RECORDANDO CHICO XAVIER
Tive a oportunidade de ver e aplaudir Chico Xavier na PUC-RJ, em 1973, quando fazia minha pós-graduação na então Cidade Maravilhosa. E mesmo aderindo à Doutrina Espírita muitos anos depois, jamais deixei de acompanhar as andanças do excepcional médium mineiro, tornando-me aferrado admirador de suas escritas, daqui e d’além.
A última leitura sobre o médium mineiro foi Trinta Anos com Chico Xavier, de Clóvis Tavares (1915-1984), São Paulo, IDE, 7ª. edição, 2008, 288 páginas. E é o próprio autor que revela, na Introdução, a razão maior de não biografar o médium mineiro: “Há muitos anos, numa de minhas habituais estadias em Pedro Leopoldo, onde, então, nosso Chico Xavier residia ainda, manifestei ao distinto amigo Dr. Rômulo Joviano, seu chefe de serviço e diretor da Fazenda Modelo, enquanto percorríamos os arredores da Inspetoria Regional, meu desejo de coletar dados, alguns aliás já reunidos, a fim de organizar um pequeno estudo sobre a vida e obra mediúnica do venerando missionário. Nossa conversa, naturalmente, se estendeu ao conhecimento de Chico. Foi, então, que percebi, numa nova dimensão, a legítima humildade de sua alma verdadeiramente cristã, com que delicadeza, recordo, o Chico me fez prometer que não mais pensaria nessa empresa, assinalando, com palavras de tocante modéstia, a sua desvalia espiritual, ao mesmo tempo, que indicava os nossos Benfeitores da Espiritualidade Superior como os únicos portadores de merecimento pelo trabalho dos seus livros psicografados. Multiplicou considerações sobre a ausência de méritos pessoais seus e ilustrou, comovidamente, a bondade, a sabedoria, o devotamento de Emmanuel e dos seus companheiros de Vida Maior.”
O Clóvis Tavares definia Chico como “uma vela que ardia, alumiando a todos e se consumindo a si mesma, em sublime oferenda de amor e sacrifício. Ele mesmo, todavia, não percebe isso, nem dá tento dessa verdadeira e contínua imolação, a lembrar o verso de Walt Whitman: ‘Quando dou, dou-me a mim mesmo’”. E o próprio Chico ratificava sua dedicação, afirmando, sempre sorridente, que nos serviços atinentes aos campos da Doutrina Espírita, não havia lugar para “emanuelismo”, nem “chiquismo”, nem “clovismo”, mas apenas para o Espiritismo, bem sentido e sinceramente aplicado. E concluía sempre: “Para quê, meu bom amigo, falar acerca de um graveto que se confunde com o pó?” Finalmente, em 5 de dezembro de 1964, em Uberaba, Chico Xavier concordou com um livro sobre suas iniciativas, “desde que se trate de uma seleção de fatos, de um depoimento em favor da nossa Doutrina!”
Após concluir os exames vestibulares no Rio de Janeiro, 1932, Clóvis Tavares passa alguns dias em Campos, quando se depara, numa livraria o livro “Parnaso de Além Túmulo”, o primeiro livro psicografado do Chico Xavier. Livro não adquirido diante dos apertos financeiros de estudante pobre. Somente em 1935, Tavares lia os primeiros versos do “Parnaso”, transcritos numa muito modesta publicação doutrinária do Grupo Espírita João Batista, à época sediado na Avenida Sete de Setembro.
Até então, Tavares ainda não tinha conhecido Chico Xavier e se esmagava diante do mistério da morte, principalmente após perder sua noiva, considerada “o anjo tutelar da sua existência”. E se desesperava frequentemente, pedindo aos céus auxílio para sua incredulidade, relembrando vez por outra, a cura de um menino possesso feita pelo Galileu, conforme narrado no Evangelho de Marcos 9,23-24. Até que um dia lhe presentearam um modesto folheto sobre Espiritismo, onde numa das páginas estampava uma quadra de Guerra Junqueiro publicada no “Parnaso”. A Providência Divina tinha lhe socorrido, posto que Guerra Junqueiro era um dos seus poetas prediletos, dado o sentido libertário dos seus versos, revivido para ele na psicografia de Chico Xavier, um ilustre desconhecido até então.
O primeiro livro psicografado do Chico Xavier, ratificaria para Clovis Tavares o pensar do Homão da Galileia “o vento sopra onde quer e ouves sua voz”, a Misericórdia do Alto chamando-o à Vida, afastando-o das sufocações das dúvidas e as angústias desesperadoras das incertezas. Segundo Clóvis, “foi a certeza da Imortalidade, a visão íntima, intuitiva, mas experimental, pela leitura das poesias do ‘Parnaso’, de que a vida não tem ponto final no silencia dos túmulos. De que a morte, como já sentiam os velhos romanos, era realmente a porta da Vida”.
Recomendando a leitura das recordações de Chico Xavier elaboradas pelo Clóvis Tavares, aproveito a oportunidade para incentivar aos ainda desatentos de uma racionalidade cristã contida na Doutrina Espírita a ler o primeiro livro psicografado por Chico Xavier, Parnaso de Além Túmulo: poesias mediúnicas, 19ª. edição, Brasília, FEB, 2016, 737 páginas, contendo mais de 200 poemas editados por 56 poetas brasileiros e portugueses, um magnífico manual de mensagens psicografadas por um dos maiores e mais respeitados divulgadores da Doutrina Espírita do mundo, à época um jovem de apenas 22 anos. Uma obra que me foi presenteada um dia pela amada Sissa com a seguinte dedicatória: “Para Benhê, uma obra para consolidar seus estudos na doutrina espírita. Com amor.” Um livro que me transformou num leitor assíduo das reflexões kardecistas, sempre na condição de um muito humilde aprendiz de tudo.
PS. A abertura do 13º SIMESPE, sexta-feira, no Centro de Convenções foi grandiosa. E a mensagem do Divaldo Franco , uma vez mais, encantou. Um médium muito arretado de ótimo!!! Programação excelente!!
(Publicado em 06.08.2018 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves