PERNAMBUCO, A CHINA DO BRASIL


Na semana passada participei de um seminário acontecido sob a batuta do Paulo Dutra, Secretário-Executivo de Educação Profissional da Secretaria de Educação de Pernambuco. Intitulado Perspectivas de Educação Profissional em Pernambuco, o evento transcorreu num clima contagiante, sob a reflexão do saudoso educador Paulo Freire: “A Educação Profissional detém o maior dos poderes – o poder de transformar”. O único poder capaz de reduzir drasticamente a assimetria escandalosa entre o poder do capital e o poder do trabalho.

Na atual gestão governamental se faz presente um histórico posicionamento estratégico, o da implementação de uma Educação Profissional e Tecnológica como ferramenta parceira na consolidação de uma política educacional pública que favoreça a superação dos atuais índices sociais, econômicos e culturais estaduais. Uma determinação que se tornou prioritária graças à sensibilidade aguçada do governador Eduardo Campos, ampliada quando da sua passagem pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, no primeiro mandato do presidente Lula.

Os dados quantitativos mostram que Pernambuco se encontra num patamar de crescimento acima da média nacional, sendo considerado seu maior desafio o de preparar mão-de-obra qualificada para os amanhãs que já se instalam entre nós, oferecendo oportunidades educativas que recomponham trajetórias escolares, favorecendo inclusões sociais emancipatórias, aquelas que possibilitam a construção de “inéditos viáveis” nas diversas regiões do estado.

Na área da Educação Profissional e Tecnológica, um livro 2010 da Artmed, organizado pela educadora Jaqueline Moll, especialista do Ministério da Educação, deveria ser basilar nas capacitações dos que exercem funções técnico-administrativas e pedagógicas em EPT. No primeiro ensaio de Educação Profissional e Tecnológica no Brasil Contemporâneo – Desafios, Tensões e Possibilidades, o professor Gaudêncio Frigotto ressalta: “um dos equívocos mais recorrentes nas análises da educação no Brasil, em todos os seus níveis e modalidades, tem sido o de tratá-la em si mesma e não como constituída e constituinte de um projeto, situado em uma sociedade cindida em classes e grupos sociais desiguais e com marcas históricas características.” Duas delas: o Brasil foi a última nação do mundo em abolir a escravidão e ainda é uma das últimas nações situadas no quesito distribuição de renda.

No evento, todos os participantes assimilaram um balizador histórico: o egresso da EPT deve ser possuidor de uma aguçada visão de bailarino: conhecer bem suas tarefas profissionais, acompanhar atentamente o que está acontecendo no seu derredor e planejar com enxergância seu caminhar capacitacional, sabendo binoculizar os amanhãs evolucionários. Para não apenas “adestrar as mãos e aguçar os olhos”, na expressão de um pequeno grande analista sardo.

Ofereço, abaixo, algumas sugestões ao atuante secretário Nilton da Mota Silveira Filho, da Educação. Que poderão contribuir para o caminhar de Pernambuco na consolidação da classificação de Pernambco como A China do Brasil, face os percentuais estaduais de desenvolvimento, atualmente superiores à média nacional. Ei-las:

– Favorecer a oferta de EPT articulada com o ensino médio, buscando implementar – a sugestão é do professor Antônio Carlos Maranhão de Aguiar, diretor do SENAI – um PROTEC, Programa Estadual de Ensino Técnico, inspirado, sob ajustes, no PROUNI do MEC.
– Promover sistemáticas reuniões conclusivas, SE, CEE-PE, SENAI, ITEP, Porto Digital, IFET e secretarias afins, para analisar e debater sobre desburocratizações, exigências processuais, equipes de avaliação, estratégias programáticas conjuntas, atualização de cursos e currículos municipais, Ensino a Distância, novas tecnologias e eventos, além das contribuições emulativas para o fortalecimento do Ensino Fundamental.
– Formação continuada de professores, gestores e técnicos envolvidos na EPT, socializando o conhecimento de novos procedimentos didático-gerenciais através de sites especializados.
– Evitar superposições ou ausências de atendimento nas regiões do Estado, através de articulações múltiplas intercomplementares.
– Fortalecer articulações que assegurem agilidade no repasse dos recursos do MEC para a manutenção física e de reposição continuada de equipamentos da EPT.
– Implementar ou ampliar as bibliotecas técnicas e de cultura geral, inspirando-se na de Manguinhos, no Rio de Janeiro.
– Incrementar fiscalização continuada na acessibilidade dos portadores de necessidades especiais, muitas vezes ausente nos relatórios de avaliação.
– Ampliar o peso da EPT pública no Estado, também consolidando ações supervisoras sobre a oferta privada de EPT.
– Redobrar as atenção sobre as condições previstas no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos, evitando o resvalo da EPT para ontens inúteis, onde apenas se estará “modernizando o arcaico”.
– Ampliar análises e levantamentos sobre necessidades de atualização de Bibliotecas e Laboratórios de Informática, bem como os equipamentos específicos para cada curso.
– Implementar, tão logo iniciado o próximo quatriênio, uma Assessoria Técnica de Ensino Profissional e Tecnológico – ATEPT, na SE ou num CEE-PE fortalecido, favorecendo atividades de orientação, experimentação de iniciativas pioneiras, supervisionamento do executado sobre o planejado, além de continuado apoio às iniciativas municipais.

Radiografar bem a situação é o primeiro passo para fazer erradicar as deficiências. Para isso, necessitamos de novos modos de pensar problemas e amanhãs. A teoria da perfeição nunca existiu e os paradoxos são inevitáveis. Quanto mais turbulenta a época, mais complexos serão o mundo e seus desafios, a exigir criatividade e determinação de mudar. No mais, é só continuar caminhando com a vontade política de fazer acontecer, beneficiando todos os segmentos pernambucanos.

PS. Viva a Espanha de Miguel de Unamuno!!

(Portal da Revista ALGOMAIS, 12/07/2010, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves