POR UMA ESQUERDA FAXINEIRA


Na semana passada, li na Folha de São Paulo (20.10.2011), artigo do jornalista Ricardo Melo – Além da tapioca – que me conscientizou mais sobre um tipo de esquerda que vem desencantando milhões de eleitores pelas falcatruas inúmeras praticadas no erário público, sempre agindo contra o povo, apesar de falar entusiasticamente a favor dele. E o articulista salientou: “Olhando para além do imediato, o grande prejuízo de toda essa história não é propriamente financeiro – embora os malfeitos, para usar a palavra da moda, com o dinheiro público sejam indesculpáveis, independentemente do montante. Tanto faz se o numerário alheio custeou um tapioca, uma suíte de hotel ou se encheu o bolso da burocracia partidária. O mal maior é político e ideológico. Toda vez que uma legenda supostamente popular é pilhada com a mão no Tesouro, esparrama-se uma nova leva de desencanto. Queira-se ou não, ainda há muita gente iludida com a conversa dessas organizações. O custo disso não se mede em reais”.

O nó górdio do artigo está bem explicitado. E as esquerdas brasileiras dignas devem pugnar por um futuro menos traumático para todo o seu eleitorado, favorecendo uma transparência a mais radical possível, onde os seus militantes sejam diferenciados dos militontos, utilizando aqui a expressão feliz do poeta Marcelo Mário Melo, amizade de longa data. Bastante diferenciados também dos “esquerdeiros” nada democratizantes que clamam pelo amordaçamento da imprensa do país.

Vivemos na era dos pulhas saquedores dos cofres públicos os mais diferenciados. Que se perpetuam numa impunidade que clama aos céus, praticada através de diferenciados métodos de enganação, tanto no primeiro como no segundo tempo de qualquer atividade, inclusive esportiva. Ilude-se hoje abertamente, utilizando organizações não-governamentais, algumas delas descaradamente neo-governamentais. Vitimando uma sociedade portadora de ainda precários índices de cidadania, repleta de “beneficiados” abestados que são assaltados pelos que buscam levar vantagem em tudo, os princípios norteadores ideológicos que se danem, a prevalência sendo sempre a dos próprios interesses e bolsos.

Na lista dos pulhas contemporâneos há os que tentam reluzir cinicamente nos sistemas educacionais que iludem pelas ostentações físicas e embromações cênicas quase niveladas conteudisticamente ao debilitante ensino público, visto quase sempre como pouco eficiente. E mais: os cínicos da caridade dita solidária; os de um democratismo insípido e bolorento, que não sabem conjugar com eficácia o binômio democracia x disciplina; os da direita carpideira, sempre buscando a aplicação da lei de oferta e nunca menosprezando amplos subsídios governamentais; e os dos meninos do crack, tomados como insumo para ONGs altamente lucrativas, a merecerem análises criteriosas do Ministério Público.

A hora da sociedade civil brasileira se manifestar, através de sadias pressões democráticas, é mais que chegada. Para salvaguardar nosso amanhã nacional, um futuro a ser construído sob duas advertências basilares: “As coisas em si mesmas não são nem boas nem más, é o pensamento que as torna desse ou daquele jeito”. (Hamlet, Ato II, Cena 2); e “Para nós, jovens, é duas vezes mais difícil manter nossas opiniões numa época em que os ideais são estilhaçados e destruídos, quando o pior da natureza humana predomina, quando todo mundo duvida da verdade, da justiça e de Deus”. (Anne Frank)

PS. Será que o ex-presidente Lula, que nunca foi de esquerda, ainda continua considerando o recentemente justiçado ditador assassino Muammar Kaddafi seu irmão, companheiro e líder?

(Publicada em 24/10/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves