PROFESSORES E EDUCADORES


Do Arão Parnes, irmão querido e sempre companheiro de caminhada, recebo uma historinha que deveria ser reproduzida pelos quatro cantos educacionais do país, tamanha a oportunidade histórica por ela representa. Ei-la, sem tirar nem pôr uma só vírgula:

“Numa escola pública estava ocorrendo uma situação inusitada: meninas de 12 anos que usavam batom, todos os dias beijavam o espelho para remover o excesso de batom. O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia. Mas, como sempre, na tarde seguinte, lá estavam as mesmas marcas de batom…
Um dia o diretor juntou as meninas no banheiro e explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam. Fez uma palestra de uma hora. No dia seguinte as marcas de batom no banheiro reapareceram…
Foi então que o diretor juntou novamente as meninas e o zelador no banheiro, e pediu a ele para demonstrar a dificuldade do trabalho de remoção do batom. O zelador imediatamente pegou um pano, molhou no vaso sanitário e passou no espelho. Nunca mais apareceram marcas de batom no espelho daquele banheiro.”

Moral da história: Há professores e há educadores… E uma outra conclusão se faz necessária: Comunicar é sempre um desafio!

Às vezes, precisamos usar métodos diferentes para alcançar resultados. Por que isso? Quatro conclusões deveriam balizar todo comportamento docente em sala de aula:
a. Porque a bondade que nunca repreende não é bondade: é passividade;
b. Porque a paciência que nunca se esgota não é paciência: é subserviência;
c. Porque a serenidade que nunca se desmancha não é serenidade: é indiferença;
d. Porque a tolerância que nunca replica não é tolerância: é imbecilidade.
As conclusões acima também são de muita valia para pais e mães que imaginam caber à escola a educação dos seus filhotes, despreocupados ficando para suas práticas hedonistas, numa cultura de fingimento familiar que está estonteando o mundo contemporâneo.

Educadores do século 21 não podem ser sectários. Relembrando Eduardo Galeano – As Veias Abertas da América Latina continua sendo um texto timoneiro -, os sectários de todos os viéses se parecem com aqueles três cegos que apalpavam partes de um elefante. O que apalpou o rabo disse ter encontrado uma corda. O que tateou uma das patas identificou-a como uma coluna, o terceiro declarando ser uma parede a enorme pança do paquiderme. Como ninguém viu o conjunto, todos imaginavam estar identificando uma realidade.

Urge também um mais acentuado senso analítico da classe média brasileira. Ela deve apreender urgentemente o significado do que seja “polarização social”, o distanciamento da renda dos mais ricos em relação aos mais pobres. E repudiar as práticas assistencialistas que relegam os investimentos em escolas públicas, em hospitais e serviços ambulatoriais que muito ajudariam os menos favorecidos a vencer a pobreza e ingressar no mercado de trabalho. Opinião oportuna é da economista Lena Lavinas, da UFRJ: “O mais grave é verificar que a renda dos mais pobres caiu mesmo com a participação dos programas de governo. Se esses dados forem consistentes, eles mostram que não estamos complementando a renda para os pobres viverem melhor, mas gerando uma renda para viverem quase exclusivamente dela. Estão deixando de ser trabalhadores para serem assistidos. Isso é dramático”.

Assistencialismos provocam distensão existencial, perpetuam inteligências flácidas, sem desejo algum de continuar seguindo adiante, no que muito desfavorece o operário em construção do Vinicios de Moraes, poeta que sabia ludicamente apontar as contradições do seu país.

Embora não-marxista nem estatizante, defendo um Estado Nacional soberano, onde determinadas funções constitucionais deveriam ser com esmero por ele executadas, entre elas Educação, Saúde e Segurança Pública, solidamente consubstanciadas numa Cidadania Responsável que não diferencie sobrenomes, escolaridades, religiões, gêneros, preferência sexual, etnias e regiões. Uma Cidadania Responsável que liberte sem libertinagens, que democratize sem xenofobismos, que se solidarize com os menos favorecidos sem torná-los dependentes, educando sem as bobajadas do pegajoso tratamento de “tio” e “tia”, como bem denunciou Paulo Freire, em Professor, Sim, Tia, Não!

PS. Para não dizer que estou em cima do muro: sou plenamente favorável à extradição de Cesare Batistti e ao destronamento do ditador Muamar Kadafi. E dos demais ditadores que ainda estão no mando ou por detrás do mando, à esquerda ou à direita. E aplaudirei a concessão do Nobel da Paz para Julian Assange, do Wikileaks.

(Publicada em 10.03.2011, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves