RECOMENDAÇÃO PARA UNIVERSITÁRIOS


Num dos seus prefácios, o educador Paulo Freire parece se dirigir aos professores e concluintes do ensino superior brasileiro: “É dever de quem escreve facilitar a compreensão de suas idéias, de seus sonhos, de seu saber através de uma linguagem elegante à procura constante do momento da sua boniteza”. E sintetiza cativante: “Cada vez se diz mais, nos dias que correm, que a educação de que se precisa hoje não tem nada a ver com o sonho, com utopia, conscientização e sim com o treinamento técnico e científico-profissional do educando. É exatamente isso que sempre interessou às classes dominantes: a despolitização da educação. Na verdade a educação precisa tanto da formação técnica, científica e profissional quanto do sonho e da utopia”.

Os atores do terceiro grau de ensino necessitam, de uma vez por todas, assimilar uma notável lição contemporânea: os mapas estão superados. O instrumento ideal para perscrutar os horizontes do amanhã é a bússola, ícone do profissional contemporâneo. Ela aponta direções, subsidia comportamentos estratégicos, fortalecendo profissionalidades e consolidando posturas inovadoras. E também balizando as avaliações acerca das quebras de hierarquias, dos caos desagregadores e das iniquidades e injustiças que violentam a dignidade do ser humano.

Acredito que há três tipos de universitários: os autoconscientes, autônomos e seguros de seus próprios horizontes e limites; os mergulhados, inundados por suas emoções e incapazes de safar-se delas; e os resignados, os que aceitam passivamente viver como são, num laisser-faire suicida, num “como Deus quis”, como se Ele fosse o responsável pela incapacidade de “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”.

O sempre lembrado Celso Furtado, de saudosa memória, patrono da Turma de Economistas 1966 da Universidade Católica de Pernambuco, vez por outra relembrava aos seus assessores na SUDENE: “Não podemos desconhecer que é imensa a responsabilidade dos homens chamados a tomar certas decisões políticas no futuro. E somente a cidadania consciente da universalidade dos valores que unem os homens livres pode garantir a justeza das decisões políticas”. E a lição de Martin Luther King, de uma clarividência estupendamente contemporânea, deveria ser balizamento primeiro de todo caminhar profissional: “É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar; É melhor tentar ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final; Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder; Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver”.

Lamentavelmente, um sentimento de frustração se manifesta quando, num grupo, se percebe o “distanciamento” de alguém sobre um determinado assunto. O desconhecimento de História torna mais difícil a compreensão dos fenômenos comunitários. Felizmente, um grupo cada vez maior está percebendo a necessidade de uma leitura mais focada nos acontecimentos dos ontens e ante-ontens mundiais. Sem precisar ler Cesare Cantú, num sei quantos volumes, recomendaria aos atores do ensino superior um livro que possibilitará uma relação viva com um nível cultural compatível com as exigências da sociedade moderna. De autoria de Dietrich Schwanitz (1940-2004), Cultura Geral – tudo o que se deve saber, Martins Fontes, 2007, aborda cronologicamente assuntos que muito ampliarão os seus conhecimentos, tornando-os mais situados e datados, na expressão paulofreireana.

Num estilo jornalístico, o livro de Schwanitz parte das cidades-Estado gregas até o limiar do atual século. Trazendo capítulos específicos sobre Arte, Música, Filosofia, Linguagem, Inteligência, Talento e Criatividade. Com anexos cronológicos, a relação dos livros que mudaram o mundo e os mais recomendados para a obtenção de uma boa visão do conjunto, favorecendo, em cada um, a procura do seu próprio desenvolvimento pessoal

Jornal do Commercio, 22.11.2010
Fernando Antônio Gonçalves