PRESENTE DE PÁSCOA
Gostaria de poder adquirir inúmeros exemplares do último livro do Rubem Alves – O Sapo Que Queria Ser Príncipe, Editora Planeta do Brasil, 2009 – e com eles presentearia um bocado de gente, amigos, padres, pastores, bispos e arcebispos de todas as denominações. Para que os agraciados saissem das suas bobajadas travestidas de verdades absolutas, as que afastam as mentes dotadas de criticidade não-ovelhosa, cabrítica, dessas que não confundem salvação com igreja.
O Rubem Alves, que um dia foi pastor, pelos irmãos dedurado como subversivo na ditadura militar, exilando-se no exterior para agigantar-se num ver-melhor-as-coisas. Para tornar-se, hoje, aplaudido pedagogo, filósofo, cronista do cotidiano, contador de histórias, ensaísta, teólogo, psicanalista e oitentão incrivelmente desfrescurizado.
No seu delicioso escrito, Rubem Alves oferece reflexões e análises dezoito quilates, além de proporcionar alguns “causos” que primam por retratar uma religiosidade brasileira que está se esfarelando diante de uma evangelização alienada, que teima em querer ressaltar a fala da besta de Balaão e o diário de bordo escrito por Jonas no interior iluminado da Baleia, menosprezando as inteligências dos que jamais acreditaram em Papai-Noel e Perna-Cabeluda, talentos 21.
Duas historinhas para despertar curiosidade dos admiradores de Rubem Alves. A primeira aconteceu por ocasião de um visita feita por pastores brasileiros a Karl Barth, um dos mais famosos teólogos do século passado, eternizado em 1968. Pastor da Igreja Reformada, utilizou a analogia da fé como a única forma viável de se falar de Deus. Após as apresentações de praxe, para os visitantes abriu caixa de charutos de altíssimo nível, ouvindo de um dos recém chegados uma justificativa pra lá de idiota, quase em tom de reprovação – Nós, protestantes do Brasil, não fumamos . Barth sorriu ternamente, servindo-se de um dos charutos da caixa. Depois de uma boa baforada comentou: “Não importa … O céu é tão grande que até pessoas que não fumam entram nele…”
A segunda história aconteceu numa escola bíblica. A catequista, filha de um dizimista de peso, dissertava sobre o dilúvio, aquele aguaceiro gota serena que tinha cobertro toda a terra, salvando-se apenas Noé e seus familiares, juntamente com leões, coelhos, cabritos, jacarés, lebres, tigres, rinocerontes, bois e búfalos, girafas, hienas, elefantes, antas, capivaras e quem mais coube na arca, uma lapa de construção de fazer inveja ao Titanic. Foi quando se ouviu a voz de uma menininha antenada: – “Os leões, tigres e onças não comeram os cabritinhos e os coelhinhos?”. Meio zonza, a catequista justificou: – “Deus suspendeu provisoriamente a ferocidade dos felinos que, durante, 120 dias em que a arca flutuou sobre as águas, só comiam capim ao lado dos bois”. A curiosidade da danadinha foi demolidora: -“Se Deus suspendeu a ferocidade dos felinos provisoriamente, custava a ele tê-la suspendido definitivamente? Os carneirinhos e os coelhinhos ficariam tão contentes…”.
As reflexões do Rubem Alves desalienam: “Os teólogos diplomados são os piores, porque pensam que poesia é rima que se recita pra enfeitar sermão” …”Pequei muito por não ter pecado, e ainda hoje peço perdão a Deus pelos pecados que não cometi” … “Dietrich Bonhöeffer observou que o cristianismo não tem mensagem para as pessoas saudáveis, fortes e felizes” … “Há inteligências de QI 200 que iluminam esgotos e cemitérios”.
Em seu texto, Rubem Alves ainda fala dos evangelizadores sapos que sonhavam em ser príncipes. E cita até um que possuía um “sonho”: “o de ter uma besta bem arreada para ir de sítio em sítio visitando os crentes e fazendo oração”. Tal e qual aquele missionário que adquiriu um terreno 50 x 100 no meio de mato fechado, interior brabão, para aguardar a chegada por lá da sua denominação. Verdade ou embromação?
Viva Rubem Alves, um teólogo cutucador por excelência!