PRESENTE DE NATAL
Às vésperas de mais uma comemoração natalina, fui presenteado com um livro que me proporcionou tripla emoção. A primeira, com os remetentes: Jefferson e Conceição Albuquerque, amigos amados de longa data, nunca desiludidos diante das mensagens do Homão da Galileia, nosso Irmão Libertador. A segunda, pelo livro: Matias, da psiquiatra pernambucana Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque, Edições Bagaço 2012, com orelhas magistralmente escritas pelo escritor Frederico Pernambucano de Mello, que foi curador da exposição Guararapes, uma viagem às origens da pátria, idealizada pela Fundação Joaquim Nabuco, dezembro 2002/janeiro 2003, cuja peça principal era o retrato de Matias de Albuquerque. E a terceira emoção foi constatar que o romance de Maria Cristina pode ser inserido entre os melhores do país em todos os tempos, onde o general Matias de Albuquerque “assume a missão de salvaguardar a memória da terra amada”, diferenciada em muitos pontos das versões enganosas escritas a soldo dos poderes dominantes.
Segundo Pernambucano de Mello, o romance Matias “levará o leitor às delicadas minudências e aos sérios questionamentos históricos dos primeiros cem anos de Pernambuco”. E é ainda ele, como historiador aplaudido, quem descreve Matias de Albuquerque: “Magricela desde menino, cumpriu seu duro serviço militar na África. Mais magro ainda, antes que lhe engrossasse a barba, assumiu Governo de Pernambuco. Entre 1620 e 1627. Em 1629 teve que retornar ao Brasil. Anunciava-se a invasão holandesa que, de fato, ocorre em 1630. Comandou as guerras de resistência ao invasor com a teimosia e seriedade que o caracterizavam. Dedicou a Pernambuco os melhores anos de sua juventude. Entre a escassez de alimentos e os ataques de malária. A alma em riste, o comando pronto, a decisão tomada. Os olhos capiongos.”
Neste janeiro, é tempo de leitura reflexiva. Sobre os feitos e os prometidos ainda não concretizados. Acerca dos passos e dos descompassos. Para avaliar os prós e contras, os tapas e beijos dados e recebidos. De retemperar ânimos e amplificar esperanças, aguçando ouvidos e aperfeiçoando enxergâncias, multiplicando um querer bem para com todos, fortalecendo o emocional diante dos fingidores de sempre. Um período para lubrificar a “biruta” da apreensibilidade analítica que a Criação incutiu nos interiores de cada um dos seus atores pensantes, também autores.
Neste 2013, que cada um reaqueça suas esperanças, renovando sonhos, minimizando ilusões e desencantos, calibrando os pneus da têmpera para novas caminhadas, algumas escaladas, solavancos e tropeços.
A receita que utilizo explicita-se numas leituras restauradoras, nunca abestalhativas, aquelas que não pretendem esconder o sol sob aro travestido de peneira, engana-besta que os mais lúcidos sempre deploram. Permitam-me, os leitores JC, recomendar com todo entusiasmo à la Germano Coelho, a leitura de Matias, da Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque, um romance seguramente distanciado das listas de “mais isso” e “mais aquilo”, frequentes em temporadas de alucinantes consumos induzidos. Um livro que pernambucaniza quem ainda se encontra de olhos seduzidos por outras bandas metropolitanas. Um texto que reproduz um Tempo que irá dizer quanto valeu, um Tempo que não apaga, o resto sendo apenas o que não foi, sendo sonho e se perdeu, segundo o poeta César Leal, na sua monumental Antologia Poética, UFPE, 2001.
Feliz 2013, pernambucanos e pernambucanizados que nem eu!!
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 25.01.2013)
Fernando Antônio Gonçalves