do termo como de sentido estrito. Todavia, mais genericamente, palingenesia é predicado em sentido lato, a toda ideia, teoria, doutrina religiosa, filosófica ou científica, que denote recapitulação, renascimento, reaparecimento, renovação dos mesmo fatos, dos mesmos mundos, das mesmas vidas ou das mesmas almas”.
No prefácio do seu livro, Dr. Iandoli ressalta que a reencarnação não é um conceito novo. E conclui, sem pestanejar: “As grandes religiões da Terra são reencarnacionistas, como o Hinduísmo, o Jainismo, o Sinkismo (fundado no século XVI), o Budismo, o Mazdeísmo, o Maniqueísmo, o Judaísmo (na Cabala, a reencarnação está claramente expressa no livro Zohar); o Cristianismo (inicialmente reencarnacionista, abdicou dessa crença ao transformar-se em Catolicismo e Protestantismo); o Islamismo (Sura 2:28) e Sura 25-5-10-6); e o Sulfismo (ramo do Islamismo).”
Para quem tem vocação para ser Tomé, sempre buscando ver o que se diz, recorri a O Zohar: o livro do Esplendor, passagens selecionadas pelo rabino Ariel Bension (1880-1932), São Paulo. Polar, 2006, 362 p. No capítulo 11 – Revelações sobre a alma está escrito: “… Todos os condutores de homens em todas as gerações existiram em imagem no Céu antes de descerem à terra. E cada alma aparecerá no Céu já delineada no corpo no qual foi destinada a entrar. Tudo que o homem aprende neste mundo era conhecido pela alma antes de ela ter descido nele. Isso se aplica apenas às almas dos justos. As almas dos malfeitores devem descer abismo adentro antes de virem à terra. Eles lançam para fora de si a santidade que lhes é inerente e se tornam impuros por meio de seu contato com a fêmea do abismo. Nesse estado, a alma vem à terra para animar o corpo ao qual está destinada. Mas, se o homem se arrepende, a alma encontra outra vez a santidade que havia perdido.”
Tenho tomado ciência de que, independentemente das várias religiões que pregam a existência da reencarnação, investigadores paranormais rotineiramente analisam incidentes de almas antigas que possivelmente reaparecem em novos corpos. As histórias não passaram por qualquer controle científico e os fatos relacionados não foram todos verificados, embora elas contenham evidências inexplicáveis que podem fazer até mesmo a mente mais cética refletir e pensar. Exemplos notáveis: marcas de nascimento transferidas; crianças nascidas com ferimentos de bala; caligrafias reencarnadas; bebês nascidos sabendo uma língua estrangeira; e cicatrizes de parentes próximos, entre tantos outros.
No prefácio do livro do Dr. Iandoli, a Dra. Marlene Nobre cita Carl Gustav Jung: “a mente promana de uma psique inconsciente que é mais antiga do que ela e continua funcionando juntamente com ela ou mesmo apesar dela.” Foi Jung quem distinguiu, em seus estudos, duas esferas de psique inconsciente: um inconsciente pessoal, pertencente ao indivíduo, e um inconsciente coletivo, estrato mais profundo da psique comum a toda a humanidade.
Como deploro os que reduziram o materialismo em postura dogmática, pouco se apercebendo das evoluções cognitivas contemporâneas, sem atentar para o que seja a inacessibilidade do real.
(Divulgado em 03.10.2016, nos sites www.luizberto.com e www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves