PENSAR PARA SABER VIVER


Um fato, ocorrido anos atrás, me deixou com uma vontade imensa de ver disseminado pelas nossas escolas brasileiras, nas suas últimas séries do Ensino Fundamental. O acontecido foi o seguinte: numa viagem de férias com seus rebentos, pais propuseram a um professor de Filosofia que ministrasse um Curso de Filosofia, descomplicadamente ou eruditês, tampouco palavras complicadas. A excursão foi um sucesso, o prazer tornando-se imbricado com uma melhoria do saber do grupo, favorecendo uma convivialidade pra lá de ótima.

Concluído o passeio inesquecível, propuseram ao professor que transformasse em livro os rascunhos expostos, posto que nas livraria nada existia de equivalente. O resultado foi o livro Aprenda a viver – filosofia para novos tempos, de Luc Ferry, RJ, Objetiva, 2ª. ed. em 2010, 240 p. Um sucesso editorial que precisaria ser difundido nas escolas brasileiras, públicas e particulares, ministrado por pessoal animador bem capacitado, objetivando favorecer o entendimento sobre as grandes questões que marcaram a história do pensamento mundial, sem obscuridades nem academicismos, servindo de ponto de partida para leituras reflexivas mais densas, a favorecer um pensar construído através de um universo de ideias que alicerçassem um caminhar pessoal/profissional compatível com os desafios contemporâneos.

Seu autor, Luc Ferry, foi Ministro da Educação da França, que escreveu o livro voltado para um público não especialista, sempre em busca de um alicerce que favoreça um desabrochar intelectual compatível com as atuais “pedras do caminho” que impossibilitam um caminhar racional, profundamente iluminador, sem ilusionismos nem constrangimentos impostos por dogmas de todas as vertentes.

O livro está dividido em seis capítulos: 1. O que é a filosofia?; 2. Um exemplo de filosofia antiga. O amor à sabedoria segundo os estoicos; 3.A vitória do cristianismo sobre a filosofia grega; 4. O humanismo ou o nascimento da filosofia moderna; 5. A pós-modernidade. O caso Nietzsche; 6. Depois da desconstrução. A filosofia contemporânea.

O Luc Ferry, um não-materialista, escrevendo um livro com seu dileto amigo André Comte-Sponville, materialista, revela: hoje, “graça a André, compreendi a grandeza do estoicismo, do budismo, do spinozismo, de todas as filosofia que nos convidam a ‘esperar um pouco menos e amar um pouco mais’. E compreendi também o quanto o peso do passado e do futuro estraga o gosto do presente e até gostei mais de Nietzsche e de sua doutrina da inocência do devir. Nem por isso me tornei materialista, mas não posso mais dispensar o materialismo para descrever e pensar algumas experiências humanas. Em sumo, acredito ter alargado o horizonte que era o meu até algum tempo atrás”.

Para os que estão no Ensino Médio, concluído o livro do Ferry, recomendo também um outro livro bastante esclarecedor, repleto de contemporaneidade: Filosofia – Construindo o Pensar, volume único, Doris Incontro/Alessandro Cesar Bigheto, 3ª. ed., SP, Escala Educacional, 2010, 424 p. O objetivo principal dos autores é “incentivar a construção do pensamento do leitor, a partir de um diálogo não só com grandes filósofos, mas também com artistas, cientistas, religiosos, teóricos sociais e outros. O livro é composto de três partes: Filosofando, composta de 12 capítulos temáticos; Pequena história da Filosofia Ocidental; Dicionário de filósofos, com uma breve referência biográfica de 133 filósofos. Os capítulos temáticos são os seguintes: 1. Filosofia, o que é? Como, porque e para quê?; 2. Ser ou não ser? Eis a questão!; 3. Deus, uma dúvida, uma certeza ou uma negação?; 4. Temos certeza do que sabemos?; 5. Santos e vilões: o bem e o mal existem?; 6. O ser humano: projeto e condição; 7. Se eu vivo, logo existo?; 8. Se morro, logo não sou?; 9. O poder: um mal necessário?; 10. Quem quer um mundo diferente? 11. Por uma Filosofia do diálogo; 12. Amor, coisa do corpo ou da alma?

Os autores alertam os mais desavisados: A Filosofia não é um conhecimento como a Matemática, exato, preciso, indiscutível; trata-se de um conhecimento interpretativo. E concluem que é muito mais honesto declinar nossa visão que nos vestir de ares de uma neutralidade impossível.

Os dois livros acima, para os que se sentem ainda semi-analfabéticos que nem eu, seguramente proporcionarão “uma conclusão benéfica: toda filosofia resume em pensamentos uma experiência fundamental da humanidade, como toda grande obra artística ou literária traduz os possíveis das atitudes humanas nas formas mais sensíveis”.

Ler Filosofia é cidadanizar-se mais solidariamente com um mundo que está a carecer de muito mais humanismo e muito menos fome.

PS. Para quem deseja ampliar sua enxergância e suas convicções ideacionais, recomendo um texto profundamente desabestalhador: Como Pensar sobre Grandes Ideias, Mortimer J. Adler, São Paulo, É Realizações, 2013, 574 p. Uma leitura muito sedutora que nos orienta sobre um monte de coisas que estão obscurecendo a mente de comunidades inteiras, que ignoram como pensar civilizadamente, inclusive sobre o Amor, a Liberdade, a Justiça, o Trabalho, sobre Democracia e o Progredir, sabendo bem diferenciar entre Lazer e Diversão.

(Publicado em 30.04.2018 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves