PESQUISA DO JOÃO SILVINO


Nas horas de relaxamento, alta madrugada, quando a patroa está livre, leve e solta nos braços de Morfeu, o João Silvino da Conceição solta sua imaginação, acicatando sua criatividade sempre inquieta. No primeiro semestre do ano passado, ele fez uma dobradinha internética com o Carlos Calvani, reverendo dos ótimos e teólogo sem suspirações nem olhinhos revirados, a propósito da efetivação de um trabalho incomum: o levantamento das comparações que deitam e rolam Brasil afora, nos mais variados cenários sociais. E o resultado foi um excelente apanhado do que é mais usado nas prosas entre brasileiros de todas as escolaridades.

Eis uma amostra do apurado:”…mais quebrado que arroz de terceira…”; “…mais folgado que palito em boca de banguelo…”; “…mais frouxo que calça de palhaço…”; “…mais por fora que umbigo de vedete…”; “…mais escondido que cabelo de freira…”; “…mais perdido que surdo em bingo…”; “…mais duro que pau de tarado…”; “…mais duro que beira de sino…”; “…mais sujo que chão de oficina…”; “…mais melado que poleiro de pato…”; “…mais enfeitado que jegue de cigano…”; “…mais enfeitado que penteadeira de puta…”; “…mais apertado que cu de sapo…”; “…mais chato que chinelo de gordo…”; “…mais enrolado que pentelho de preto…”; “…mais enrolado que papel higiênico…”; “…sofre mais que sovaco de aleijado…”; “…mais velho que o rascunho da bíblia…”; “…leva mais chifre que pano de toureiro…”; “…mais suado que tampa de chaleira…”; “…fala mais que papagaio de salão de beleza…”; “…mais comprido que língua de manicure…”; “…mais esticado que explicação de gago”; “…chora mais que viúva nova”; “…gruda mais que chiclete no cimento”; “…mais doloroso que parto de porco espinho”; “…mais curto que coice de preá”; “… mais sujo que pau de galinheiro”; “… mais nervoso que gato em dia de faxina”; “… mais apertado que calça de viado”; “…mais larga que cama de viúva”; “… mais perfumado que filho de barbeiro”; “… mais medroso que velha em canoa”; “… mais envergonhado que padre em puteiro”; “… mais atrasado que risada de surdo”; “… mais escondida que amante de pastor”; “… mais por fora que rego de gordo”; “… mais demorado que enterro de rico”; “… mais elástico que priquita de velha”; “… mais perdido que chinelo de bêbado”; “… mais fácil que peidar dormindo”; “… mais inútil que buzina de avião”; “… mais nervoso que anão em comício”; “… mais quieto que guri cagado”; “… mais pra lá e pra cá que couro de pica”; “… mais ligeiro que enterro de pobre”.

Com apenas duas semanas de solicitação internética, comparações várias se fizeram presentes, numa demonstração inequívoca da criatividade do brasileiro: “ … mais apertado que ovo de zambeta”; “ … mais perdido que cego em tiroteio”; “ … mais folote que lama de maré”; “… mais perdido que filho de puta em dia dos pais”; “ … mais moleza que sopa de minhoca”; “ … mais tranquilo que cozinheiro de hospício”; “ … mais serena que água de poço”; “ … mais demorado que adolescente no banheiro”; “ … mais duro que pau de presidiário”; “ … gruda mais que merda em tamanco”; “ … grita mais que galinha poedeira”; “ … mais difícil que enterro de anão”; “ … mais arreganhado que priquito de lavadeira”; “ … mais animado que pinto na merda”; “ … mais hora de rola que urubu de voo”; “ … mais desajeitado que caroço de manga em boca de bêbado”; “ … já levou mais vara que plantio de inhame”; “ … melhor que dinheiro achado em calçada alta”; “ … mais enfeitado que bicicleta de pedreiro”; “ … mais alinhado que meio-fio”; “ … muito pior que má notícia”; “ … dá mais que chuchu em beira de rio”; “ … mais assustado que coração de ladrão”; “ … apressado como quem rouba em noite de lua”; “ … mais frouxo que cu de bicha velha”; “ … mais gozado que cama de motel”; “ … mais liso que muçum ensaboado”; “ … apanha mais que mulher de bandido”; “ … mais feia que rapariga de cego”; “ … mais desajeitado que voo de anum”; “ … mais por fora que bunda de índio”.

Em dezembro último, foram enviadas as seguintes contribuições: “bruto que nem andar de chinelo de dedo em pedregulho”; “sério que nem gato cagando”; “faceiro que nem ganso novo em beira de açude”; “rolando que nem bolacha em boca de velha”; “estropiado que nem chapéu de bêbado”; “mais comprido que xingamento de gago”: “curto que nem coice de porco”; “perdido que nem cachorro caído da mudança”; “sem graça que nem pitada ao vento”; “desligado que nem rádio de surdo”; “baixo que nem vôo de marreca choca”; “se virando que nem lacraia em cinza quente; “liso que nem pau de barraca”; “feio que nem tigre virado ao avesso”; “escondido que nem agulha em palheiro”; “apertado que nem rato em guampa acossado pelo gato”; “… mais perigosa que maionese de boteco”; “… mais incômodo que indigestão de torresmo”; “… mais grossa que a voz da Maria Alcina”; “… mais grosso que dedo destroncado”; “… mais sujo que penico de bêbado”; “… mais inútil que pente de careca”; “… tem mais estórias que lençol de motel”; “ …magro que nem um macarrão equilibrado”; “ … mais solto do que peido em bombacha!”; ” … mais abandonado do que pijama em lua-de-mel!”

Quem desejar enviar colaborações acrescentativas, não deve passar a oportunidade. O João Silvino da Conceição penhoradamente agradecerá.
PS. Feliz 2011 para todos!! E vamos que vamos que aí vem muito Frevo!!!

(Publicada em 07.01.2011, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves