PRESENTES DE NATAL CLASSUDOS PARA AMIGOS ÍDEM
Uma amiga muito querida, colega de estudos, pesquisas, reflexões e militância em prol de um mundo menos violento e mais fraterno, solicita sugestões de livros para presentear no Natal, os contemplados sendo amigos seus de sólidas caminhadas culturais, situados muito acima das mediocridades políticas que enxovalham a nossa atual vida brasileira.
Com alegria, escolhi seis livros para uma consistente lembrança natalina, que deverá ser sempre acompanhada de um oferecimento carinhosamente fraternal e criativo.
1. HOMO DEUS– UMA BREVE HISTÓRIA DO AMANHÃ, Yuval Noah Harari, São Paulo, Companhia das Letras, 2016, 444 p.
Do mesmo autor de Sapiens uma breve história da humanidade (dois milhões de exemplares vendidos no mundo), um PhD em História por Oxford, nascido israelense em 1976, analisa o futuro da humanidade com excepcional maestria, combinando ciência, história e filosofia, buscando entender quem somos e para onde estamos indo. Várias questões são pesquisadas minuciosamente. Uma amostra: O que representa a existência de uma inteligência artificial que gerencie aspectos cada vez mais relevantes da vida e da sociedade?; Num mundo dominado por algoritmos, até que ponto o livre-arbítrio será importante para as futuras gerações?; O que significa o fim da fome, se considerarmos a brutalidade com que tratamos milhões de animais para nos alimentar? Uma análise que possibilita análises múltiplas sobre quem fomos e que caminhos tomamos para chegar até aqui, na direção de amanhãs cada vez mais iluminados.
2.JESUS DE NAZARÉ – O QUE ELE QUERIA? QUEM ELE ERA?, Gerhard Lohfink, Petrópolis, Vozes, 2015, 486 p.
Sem exigir qualquer conhecimento prévio, este livro sobre Jesus nos leva a aprofundar as questões tratadas por especialistas, colocando o leitor diante de questões decisivas. Uma delas: Será que a Igreja divinizou Jesus posteriormente ou interpretou corretamente seu mistério? Outra: Aquilo que foi divulgado por Jesus originou em uma utopia e começo de um novo mundo, ou uma esperança única para sarar as feridas do nosso planeta? E mais: Quem foi Jesus? Um rabino inteligente? Um profeta de palavras poderosas? Um revolucionário social radical? Ou um curador carismático de sucesso?
3. ESCRITOS JUDAICOS, Hannah Arendt, Barueri, SP, Amarilys, 2016, 894 p.
Uma coletânea de ensaios produzidos entre 1930 e 1960 por Hannah Arendt (1906-1975), considerada uma das intelectuais mais importantes do século XX, que trata especificamente de questões relacionadas aos “assuntos judaicos”, período em que moldou seu entendimento da história e da política. Hannah esmiúça os desafios enfrentados pelos judeus, analisando temas como a assimilação e o acesso à política, o antissemitismo como categoria social e a criação do Estado de Israel e o Sionismo.
Segundo Cláudia Perrone Moisés, professora de Direito Internacional da USP e Coordenadora do Centro de Estudos Hannah Arendt, “este livro é precioso para todos aqueles que, tendo ‘amor ao mundo’, desejam refletir, de forma inteligente e fundamentada, acerca dos grandes desafios que ainda devem ser enfrentados no mundo moderno.”
4. EU E DEUS – UM GUIA PARA OS PERPLEXOS, Vito Mancuso, SP, Paulinas, 2014, 440 p.
Por séculos, o pensamento de Deus foi divulgado a partir da Igreja e da Bíblia. Ainda hoje essa postura predomina. O presente livro, de autoria de um teólogo casado, pai de dois filhos e professor da Universidade San Rafaelle de Milão, segue uma trilha diferenciada, pretendendo falar de Deus a partir do Eu, no ar livre do pensamento, convicto de que “só os pensamentos que surgem em movimento têm valor” (Nietzsche). O autor justifica seu texto: “Esse livro nasce da consciência da gravidade do tempo que o Ocidente está vivendo. Falo de gravidade porque toda grande civilização foi grande apenas à medida que soube alcançar a harmonia entre saber de Deus, ou do divino, enquanto sentido abrangente do viver, e hierarquia dos valores, e saber do mundo, enquanto experiência concreta da natureza e da história. … Por isso, uma religião imposta a uma sociedade se torna simplesmente inútil; e sempre por isso uma sociedade sem enraizamento na religião se torna presa fácil do caos, é corroída pelo niilismo e, pior ainda, pelo comercialismo. … Decorrendo disso uma depressão coletiva da esperança e da imaginação social e, pior , uma desconfiança de fundo acerca da humanidade em si mesma.” Hoje, “mundo sem religião se encontra sem coesão interna, esmagado sob uma dimensão só, em poder de um egoísmo que sabe apenas calcular, muito próximo do cinismo, às vezes do desespero”, lamenta o autor.
5. A MONTANHA MÁGICA, Thomas Mann, SP, Companhia das Letras, 2016, 842 p.
Escrito em 1924, agora editada a partir da edição produzida pela S. Fischer Verlag, 2002, relata a trajetória de um jovem e ingênuo engenheiro chamado Hans Castorp, quando ele se vê internado num sanatório para tuberculosos nos Alpes suíços, nele se deparando com inúmeros personagens dotadas de conflitos espirituais e ideológicos que antecedem a Primeira Guerra Mundial. Obra-prima do renomado autor alemão, nascido em 1875 e eternizado em 1955.
6. O NOVO TESTAMENTO, tradução de Haroldo Dutra Dias, Brasília, FEB, 2016, 607 p.
Pela primeira vez surge um projeto de tradução do Novo Testamento, diretamente dos manuscritos gregos, com foco na linguagem e sem menosprezar as questões culturais, históricas e teológicas. Profundamente enriquecido pela riqueza das suas notas, “onde expressões idiomáticas, palavras enigmáticas, tradições religiosas, questões culturais e históricas, arqueologia e crítica textual são abordadas de forma direta e sucinta, favorecendo o entendimento do texto.” Na contra capa, o objetivo: “Transportar o leitor ao cenário onde Jesus viveu, agiu e ensinou, a fim de que escute suas palavras, seus ensinamentos, como se fosse um morador daquela região, e então possa ouvir a voz do Mestre galileu em toda sua originalidade, vigor, riqueza cultural, para compartilhar com Ele a pureza genuína dos ensinamentos espirituais superiores.” Nascido em 1971, em Belo Horizonte, MG, o autor estuda há alguns anos hebraico, aramaico e tradição judaica, sendo Juiz de Direito na capital mineira.
Presentes valiosos para mentes privilegiadas, as que já são paulinamente adultas, deixando para trás os pensamentos e análises ingênuos próprios dos ainda infantilizados.
(Publicada em 28.11.2016, no site do Jornal A Besta Fubana e no www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves