REDESCOBRINDO MARIA
Num dos penúltimos finais de semana, uma das sessões do excelente filme Invasões Bárbaras me proporcionou algo mais. Um contato com um amigo de longa data, que me ofertou livro de Mauro Clark, pastor evangélico residente na capital alencarina. Em sua companhia, Renata, esposa de seus três filhos, carregava mais alguns exemplares adquiridos numa livraria da cidade.
O livro intitulado, Redescobrindo Maria, editora Mundo Cristão, traz um subtítulo: O que ela verdadeiramente representa para o cristianismo. E na contra-capa a justificativa para o trabalho: “Mauro Clark retoma a história de Maria, traçando perfil histórico da mãe de Jesus, personagem estranhamente abandonado por muitos evangélicos, que, ao perceberem o exagero no tratamento destinado a ela pelo romanismo, distanciaram-se dessa grande mulher”.
Dada minha admiração pela mãe do Senhor Jesus, percorri as páginas do livro com entusiasmente argúcia. Saboreei cada parágrafo do livro, recorrendo incessantemente às Sagradas Escrituras para ratificar a honestidade intelectual do autor, um cristão de muito equilíbrio analítico-emocional. Até mesmo quando, baseado em Mt 13,55, declara que “ser uma típica dona de casa israelita, portanto, em nada diminuiu a dignidade de Maria e sua posição de obediente e abençoada serva de Deus”.
O autor também esclarece: “uma visão panorâmica do Novo Testamento revela-nos que Maria recebeu um concentrado facho de luz sobre si, desde a época da anunciação até o nascimento e o batismo de Jesus. Depois disso, só ocasional e discretamente ela voltou a passar pelas páginas dos quatro evangelhos. No livro de Atos surge em um único ponto, como que se despedindo, não mais retornando. Nos restantes 21 livros da Bíblia, escritos por um período de 65 anos, Maria está ausente”.
Tenho um profundo amor pela mãe de Jesus. Que educou o Deus encarnado, acompanhando-o em todo o seu ministério, sempre nos bastidores, como testemunha bendita. Distinguida entre todas as virgens para gestar o Messias, ela jamais se locupletou de sua privilegiada condição. Discretíssima, soube continuar sua vida de esposa de José carpinteiro, nunca desatenta aos mínimos gestos do seu Filho primeiro, fruto da encarnação de Deus na vida dos homens, para reforma e reconstrução através de salvífica Boa Nova.
O pastor Clark revela sua esperança: a de que “esse livro nos permita contemplar a figura de Maria de maneira harmoniosa e equilibrada. Não com pouca luz, o que prejudicaria a percepção de detalhes bonitos e importantes, nem com luz em excesso, o que ofuscaria os olhos e provocaria uma visão distorcida. Mas uma visão justa, realista, saudável, edificante. Exatamente – presumimos – como o Senhor Jesus Cristo desejaria”.
Agradeço ao pastor Clark a oportunidade de ler uma análise bem concatenada, reverenciadora por excelência. Incluindo a menção oportuna ao noivo da Virgem, que muito poderia, se imaturo fosse, denunciá-la formalmente, exigindo o seu apedrejamento, recusando-se a despojá-la. Considero o papel exercido por José, o carpinteiro, uma eficaz vacina contra as decisões precipitadas, as demissões preventivas, as opiniões emitidas sem análises fundadas, os anúncios tresloucados sem idéias sedimentadas e as estatísticas tendenciosas ou nulamente consistentes.
O texto do pastor Clark muito bem ratifica O Louvor de Maria de Martinho Lutero, sobre o Magnificat, concluído em 1521. Uma análise-exemplo do Reformador de mariologia evangélica, posto que, na opinião de Martin Dreher, “Maria é para Lutero modelo de vida cristã, que experimentou a justificação por graça e fé”.
Num cenário como o nosso, de um amoralismo desconcertante, vale a pena reler o Magnificat (Lc 1,46-55), quando novas fronteiras emergem para uma Igreja que necessita ser continuamente reinventada, para honra e glória dos ensinamentos deixados pelo Senhor da História.