POSTURAS EVOLUCIONÁRIAS


Do conhecimento de religiosos ou não: estamos atravessando um momento evolucionário muito favorável da humanidade, embora nos deparando frequentemente com obstáculos de difícil compreensão para uma grande maioria, distanciada de Deus que, confusa e arrogantemente alienada, não assimilou na devida conta a essência da finalidade humana, não sabendo como evoluir espiritualmente, ainda que sem vinculação alguma com denominações religiosas.

Outro dia, nas comemorações de 95º aniversário de uma tia muito amada, a Lurdinha, na casa da Trudinha, sua filha e prima querida, entre crepes gostosos e um bolo de frutas de deixar saudades por meses, um dos convidados portava dois livros. O primeiro, de título bastante sugestivo, Evolução Espiritual na Prática, de Bruno J. Gimenes & Patrícia Cândido, especialistas na formação de uma consciência crítica nas pessoas interessadas na estruturação de uma consciência planetária embasada em valores espirituais, fundamentados na liberdade, no trato amoroso e numa convivialidade prazerosa que consolide a missão de cada um. Eles são fundadores do Luz da Serra – www.luzdaserra.com.br -, instituição sediada em Nova Petrópolis, RS, atuante em diversos estados brasileiros, “estimulando o desenvolvimento de uma consciência espiritual livre de dogmas e paradigmas.”

O livro citado, uma edição da Luz da Serra Editora Ltda, 2009, 344 p, inicia-se com uma apresentação de Paramahansa Hariharananda: “Sejam bons. Meditem. Transformem o trabalho em adoração. Sejam calmamente ativos e ativamente calmos. Não desperdicem seu tempo com ninguém, exceto Deus, e assim o tempo não será desperdiçado. Uma grama de prática vale mais do que uma tonelada de teorias.”

Na Introdução, uma pergunta nos alerta de modo bastante incisivo, sem floreios nem pieguices: “Como anda sua evolução espiritual?” Seguida de um outro questionamento bastante racional: “Por que a maioria de nós só reflete sobre a vida em momentos de dificuldades, ou quando enfermos, ou no leito de morte?”

E uma terceira reflexão: se temos uma missão evolutiva nesta existência, nossa missão mais importante seria a de nos impulsionar para que tudo fosse exitoso. E por que tudo não acontece? Eis algumas respostas convincentes:

Porque a maioria não é espiritualizada; Porque não possuímos a perspectiva da eternidade; Porque ainda estamos presos à ilusão da matéria, nos separando da Fonte; Porque fomos e ainda somos desestimulados a crer no plano espiritual, aceitando a realidade passivamente; Porque estamos fascinados apenas com os olhos físicos; Porque equivocadamente entendemos que a evolução espiritual se dá apenas através das religiões; Porque a educação moderna não nos ensina mais a pensar; Porque estamos acomodados em nossas “zonas de conforto”; Por que a maioria acredita que se deve progredir apenas no aspecto material.

No capítulo 1, onde os autores descrevem a busca espiritual do século XXI e a formação das estruturas religiosas, há uma citação do Dalai Lama que deveria ser balizamento mor de toda trajetória dos espiritualistas: “A melhor religião é aquela que te faz melhor, mais compassivo, mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável…A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião.” Pensamento complementado com muita felicidade pelo Sathya Sai Baba (1926-2011), considerado por muitos como um avatar (encarnação de um ser divino em forma humana): “Só existe uma religião, a religião do amor; uma única casta, a casta da humanidade; uma única linguagem, a linguagem do coração”.

O segundo livro me fez lembrar uma inteligência privilegiada, de quem sou admirador ferrenho há décadas, hoje morando na Austrália. Intitulado Evolução para o terceiro milênio: tratado psicanalítico para o Homem Moderno, seu autor é Carlos Toledo Rizzini (1921-1992), um médico, botânico e micólogo brasileiro, também membro da Academia Brasileira de Ciências. O livro foi editado pela Edicel, em 2016, tem 410 páginas, onde “o autor partiu de um ligeiro retrospecto histórico do pensamento religioso, bem como dos fatos mediúnicos, mostrou a importância que teve a Codificação de Kardec para a sua devida interpretação, deteve-se cuidadosamente no exame da mediunidade e das vidas sucessivas, terminando num admirável trecho de ouro com o estudo profundo não só dos desequilíbrios psíquicos mas também da genuína moral de Jesus que há de ser o código normativo do relacionamento social do homem renovado do Terceiro Milênio.”

Numa conjuntura onde o ser humano percebe a estupenda evolução da tecnologia, fazendo-o mirar espaços e mundos interplanetários, urge a necessidade de se ter uma nova posição sobre Deus-Criador no Universo e o papel de Jesus na evolução do nosso mundo.

O livro do Rizzini é composto de quatro partes. Na primeira, ele retrata a base doutrinária do Espiritismo, com várias experimentações acontecidas nas áreas da Metapsíquica e da Parapsicologia; na segunda, ele ressalta os fundamentos dos princípios doutrinários, ressaltando a intercomunicação espiritual, a encarnação, a desencarnação, a lei de causa e efeito e o livre-arbítrio, as moléstias orgânicas e a presença da doutrina na literatura não-espírita; na parte terceira, Rizzini elucida os princípios do tratamento espírita dos distúrbios mentais; e. finalmente, na última parte, ele desenvolve um tema deveras importantes para os tempos atuais: o da renovação mental, enunciando os balizamentos emitidos por Jesus, seguidos de duas outras valiosas opiniões, a de Gandhi e a de Albert Einstein. No último capítulo dessa parte, os princípios básicos utilizados no livro, dada a heterogeneidade da espécie humana. São 40 pontos extraídos da Doutrina Espírita, segundo sua maneira de encará-los.

Um livro para se ler e vivenciar suas páginas, muito bem escrito por quem soube entender o “espírito da coisa”. Uma leitura de muito fácil digestão.

As duas leituras, complementares por derradeiro, sempre ratificam o pensar de Herculano Pires, um homem múltiplo por excelência: “Uma doutrina se atualiza na proporção em que evolui, com acréscimos reais de conhecimentos no desenvolvimento de seus princípios. Não existe no mundo atual nenhum centro de pesquisas e estudos espíritas que tenha avançado legalmente além de Kardec, através da descoberta de novas leis da realidade espírita.”
(Publicado em 27.11.2017 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br.)
Fernando Antônio Gonçalves