POR UMA NAÇÃO ARCO-ÍRIS


No dia 30 de maio de 1985, em Paris, por ocasião do encerramento do Congresso Mundial dos Direitos Humanos, organizado por Jack Lang, então Ministro da Cultura da França, evento presidido por François Mitterrand, então Presidente da República, foi inaugurada, no Trocadéro, a Esplanada dos Direitos Humanos e das Liberdades, lá ficando para sempre gravada em pedra a profissão de fé de toda democracia: “Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direito”.

Naquela solenidade, além do presidente francês, do primeiro-ministro Laurent Fabius e do ministro Jack Lang, estavam presentes o bispo Desmond Tutu, o sempre por quase todos muito amado Dom Hélder Câmara, o ministro de governo irlandês Sean McBride, além de um sem-número de intelectuais e artistas. Uma cerimônia inesquecível, para sempre preservada nas memórias de todos os cidadanizados do planeta.

As consequências do Congresso Mundial dos Direitos Humanos principiaram a emergir quatro anos depois, em 1989, no ano do bicentenário da Revolução Francesa: poderosos ventos libertários varreram inúmeros regimes ditatoriais do planeta, a Leste, Oeste e Sul.

O resumo acima foi extraído da introdução do livro Mandela, Uma Lição de Vida, escrito por Jack Lang, prefaciado por Nadine Gordimer, Prêmio Nobel de Literatura 1991, uma edição Mundo Editorial. Ele ainda acrescenta: “A libertação de Nelson Mandela, alguns meses mais tarde, depois de 27 anos de prisão, fechou esse processo com chave-de-ouro. Para demonstrar sua gratidão e amizade por nosso país e por seu presidente, sempre na linha de frente contra o apartheid, Nelson Mandela escolhe Paris como primeira escala de sua viagem de homem livre,em 6 de junho de 1990. A Esplanada dos Direitos Humanos e das Liberdades se impõe obviamente como lugar emblemático da cerimônia de boas-vindas”.

No livro, há muitos testemunhos e estratégias a serem apreendidos pelos que lutam pelos Direitos Humanos, sem distinção de espécie alguma, sempre a favorecer o agigantamento de uma Cidadania Planetária que preserve o meio ambiente, ensejando futuros condignos para todos. Um dos testemunhos é do próprio Frank Lang, que bem poderia ser enviado aos ainda rancorosos de todos os lados, complexados revanchistas que não perceberam a chegada de novos tempos civilizatórios, nem levaram na devida conta as complexidades de uma contemporaneidade que está a exigir criatividade, competência e compromisso dos militantes, os militontos (a expressão feliz é do sagaz Marcelo Mário Melo) sendo postos à beira das caminhadas, principalmente às vésperas dos importantes pleitos eleitorais: “Mandela é também o rebelde que combate a injustiça dos brancos. Primeiro através do direito e da não-violência, como Gandhi; mais tarde, na luta clandestina. É ainda o prisioneiro sem rancor, que descobre o teatro na cadeia e, tão logo é libertado, transforma-se em homem de Estado, provando sua grandeza numa negeociação delicadíssima, em que a abertura, a tolerância e o espírito democrático lhe permitem evitar um banho de sangue. É, por fim, aquele que abdica de qualquer vingança e aposta numa ‘nação arco-íris’”.

No curto prefácio da Nadine Gordimer, uma nascida em Johannesburg, 1923, e autora de mais de 30 livros que denunciam a deterioração social da África do Sul durante o apartheid, diz que Jack Lang retrata Nelson Mandela em cinco atos, “que passam em revista sua vida, sua época e a sua luta pela liberdade na África do Sul, desde suas complexas origens até a vitória final”.

Na caminhada de toda liderança legítima às vezes se tropeça inúmeras vezes para se tornar cidadanizado, politicamente sintonizado com os anseios do derredor. Sabendo assimilar bem a Teoria do Holofote, de Karl Popper, matemático e filósofo, segundo a qual “o que o holofote torna visível depende da sua posição, da maneira como ele é colocado, de sua intensidade e das coisas que são iluminadas”. Recomendação para cumprimento dos fichas-limpas 2010, os sujos sendo encaminhados para os presídios de segurança máxima.

Nelson Mandela nunca desdenhou de uma sabedoria de milênios. A que diz com desatualização zero: quem sabe adquirir conhecimento está ciente de que ele jamais se tornará findo, o mundo sendo propriedade de todos, dos mais debilitados inclusive. Que exigem ser amparados na sua dignificação terrestre, para que as regiões tornem-se pacíficas, sob ares financeiros mais distributivistas, cidadanizadas sem esmorecimentos nem nostalgias, iluminando escuros, fortalecendo uma crescente solidariedade universal, no silêncio libertador de cada amanhecer da Criação.

PS. Estou convencido que a candidatura Dilma Rousseff poderá se agigantar na razão direta das empáfias pronunciadas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, narcísico “l’Etat c’est mois”, seguramente um excelente erradicante de votos do candidato José Serra.

(Portal da Revista ALGOMAIS, 12/04/2010, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves