PERERECA, CACHAÇA E PONTO G


O presidente Lula ofereceu à mídia, mais uma vez, num palanque de inauguração de obras de uma barragem em Goiás, uma demonstração inequívoca de que domina com maestria um ainda muito pouco compreendido pelos academizados JBC – Jeitão Básico de Comunicação, método personalíssimo que o faz distanciar-se quilômetros daquele semblante medonhamente enfadado do governador paulista José Serra, que se torna ainda mais drácula quando se posiciona para fotos ao lado da Madonna, aquela espevitada senhora que buscava arrancar uns trocados dele para algumas das suas empreitadas, tornadas ainda mais quase-milagrosas com os amassos do seu Jesus.

O presidente Lula se encontra numa fase esplendorosa, tentando levar adiante a candidatura da tremendamente cavilosa ministra Dilma, uma tarefa muito facilitada pelas trocentas estratégias abiloladas da ala oposicionista, mais voltada para posturas pitibulescas, sem posicionamentos cativantes ou convincentes.

Num auditório repleto de correligionários, curiosos, xeleléus e admiradores, o presidente Lula demonstrou gigantesca familiaridade com três assuntos hoje fortemente interrelacionados: perereca, cachaça e ponto G. Ele percebeu logo de entrada que o auditório se encontrava bastante afinado com tais assuntos e mandou ver, pouco se lixando para os atropelos cardiológicos.

A ala feminina, em bom número presente, não desconhecia o poder das pererecas brasileiras, principalmente àquelas que possuíam o ponto G em íntima conexão com as circunstâncias sedutoras, aquelas que inclusive deixam de pé até as cabeças dos marinheiros de primeira viagem ainda não juventude de mesmo.

A parte masculina não se fazia também de rogada, discutindo as principais características de uma cachaça de boa qualidade, daquelas existentes nas Minas Gerais, vez por outra enviada pelo Bellini, meu querido sogro, um maçon de alto prestigio nas alterosas, admirador do Aécio Neves, do Atlético Mineiro e de um insuperável queijo de minas, daquele tipo que desce macio goela abaixo, todo feliz até na porta de saída do percurso intestinal.

O presidente Lula, inteirado das novidades, dissertou bem sobre os G’s do mundo contemporâneo. O G4, o G3, o G9 e o G18, para não falar, aqui e agora, no G de Getúlio, aquele presidente que ficou no segundo lugar, logo abaixo dele, Lulinha Paz-e-Amor, e na G20, aquela tampinha raríssima de refrigerante que pagava um prêmio milionário aos consumidores de uma determinada laranjada. Só não foi lembrada a G23, aquela gata pernambucana de tremer bunda, sempre sorrisos, volta e meia desfilando entre as “otoridades” federais, para deslumbramentos até dos possuidores de maranhões aposentados.

Em relação às pererecas, o presidente está por dentro delas desde os seus tempos de sindicalista ativo no ABC paulista. Tempos que já não retornam, onde por perereca era também chamado aquele antigo instrumento de tortura, que maltratou muitos indefesos, deixando-os num amedrontamento pra mijadeiro algum suportar. E onde perereca também significava, segundo os dicionários especializados, aquela pistola de carregar pela boca, ou aquele radinho de pilha ou ainda aquela parte feminina que inspirou o título de um dos mais apreciados vinhos lusitanos, o Periquita. De sabor consagrado desde Eva, a merecedora primeira da denominação, para gáudio de um Adão de garrucha sempre à disposição do seu derredor único, posto que o resto era macaco e o Darwin ainda não tinha revelado a consanguinidade existente entre as periquitas existentes no Éden.

Não perdeu o presidente, em sua fala eivada de JBC – Jeitão Brasileiro de Comunicação, a oportunidade de mencionar um outro G, o de gatuno. Principalmente quando acoplado a um outro, tornando-se GG – Governador Gatuno, do tipo Arruda, aquele campeão de mil e uma safadezas, que se encontra trancafiado numa sala (cela) da Polícia Federal do Distrito Federal, de onde se espera sua liberação, antes do julgamento final, para depois do Natal, amplamente dedetizado. E de não contemporizar com o G de grileiros, que infestam o país de cabo a rabo, infelicitando milhões de famílias que buscam terra para trabalhar com cidadania redobrada.

No Recife, no sábado de Zé Pereira, só se falava num carnavalesco G, de Galo da Madrugada. Este ano representado por uma armação desengonçada, que mais parecia um pinto estropiado, clamando aos céus para não ser fotografado.

(ALGOMAIS, 15/02/2010, Recife – Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves