POR UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE


A pergunta é inquietante, recheada de perplexidade: por que mais de 50% dos alunos cubanos conseguem resolver problemas complexos de cálculo, enquanto apenas 10% dos alunos brasileiros e 15% dos alunos chilenos atingem o nível mais avançado de proficiência matemática?

Os dados acima foram produzidos pelo LIECE – Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade da Educação, que é coordenado pela UNESCO. E fazem parte da apresentação feita pela Sra. Ilona Becskeházy, diretora-executiva da Fundação Lemann, São Paulo, numa publicação editada por aquela instituição e a Ediouro, A Vantagem Acadêmica de Cuba, de Martin Carnoy, professor e pesquisador de Educação e Economia da Universidade de Stanford, USA, também consultor em políticas de recursos humanos do Banco Mundial, BID e UNICEF. É ainda da sua autoria o livro Como Anda a Reforma da Educação na América Latina.

Em A Vantagem Acadêmica de Cuba busca-se responder duas questões essenciais: O que será que acontece nas escolas cubanas e que não acontece nas escolas chilenas e brasileiras? Como alguns problemas educacionais tornaram-se crônicos no Brasil, um país que é o maior da América Latina, possuidor da economia mais dinâmica do continente, também a maior democracia da região, portador de uma invejável inovação social?

O depoimento de Peter Graber, empresário e conselheiro da Fundação Lemann, exposta na capa última do livro, deveria servir de mote primeiro nas discussões sobre nosso desenvolvimento educacional: “Visitei o país (Cuba) em 2008 e fiquei impressionado com a qualidade do ensino. Senti muita motivação de professores e do diretor da escola em educar bem suas crianças, apesar dos salários de professores estarem por volta de R$ 35,00 por mês. Professores têm baixos índices de falta, comparáveis aos da iniciativa privada no Brasil, e os alunos faltam pouquíssimo. Nota-se mais disciplina tanto de alunos como de professores quando comparado ao Brasil. A grade curricular é padronizada, todas as salas de aula no país (rurais e urbanas) ministram a mesma matéria na mesma hora e têm uma TV e um vídeo que transmitem conteúdo por TV aberta, nacionalmente, para todas as classes de uma determinada série. Existem professores mais experientes que observam outros dando aulas. Isso serve para avaliar e para ajudar a melhorar a qualidade de seu trabalho. Cuba tem um povo com boa saúde e boa educação, mas uma economia com décadas de atraso, sem investimentos e muito pouco produtiva. A população é, portanto, superqualificada para as oportunidades que a economia oferece.”

Diante do depoimento acima, feito por um empresário, fica-se a imaginar como seria o nível do desenvolvimento brasileiro se as nossas crianças, das áreas rurais e urbanas, possuíssem uma educação básica de qualidade, com professores capacitados e bem incentivados, amplamente emulados por bibliotecas equipadas, esmerado material escolar e ampla integração comunitária no acompanhamento do desempenho da unidade de ensino.

No seu livro, Martin Carnoy revela que “Cuba oferece às crianças em suas escolas mais oportunidades de aprendizagem do que o Brasil e o Chile”. E aponta as quatro maneiras de proporcionar tais oportunidades: 1. Todos os alunos estudam todo o conteúdo do currículo cubano especificado; 2. Os professores da escola primária possuem alto nível de conhecimento de conteúdo, especialmente em matemática, favorecendo o efeito “circulo virtuoso”; 3. A formação do professor cubano é organizada rigidamente em torno do ensino do currículo nacional obrigatório; 4. Os professores são supervisionados de perto em seu trabalho de sala de aula pelos diretores e vice-diretores.

Os três últimos capítulos do livro são signifcativos para quem trabalha na gestão de sistemas educacionais: 5. Construção do currículo e aprendizagem do aluno; 6. Oportunidade para aprender e padrões de ensino; 7. Lições aprendidas.

Vale a pena um esforço de leitura e compreensão do livro editado, que diz com muita propriedade: “O caminho para uma melhor educação nas sociedades democráticas não precisa ser uma volta ao autoritarismo. … O Estado tem de ser um ativista eficaz na transformação da gestão escolar, rumo a um maior controle sobre o que acontece na escola. … O Estado precisa assumir plena responsabilidade pela melhoria do ensino, mesmo à custa de reduzir a autonomia acadêmica e administrativa das escolas de Educação que fazem a formação inicial dos professores, e de reduzir a autonomia dos professores em sala de aula quando não apresentam a criatividade e a competência para atuar em alto nível”.

O desenvolvimento brasileiro futuro radicalmente se encontra sob a égide da ampliação do conhecimento coletivo. Em todos os níveis de ensino, principalmente na Educação Básica.

PS. Por que não se torna obrigatório nas universidades, autarquias e centros de ensino superior, públicos e privados, o funcionamento de um Programa de Formação do Educador do Ensino Fundamental, de seleção rigorosa, bons salários para os egressos e currículo feijão-com-arroz de tempero nota 10, ministrado por docentes de nível, respeitados e aplaudidos?

(Portal da Revista ALGOMAIS, 30/08/2010, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves