PENSAR DIFERENTE


Na Fliporto 2013, extraordinário evento acontecido na Praça do Carmo, em Olinda, onde, no concorrido estande da Bagaço, recebi gente muito amada para o lançamento do livro Reflexões de Caminhante, seleção de crônicas publicadas no Jornal do Commercio, com a apresentação do amigo escritor Marcos Vinícios Vilaça , ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, e “orelhas” de autoria do jornalista Ayrton Maciel, uma admiração de longa data.

Conversando com o papa Berto, criador e incentivador do aplaudido site Jornal da Besta Fubana, onde colaboro sempre às segundas-feiras, fui despertado por ele para uma necessidade que se faz indispensável para os anos futuros: a dos jovens pensarem diferente, saindo das desbolorentas lições apreendidas nos anos de formação acadêmica, nos debates políticos, nos cultos religiosos e nas redes televisivas, onde uma propaganda sensaborana costuma hipnotizar os mais abobados, principalmente nas cheganças das comemorações festivas, onde o décimo terceiro procura ser arrancado dos bolsos dos mais necessitados.

Tornando-me mais antenado diante das propagandas televisivas, algumas kafkanianas por derradeiro, procurei uma indicação que favorecesse a juventude e os universitários recém aprovados para centro acadêmicos e faculdades não embromatórias, tampouco ilusionistas, aquelas que prometem mundos e fundos, deixando o formado, no dia da graduação, com a sensação incômoda de ter ficado “desaprofundado”, sentindo-se “merda em fatia”, como dizia um notável professor meu de física do Curso Pernambucano, já eternizado.

Finalmente, depois de consultas várias, incomodando docentes e consultores em desenvolvimento profissional, encontrei uma excelente indicação: Steve Jobs para jovens: o homem que pensava diferente, Novo Século, 2012, biografia escrita por Karen Blumenthal, uma escritora aclamada pela crítica por escrever livros de não ficção para jovens.

Para quem não conhece Steve Jobs, ele foi entregue para adoção ao nascer, largou a faculdade ainda no primeiro semestre e aos vinte anos fundou a Apple na garagem de seus pais, com seu amigo Steve Wozniak. Logo depois de seu sucesso, Jobs foi despedido da sua própria empresa, sendo obrigado a recomeçar com mais criatividade ainda. Considerado, hoje, um homem que mudou o mundo e suas comunicações.

No livro, o que deveria ser ressaltado nas unidades de ensino superior é o discurso de paraninfo proferido, em 12 de junho de 2005, para os concluintes da Universidade de Stanford, uma das mais excelentes universidades do mundo. Onde ele fez algumas preciosas recomendações:

a. “Quando abandonei a faculdade, uma das melhores decisões que tomei na vida, pude parar de assistir às disciplinas obrigatórias que não me interessavam e comecei a assistir às que pareciam ser realmente interessantes. Nem tudo foi uma maravilha. Eu não tinha direito a um dormitório, então dormia no chão do quarto dos meus amigos. Eu devolvia garrafas de Coca-Cola aos depósitos por cinco centavos para poder comprar comida, e toda noite de domingo eu andava sete milhas através da cidade para uma boa refeição no templo Hare Krishna. E eu amava aquilo.”

b. “Você não pode conectar os pontos olhando adiante, você só pode fazê-lo olhando para trás.”

c. “Encontrei o que amava fazer bem cedo na minha vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem da casa dos meus pais quando eu tinha vinte anos. Trabalhamos duro, e em dez anos a Apple cresceu de nós dois, dentro de uma garagem, para uma companhia de 2 bilhões de dólares, com mais de 4 mil empregados.”

d. Não perca a fé. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama.

e. Seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de outra pessoa. Não caiam na armadilha do dogma, que significa viver de acordo com o fruto do pensamento dos outros.

f. E o mais importante: tenham coragem de seguir seu coração e sua intuição. Tudo o mais é secundário.

g. Continuem famintos. Continuem tolos.

Percebe-se , sem qualquer esforço, que a sociedade brasileira, hoje cambaleante entre uma expressividade comodista e uma politização impotente, necessita revigorar-se, como alicerce, para uma nova edificação estrutural, a chicotada do australiano Robert Hughes, consagrado crítico de artes da revista Time, sendo mais que oportuna: ” A velha divisão de direita e esquerda acabou se assemelhando mais a duas seitas puritanas, uma lamentosamente conservadora, a outra posando de revolucionária mas usando a lamentação acadêmica como maneira de fugir ao comprometimento no mundo real “.

As lições transmitidas pela biografia de Steve Jobs seguramente alicerçarão comportamentos criativos múltiplos, a desguetificação dos hit-executivos, desestabilizando-os para a edificação de novos paradigmas direcionais, sempre a partir de uma lição milenar: “Quem tem um mapa mais rico, se orienta melhor no mundo. Quem tem mapa limitado fica mais frequentemente enrolado”.

Steve Jobs seguramente conhecia bem as orientações ministradas pelo Carlos Castañeda: “Um caminho é só um caminho, e não há desrespeito a si ou aos outros em abandoná-lo, se é isto que o coração nos diz… Um caminho é só um caminho …”. Traduzindo em miúdo o pensar de Castañeda: “Se você fizer o que sempre fez, vai ter o resultado que sempre teve”.

Saibamos fazer um Pernambuco diferente, sem os olhos voltados para um honrado ontem histórico que já se foi, num hoje/amanhã sem os dualismos ideológicos idióticos que apenas entusiasmam os clientes de botequim.

(Publicada em 03.02.2014, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves