PRISÃO DE SANTO


No último dia 11, compareci aos jardins bem cuidados da Academia Pernambucana de Letras, presidida pela competente e sempre atenciosa Fátima Quintas, para dar um abraço no Luiz Berto, que lançava a quinta edição do seu livro A Prisão de São Benedito e outras histórias pela Bagaço, editora empreendedora e criativa, por quem nutro uma férrea admiração, sempre evoluindo sob a batuta do Antônio Arnaldo Afonso Ferreira, talento editorial nordestino.

Cumprimentei escritores notáveis, que estavam autografando seus trabalhos, adquiri o livro do Berto e não o encontrei. Muita gente, todos satisfeitos pela estiagem que São Pedro tinha proporcionado.

O livro do Berto é uma escrita que homenageia Palmares, onde “a Coreia não existe mais. As moças atualmente fazem, de graça, o que putas faziam antes cobrando. Uma concorrência predatória e desleal que deixou à míngua as raparigas do bairro”. Uma cidade vitimada por duas grandes enchentes do Rio Una, a última desembarcada em 2010, destruindo o prédio do Ginásio Municipal, onde Luiz Berto concluiu seu ginasial em 1963.

Peço licença ao Ivanildo Sampaio, para contar umazinha do livro:
“Alfredinho, quando não arranjava serviço, ficava sentado no batente da porta de casa jogando pulhas pras moças e se enxerindo com quem passava. A mulher dele ficava na sala, atracada à máquina de costura e ouvindo as más respostas que ele levava. De vez em quando, fazia um comentário:
– Bem feito!! Podia ficar sem essa.
Ele coçava as canelas e cuspia no meio-fio.
– Eita lote de rapariga!
Uma tarde, ia passando o barbeiro a caminho do salão. Alfredinho veio acompanhando com seu olhar zombeteiro as passadas do oficial, até que ele cruzasse a sua porta. Coçou as canelas e deu um bocejo.
– Só queria que o rio desse uma chuva e afogasse os cornos tudinho de Palmares.
A mulher dele parou a costura e deu um muxoxo:
– Tu te cala, Alfredinho; tu não sabe nadar …”

Existem livros que fazem um bem danado. A Prisão de São Benedito e outras histórias é um deles. E O Romance da Besta Fubana é outro danado de ótimo, onde Telles Júnior, eternizado por um derrame no Natal de 1998, foi um dos principais personagens, o enigmático Decifrador.

Chamo atenção dos solidários com os sofridos do mundo para o texto O Velho Rabeca, onde Luiz Berto ressalta a precariedade acontecida com o tempo do caboclinho pelo Rabeca comandado, ele desabafando com a sinceridade dos bons: “Num passo mais fome do que já tenho passado por causo de que a mulher ainda arranja uns trocados tirando conta nos engenho pra me dar de comer”.

Levei São Sebastião para casa com uma vontade arretada de dar um abraço no Berto, que foi menino dos Palmares.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 27.09.2014
Fernando Antônio Gonçalves