PROBLEMÁTICAS CONTEMPORÂNEAS


Para quem faz Ciências Humanas, principalmente Economia, Sociologia, Ciências Políticas, Antropologia, entre outras, de muita valia é o Dicionário Temático Desenvolvimento e Questão Social: 81 problemáticas contemporâneas, SP Annablume, Brasília CNPq, Salvador Fabesp, 2013, organizado pela professora Anete Brito Leal Ivo. O Dicionário foi fruto de um projeto de mesmo título, executado pelo Centro de Recursos Humanos da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, com o apoio do CNPq e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia, entre várias outras instituições.

A própria professora Anete B. L. Ivo, coordenadora do projeto, fornece as explicações sobre o Dicionário: “O tema deste dicionário, Desenvolvimento e Questão Social, pela sua relevância e centralidade na compreensão da ordem social contemporânea, questiona permanentemente um regime de acumulação e crescimento, e as formas de integração social pelo trabalho, as condições de reprodução, proteção social e da cidadania. … A construção política do desenvolvimento traz implícita, como contraponto crítico ao desenvolvimento econômico, uma demanda normativa de bem-estar e justiça social, que dialoga com a herança passada e as possibilidades do presente, de forma a orientar e explicitar as contradições que determinam a questão social do nosso tempo.” E faz alguns questionamentos sobre a razão de ser do Dicionário em apreço: “Como os dilemas contemporâneos do desenvolvimento dialogam com a herança política, social e econômica do país? Como o modo específico de as sociedades nacionais formularem projetos de desenvolvimento integra (mas também resiste aos) movimentos de hegemonia, no âmbito da ordem mundial? Como os “regimes de verdades”, que reafirmam as normativas das agências multilaterais, constituíram uma “comunidade epistêmica” que influencia opções dos governos em relação às políticas e aos direitos sociais? Qual o caráter inovador e quais as possibilidades específicas dessas políticas, do ponto de vista da seguridade econômica e do bem-estar social? Como a reconfiguração e os novos arranjos sociais e públicos de governança constroem possibilidades de inovação sobre os territórios? Qual a capacidade das ciências e dos saberes na recriação de condições efetivas de inovação e formulação de novos paradigmas de desenvolvimento e proteção social?”

Ainda segundo a professora coordenadora, “cada verbete estabelece vínculos de significância com a vida política do presente, mas também com a produção de pesquisas do campo das ciências sociais, que traduzem e interpretam os processos contemporâneos. As questões selecionadas resultam de um duplo movimento: inicialmente, de um exercício conceitual e metodológico prévio na construção do campo temático interdisciplinar dos saberes implícitos às conexões entre os temas do desenvolvimento e da questão social, norteadores das escolhas; e, em seguida, de uma abertura para acolher autores que integram as redes de pesquisadores da equipe do projeto, propiciando um rico diálogo entre as diferentes áreas. O resultado final implicou um retorno reflexivo ao ponto de partida, na identificação de lacunas como possibilidade de abertura para novos caminhos e complementações, num esforço continuado de aprofundamento, sistematização e requalificação de uma agenda social sobre o desenvolvimento.”

Os tema analisados, com seus respectivos verbetes, são os seguintes: Ação coletiva, Alimentação e segurança alimentar, Cidadania, Desenvolvimento, Esfera pública e democracia, Estado de bem-estar social, Família e gerações, Questão de gênero, Governança global e desenvolvimento, Inovação social, Justiça social, Movimentos sociais, Novos paradigmas, Pobreza e reprodução social, Políticas sociais, Proteção social, Programas de transferência de renda, Questão social, Questão urbana, Redistribuição, Sociedade civil, Trabalho, Violência e segurança social e Vulnerabilidade social. Cada um deles desmembrando-se em verbetes que esclarecem sem tecnicismos, favorecendo uma consistente compreensão sobre as diversas problemáticas desenvolvidas no Dicionário.

Os diversos verbetes desenvolvidos pelo Dicionário Temático Desenvolvimento e Questão Social, busca erradicar uma denúncia feita por Benjamin Barber no livro Consumido, RJ, Record, 2009, à página 17: “O etos infantilista está dominando julgamentos dogmáticos, com base em ‘preto no branco’, na política e na religião, substituem as complexidades cheias de nuanças da moralidade adulta, enquanto as marcas da infância perpétua são impressas em adultos que se entregam à puerilidade sem prazer e à indolência sem inocência. Daí a atração do novo consumidor pela idade sem dignidade, por roupas sem formalidade, sexo sem reprodução, trabalho sem disciplina, brincadeiras sem espontaneidade, aquisição sem propósito, certeza sem dúvidas, vida sem responsabilidade e narcisismo até a idade avançada e até a morte sem um vestígio de sabedoria ou humildade. Na época em que vivemos, a civilização não é um ideal nem uma aspiração, é um videogame”

O fortalecimento das Ciências Humanas e Sociais necessariamente passa por uma desalienação crescente da sociedade brasileira nos campos mais diferenciados da política, da religiosidade, da educação, da ética e da responsabilidade social. Campos desconhecidos por muitos graduados e pós-graduados, que ainda mesclam estupidamente desenvolvimento, progresso, assistencialismo e visão messiânica.

(Publicado em 16.03.2015, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com)
Fernando Antônio Gonçalves